Nostálgica

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Sarah ficou olhando para a mensagem de Gus em seu celular, sem ter certeza se responderia. Ficou pensando no que diria, queria ser cuidadosa com as palavras. Não queria que ele ficasse do outro lado daquela telinha pensando que a havia atingido tão fortemente a ponto dela guardá-lo consigo por todos esses anos. Não queria dar a ele esse gostinho. Por fim, Sarah resolveu responder:

"Não entendi uma palavra. Numero errado."

"Lol. Me desculpe."

Ela esperava nunca mais ter nenhum contato com ele. Quem não tem palavra, não serve para andar com ela.

Sarah foi caminhando lentamente até a área externa de sua casa. Ela se sentia muito bem naquele espaço. O jardim era amplo, mas aconchegante. Rodeado por pinheiros do deserto e algumas outras árvores nativas da região, que faziam com que Sarah não conseguisse ter a visão de nenhuma outra casa vizinha. Havia uma piscina curva circundada por um gramado perfeitamente verde e fofo, que dava vontade de se deitar nele. Sarah sempre se deitava nele.

Durante a noite, a piscina ficava iluminada por lâmpadas brancas, o que dava um aspecto ainda mais bonito ao jardim. Por conta do clima frio de final de inverno, a piscina estava aquecida e uma leve camada de vapor saía dela, sendo exaltada pelas luzes. Isso trazia ao lugar uma aura quase que mística. Carina, melhor amiga de Sarah, sempre dizia que aquele jardim se parecia com um bosque das fadas.

— Nós somos essas fadas! — Sarah respondia rindo enquanto ela e a amiga nadavam nuas. Livres e se sentindo absurdamente leves, as duas passavam muito tempo naquele jardim. Carina parecia ser a única pessoa que embarcava em todas as loucuras de Sarah, inclusive entrar na piscina pelada para olhar as estrelas, independente do clima lá fora. A maior loucura que Carina já fizera foi entrar em um vôo de Roma para Los Angeles, há oito anos atrás.

*

Aos dezoito anos, Carina disse aos pais que queria entrar numa universidade fora do país. Ela queria estudar cinema. Os pais dela ficaram um pouco decepcionados. Eram pessoas antigas e não entendiam como a filha poderia ser uma figura de sucesso profissional escolhendo uma carreira instável como aquela, mas a apoiaram, no final das contas. Eram uma família muito unida e Carina era sua única filha. Se não apoiassem a ela, a quem mais poderiam apoiar?

Poucos meses depois de informar aos pais sua decisão, Carina estava dentro de um avião para a cidade de Los Angeles, com um cartão de crédito em sua carteira, cuja fatura ia direto para o email dos pais, um apartamento lindo à sua espera no centro da cidade, um carro na garagem e uma matrícula na University of Southern California. Ela se sentia radiante. Mal poderia esperar por todos os amigos que faria e por todas as experiências que viveria.

A conexão de Carina com os colegas de sala foi quase instantânea. Eles a receberam bem, pois naquela universidade já era como uma tradição se enturmar com os colegas do intercâmbio. Afinal, eles sempre contavam as melhores histórias. As alunas do intercâmbio também eram as mais desejadas de todo o campus. Alguns caras das fraternidades conseguiam até arrumar fotos das meninas que chegariam naquele ano. O nome de Carina Rivah já era citado no recinto antes mesmo de que seu avião pousasse.

— As italianas são gostosas pra caralho! — disse Ash, presidente da fraternidade ATLAS.

— E olha esses peitões! Puta merda! — respondeu Chad. — E eu ouvi falar que elas são doidas por pau. — e todos os garotos presentes riram em volta da mesa com as fotos das calouras em cima, enquanto bebiam cerveja e fumavam seus baseados terrivelmente apertados.

Poucas semanas após sua chegada, Carina estava vivendo! A cada dia que passava, ela se sentia mais a vontade.

Naquele lugar ela não era a princesa da casa. Era apenas mais uma das garotas bonitas e estilosas da Califórnia. Existiam milhares de princesas ali. A cada semana, Carina saía para um lugar diferente, acompanhada por amigas diferentes e sempre com um cara diferente do lado. Meus chaveirinhos, como ela mesma dizia para as amigas. A cada experiência, Carina fazia uma nova conexão. Aos poucos ela foi acumulando uma quantidade significativa de seguidores no Instagram. Lá ela gostava de postar suas fotos sexies e suas fotos artísticas.

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