Capítulo 01

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   A igreja estaria quase vazia,caso os familiares de Alicia não estivessem ali. Seus pais, avós e três tias com seus respectivos maridos e filhos estavam eufóricos e parecendo extremamente felizes. E sorriram em minha direção desde o primeiro momento em que pus os pés no altar. Meu estômago se enchia de uma ansiedade elétrica, e  congelei ao ouvir a marcha matrimonial soar pelo piano que estava ao escanteio do local.  Meus olhos correram até a entrada, e o ar fugiu dos meus pulmões de forma abrupta. Fui pego de surpresa, afinal as noivas geralmente demoravam em sua entrada, mas não havia se passado nem seis minutos desde que eu mesmo tinha entrado e a esperava. 

Ela estava perfeita.

Os cabelos longos e ondulados presos em um penteado, as mechas ruivas e leves que caiam dele propositalmente. O vestido branco e simples, sem rendas, apenas pérolas e as mãos delicadas que carregavam uma única rosa. Tudo nela, parecia perfeito. A não ser pelo véu fino que cobria seu rosto, e mesmo que pudesse reconhecer sombras de suas feições, não a via por completo. Segurei o impulso de arranca-lo logo dali assim que ela se pôs a minha frente. Sr.Benett sorriu em saudação e pôs uma das mãos dela sobre a minha, enquanto pegava a rosa das mãos dela com delicadeza. Sua mão era delicada, quente e tremia um pouco. Parecia beirar a um congelamento,já que ela não havia mexido nem sequer um milímetro desde que tinha pousado sobre minha palma.

Com meu polegar  a acariciei de leve, receoso, mas em tentativa de acalma-la um pouco. Levantei meu olhar de sua mão,para o rosto coberto a minha frente. Sorrindo sem jeito,e controlando minha respiração para que meu suspiro não fosse audível demais.

Tive a impressão de que os músculos de sua mão relaxaram um pouco,mas não tive certeza se de fato tinha acontecido.

Não ouvi mais nada depois daquilo, depois de ter tocado nela pela primeira vez. Tudo ao redor soava em volume mínimo em minha audição, soava semelhante aos sons que viriam do lado de fora de uma bolha. Podia ouvir o padre proferir as saudações,iniciais e chamar meu nome para que proferisse os votos. O fiz de automático,tendo decorado cada palavra,em transe e ansiedade extrema para vê-la logo, e de repente nada me parecia mais importante do que aquilo.

Casar-me com ela.

Vê-la finalmente.

Minha mente nublou mais uma vez,mesmo que os votos estivessem sendo proferidos por mim mesmo, e as alianças sendo postas. Um arrepio me percorreu a espinha quando senti suas mãos se ocupando em por a aliança em meu dedo. Mas minha audição só  voltou ao normal,quando ela proferiu uma única  palavra,com uma voz doce e tão baixa que beirava a não ser ouvida.

- Aceito.

- Pode beijar a noiva.

Proferiu o padre.

Levei minhas mãos até o tecido fino, levantando-o até que não estivesse mais no caminho. Meus lábios se entre abriram ao vê-la ruborizando evidentemente.

Um beijo.

Tinha me esquecido completamente desta parte.

E de repente, um aperto amargo chegou ao meu peito, em ter de fazer isso sem ao menos ter falado com ela como deveria. Sem ao menos ter tido a chance de explicar a ela. Congelei,procurando em seus olhos uma resposta, e o que ela desejava. Os olhos castanhos miraram os bancos, as pessoas nos assistindo ansiosas. E em segundos,tornou a fitar meus olhos fixamente. Suspirou contida, e assentiu levemente usando um manejo de cabeça.

Faça.

Pude ler em seus olhos, a urgência transbordando das íris amadeiradas. Hesitei, tentando ao máximo ter a plena certeza de que deveria beija-la. Mas pude sentir um leve aperto em uma  de minhas mãos,que estavam atadas as dela. E um mesmo manejo de cabeça da sua parte. Então me aproximei, não sabendo ao certo onde por minhas mãos que já haviam se desocupado do véu fino. Mas pus uma das  mãos  no rosto corado, e aproximei nossos lábios em um beijo leve. O mais leve e delicado que pude, de forma que beirasse imperceptível para ela. Meu rosto queimava, e senti uma pontada enorme de satisfação naquilo, mas me policiei por completo e me impedi de me deleitar com o ato.  Já que não tínhamos tido uma conversa real.

Um genuíno cavalheiroOnde histórias criam vida. Descubra agora