Capítulo 11

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A violência faz tiranos, reis de autoridade gentil.

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Harry estava sentado na beira da banheira, olhando fixamente para seus pés. Eram três horas da tarde e ele estava tomando banho.

No início daquela tarde, ele havia degustado uma torta de carne e rim que encontrara na mesa de jantar da sala, delicadamente embrulhada em um filme transparente para manter o calor. Ele engoliu tudo com suco de abóbora e terminou sua refeição gigantesca com uma torta de maçã. Finalmente saciado, ele se apressou em sair da sala onde a presença silenciosa do vampiro o estava deixando desconfortável.

Desde a criação do link, todos os seus marcos foram alterados. A rotina que ele conhecia desde o início do verão nos Dursleys foi quebrada. Ele passava dias inteiros dormindo, em um sono profundo e revigorante, antes de acordar com os membros rígidos e a cabeça pesada. Ele comia em horários totalmente improváveis, era capaz de engolir tanta comida que até Ron teria ficado verde de inveja. O restante do tempo, quando não estava dormindo, nem comendo, passava vagando pelos cômodos sem vida do apartamento, cochilando no sofá ou observando a agitação da praça afundada pela janela hermeticamente fechada. Harry perdeu completamente a noção do tempo. Poderia muito bem ter se passado dois dias ou dois anos desde que ele deixou a Rua dos Alfeneiros.

Harry estava entediado.

Draco não deveria ser contatado para lhe fornecer qualquer distração. O vampiro não era uma boa companhia, ele passava o tempo todo lendo. Jornais de todo o mundo, livros em inglês ou em idiomas que Harry não entendia, revistas sobre assuntos tão difíceis que Harry não entendia metade das palavras do título. Às vezes ele digitava no computador que Harry estava estritamente proibido de se aproximar. Ele nunca falava, a menos que Harry iniciasse a conversa sozinho, o que raramente fazia por medo de entediar o vampiro e ser esnobado.

Na maior parte do tempo, Draco passava ignorando a presença de seu cálice. Harry, por outro lado, respeitou os termos do contrato. Ele não o incomodava por motivos triviais, havia parado de importuná-lo com perguntas e estava tentando disciplinar suas emoções da melhor maneira possível.

Às vezes, quando Harry adormecia, ele sentia mais do que via o vampiro rastejando contra ele na cama. Ele sentia seus braços frios e fortes envolverem seu corpo e o pressionarem contra seu peito firme. Toda vez que Draco se juntava a ele, Harry ficava tenso, apreensivo com qualquer movimento inapropriado ou empreendedor, e prendia a respiração. Porém Draco apenas enterrou o rosto na nuca dele respirando fundo e longamente o cheiro dela. 

Nos braços de seu vampiro, Harry dormiu um sono longo e restaurador, um sono sem pesadelos. Ele não via Voldemort há dias. Harry também não reviveu a queda de Dumbledore da torre novamente. Ele também não tinha mais pesadelos com a Profecia ou com as Horcruxes. Os únicos sentimentos que ele tinha em seu sono era uma impressão completa de conforto e proteção. Depois de tantas noites se sentindo vulnerável, tantos dias tendo que se proteger das ameaças que pairavam sobre ele, finalmente era bom se sentir protegido e, realmente ser protegido.

Quando ele acordava, fosse qualquer hora, Harry poderia dizer instintivamente se o vampiro tinha passado a noite com ele ou não. Quando este era o caso, Harry acordou quase mais cansado do que quando adormeceu. Ele teve dificuldade em sair de seu sono pesado e permaneceu em um estado de sonolência paralisante por longos minutos e ainda por cima, uma violenta sensação de falta apertou seu peito, às vezes tão intensa que ele se sentiu compelido a se levantar para se aconchegar no sofá, ao lado do vampiro. Nesses momentos, ele apreciava o silêncio de Draco, sua falta de comentários, sua indiferença.

Harry se levantou e caminhou até o espelho. Lá, ele rapidamente escovou os dentes, enquanto observava seu reflexo. A última mordida foi há dois dias, e seus lábios estavam vermelhos e cheios. Ele virou a cabeça e passou os dedos sobre as duas marcas vermelhas em seu pescoço. Ao tocá-la, ele não sentiu nada, apenas sua pele macia e quente, ainda úmida do banho que acabara de tomar. Harry começou a examinar essas marcas toda vez que passava na frente de um espelho. Elas invariavelmente chamavam sua atenção, e, ele havia percebido, que a do vampiro também. Eram marcas que ele apreciava apenas moderadamente, porque o lembravam um pouco mais do que ele era todos os dias: um cálice, útil apenas para alimentar um vampiro insaciável. O resto do tempo, ele era apenas um fantasma perturbador no apartamento, que Harry preferia esquecer e ignorar.

Eternidade é o anagrama de um abraço {Drarry} Onde histórias criam vida. Descubra agora