Insônia

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O relógio na parede dizia que eram 4:44 da manhã.

Sarah estava deitada na cama, olhando para o teto com a visão desfocada. Imaginando.

Não havia conseguido dormir, mas isso já estava virando praticamente um hábito. A insônia era como uma amiga. Nos últimos tempos, Sarah só conseguia dormir quando o sono a vencia.

Houvera um tempo em que aquela cama era quase como um refúgio. Perfeitamente confortável, os lençóis luxuosos praticamente abraçavam o corpo de Sarah, de forma que ela se sentia plenamente acolhida. Pronta para uma noite de sono restaurador. Hoje em dia, Sarah fica rolando pela cama excessivamente macia e gelada, se sentindo pequena demais em meio aos lençóis.

Mas essa noite foi diferente. A insônia apareceu, claro, mas a mente de Sarah estava em outro universo. Ela sentia vontade de fazer uma viagem. Ficar distante daquilo tudo iria, talvez, acalmar os ânimos dentro dela. Sarah se sentia mal dentro da própria casa. Sentia-se mal por não poder andar por nenhum cômodo sem lembrar da ausência de Carina.

O que os olhos não veem, o coração não sente. Isso era algo que Sarah sempre pensava. Não dá para querer se curar de algo que você fica o tempo inteiro remoendo. Poucos dias atrás, a ideia de se mudar passou pela mente de Sarah. Mas logo ela pensou que não teria coragem de se desfazer da casa, muito menos dos móveis.

Passar um tempo longe parecia a melhor ideia.

Ela tinha alguns destinos em mente, lugares em que ela já havia ido outras vezes. Mas lembrava-se que estava buscando por algo novo. Não por algo que fosse familiar, confortável. Ela queria quase que se desafiar. Queria ir além do que conhecia.

Sarah não era muito fã de viagens longas, pois se sentia mal dentro de aviões. Ela tinha um certo medo de altura, que juntava-se com a sensação claustrofóbica de estar, basicamente, dentro de uma caixa, com várias outras pessoas, sem poder sair. Mas ela tinha esgotado os países que poderia ir sem ter que se passar horas voando. Justamente por esse motivo, ela havia viajado apenas para países próximos.

Havia ido uma vez ao Canadá, só por diversão, numa viagem de final de semana. Ela também já foi ao México passar as primeiras férias da vida. Em seu aniversário de 23 anos, Sarah ganhou de presente da amiga uma viagem para o Chile, onde elas fizeram uma excursão pelo deserto do Atacama. Roma foi seu último destino, onde ela foi acompanhando Carina. Doze longas horas de vôo, que foi quase o tempo em que ela dormiu após se entupir de Dramin na sala de embarque.

Voltando para o momento presente, Sarah levantou da cama, foi até a varanda do quarto e viu a lua quase cheia de antes, que agora havia ganhado uma coloração amarelada, pois estava baixa, quase atravessando o horizonte. Sarah andou de um lado para o outro no quarto, pensando em algum destino que fosse distante o suficiente para que ela sentisse quase como se tivesse trocado de realidade paralela. Ela queria distância de tudo que era familiar.

— Quero ir lá para o do outro lado do mundo. — Sarah falou sozinha enquanto andava, mas parou ao ter um insight. — Do outro lado do mundo. — sussurrou.

Ir para o outro lado do mundo, tipo no Japão?

— Será? — falou sozinha.

O Japão era, definitivamente, um lugar que cumpria todos os requisitos que Sarah tinha para sua viagem. Era muito longe de tudo. Era quase como um mundo novo. Era totalmente não-familiar.

Indo em direção a sua escrivaninha, Sarah puxou a cadeira, sentou-se em frente ao computador. Olhando para a tela acesa, ela pensou que precisaria de um tempo fora. Essa não seria uma viagem rápida. Talvez precisasse de um mês, no mínimo.

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