CAPÍTULO ÚNICO

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Seu pé batuca o chão num ritmo acelerado, as garras se apertam contra os braços cruzados, quase que o perfurando com tamanha força e Langa tenta fazê-lo parar antes que se machuque, mas o híbrido de gato cerra os olhos em sua direção e vira o rosto contorcido de raiva para longe do namorado, é assim que o canadense, Langa Hasegawa, descobre que está encrencado.

Um alerta soa em sua mente, "Algo aconteceu!", o mais velho tem sorte por ter um gatinho que lhe é tão transparente, porque nunca reconhece que algo está errado, é vergonhoso, mas ele tem que confessar que soa muito bobo por não perceber sozinho. Então Reki Kyan lhe diz, sem dizer realmente, somente com o seu comportamento enraivecido, que algo definitivamente aconteceu.

Ambos acabam de chegar em casa após ir ao mercado, parados em pé na sala escura, as sacolas de compras caem e ficam jogadas ao lado dos pés descalços do híbrido, Langa pode ver meramente o seu corpo miúdo graças a tênue iluminação lunar que os invade pela varanda aberta.

Porém, mesmo que agora ele entenda que o outro esteja irritado, ainda não sabe dizer o porquê, Hasegawa se lembra de cada segundinho do domingo preguiçoso que tiveram hoje e nada lhe parece errado. O caminho que levam de skate até a praia, suas calças dobradas acima dos tornozelos, a água cristalina brilhando sob o céu claro. A absoluta paz e limpidez que sentem ao fechar os olhos, entrelaçar as mãos e ouvir os murmúrios da natureza debaixo da sombra de uma árvore. Para ele, o dia não tinha como ser melhor, estar ao lado do ruivo é tudo o que ele precisa para sentir o seu coração se preencher de ternura e bem-querer. Reki Kyan é o seu melhor amigo e também o seu maior amor.

— Reki? — ele chama, mas o gatinho apenas infla as suas bochechas rosadas e suspira pesadamente, ainda sem o olhar, ele parece estar tentando se controlar. — Não vai olhar para mim? — decide colocar as sacolas que estão em suas mãos sobre a retangular mesa pequena repousada ao lado, caminhando em seguida para mais perto do namorado, Reki sente a aproximação e rosna como um aviso para que o outro não continue.

— Não! Me deixe sozinho! — ordena com a voz embargada, de um jeito que é difícil para Langa não querer pegá-lo no colo e cuidá-lo, mesmo que ele arranhe todo o seu rosto.

— Me diz o que houve — o canadense pede mas o outro não lhe escuta, o ruído de ondas se quebrando ao longe é o único som que ecoa.

As cortinas da varanda se movem livremente, hoje à tarde o tempo se manteve num clima agradável e suave, mas agora, já depois do entardecer, quando a temperatura diminuiu consideravelmente, correntes de ar frio entram na casa e Langa sabe que Reki mente quando lhe pede para deixá-lo, porque ele odeia sentir frio e os seus braços, com as mangas do moletom levantadas até os cotovelos, estão todo eriçados.

— Apenas me deixe só... — ele responde finalmente, suas orelhinhas felpudas se curvam para baixo.

Após isso, ele tenta fugir do mais velho, se esgueirando para dentro da cozinha. Inquieto por vê-lo assim, Hasegawa vai atrás do gatinho e o alcança com a sua mão grande, o segurando pelo queixo fino e o fazendo se virar para ele, sem mais opções, Reki apoia o seu corpo na pia, meio desajeitado. O mais velho encara o rosto vermelho o fitando de baixo, molhado por trilhas de lágrimas, os olhos marejados se agitam e ele tenta se desvencilhar, mas acaba apenas por arranhar a mandíbula de Langa. Um filete de sangue escorre e o canadense tenta não ligar muito para isso, no entanto, Reki parece se arrepender profundamente segundos depois.

— Ah, d-desculpa, Langa — assustado, ele puxa as duas mãos em punho para perto do seu peito, eventualmente o mais distante que pode estar do mais velho. — Por favor, não me odeie! Eu sou um péssimo namorado, m-me desculpa!

Uma maré o puxa e ele é levado à força para as profundezas. Sua feição muda completamente, não mais irritado com o mundo, mas irritado e terrivelmente triste consigo mesmo.

PURR! ♡ RENGAOnde histórias criam vida. Descubra agora