Além do tráfico

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Babi on

Observo a marmita ser posta no meu quarto, todo dia no mesmo horário.

Pelo menos eu não tô apanhando pelo fato do almoço não agradar ele .

PB: você devia comer - nego - você tá muito pálida e perdeu peso.

Que merda esse garoto tá fazendo ? Provavelmente tem câmera aqui

PB: come- ele diz uma última vez antes de sair do quarto.

Eu não consigo comer, a dor tá tirando a minha fome. Não posso tomar analgésico nesse lugar .

Minha rotina nesses últimos dias é basicamente, acordar, ter a primeira crise de choro do dia, arrumar o quarto, encarar as refeições, no final da noite ser o brinquedinho sexual do Flávio e antes de dormir chorar mais um pouco .

É horrível se sentir impotente, eu to voltando a considerar a possibilidade de levar um tiro, parece a opção menos dolorosa no momento.

Hoje é sexta-feira, faz uma semana desde que vim pra essa casa, e o Flávio disse que a gente vai sair daqui na segunda  de manhã .

Sento na cadeira de balanço e abro a marmita, mas nada me dá vontade de comer, como uma ou duas batatinhas só pra ter o que vomitar . Porque eu sei que vou vomitar mais tarde, o toque do Terror me enjoa demais.

Abro o pacotinho de papel e vejo um trufa, encaro intrigada. Seis marmitas de almoço e essa é a primeira que vem um doce .

Mordo a trufa de morgando sentindo o gosto de chocolate se espalhar pela minha boca .

Uma coisa me chama atenção no doce, o pacotinho de papel "Doces&Doces", esse nome parece conhecido.

A porta do quarto é aberta e o Flávio aparece, ele tá obviamente puto.

Bom, ele sempre tá com a cara fechada mas eu aprendi a diferenciar os níveis de irritação dele, afinal são dois anos lidando com ele

Terror: preciso de você lá embaixo, agora mesmo.

Óbvio que acho estranho mas como não tenho escolha me levanto para ir com ele. A gente vai até a sala onde tem três homens, o Mosca, o Dg e o Kauan.

Terror: a gente vai sair daqui na segunda, tenho que resolver umas pendências antes. A principal delas é meter uma bala na cabeça do tal Camilo .

Mordo o interior da bochecha com força e tento não parecer desesperada.  Mas só de pensar nele se machucando já fico nervosa.

Terror: você ficou um bom tempo lá, quero que descreva onde fica cada cômodo da casa e qual a rotina dele .

Babi: eu ... eu não era próxima dele, e eu só ia do quarto pra cozinha - minto na maior cara de pau.

Dg: mas a senhora tava até chamando ele pra cozinhar- eles também entram na casa, ouviram e viram tudo .

Babi: ele gosta de cozinhar, a casa é dele - dou de ombros- não era quem mandava.

Dg: hmm, no tempo que você ficou sozinha não bisbilhotou? Mulher tem mania de ser metida, sabe como é, né ...

Moço no primeiro dia lá até as cuecas dele eu lavei, me chamar de metida não me ofende.

Dg: pelo menos a senha do alarme ele te deu né ?

Babi: acredito que ele tenha trocado, afinal agora eu estou aqui. Seria burrice deixar a mesma.

Dg: bom, dona . Foram quase quatro meses, acredito que pelo menos onde fica cada cômodo a senhora sabe

Kauan: quanto mais preciso menos sujeira faz .

Babi: eu... hmm, só...

Terror: desenha de uma vez - ele me dá o caderno e uma caneta - põe onde fica cada cômodo.

Começo a desenhar

Dg: deve ter sido foda ficar tanto tempo lá, né ? Com um homen estranho

Mosca: é, dizem que ele é um babaca

Olha só, o cara que transa com a irmã da esposa chamando o Victor de babaca, era só o que me faltava.

Dg: babaca também não, pô ele ia fazer pizza pra patroa .

Meu corpo começa a ficar tenso

Dg: uma amizade de leve, né dona ?

Babi: eu não era amiga dele - me apresso a dizer.

Dg: sério ? Eu não ia conseguir morar com um estranho sem ter o mínimo contato com ele.

Isso não vai terminar bem .

Babi: ele é policial, passa muito tempo fora de casa. Quando saia eu ainda tava na cama e quando chegava eu já tava me arrumando para dormir, não queria ser inconveniente.

Dg: entendi.

Olho de canto de olho pro Flávio. Ele tá me encarando todo sério.

Geralmente ele não deixaria uma homen falar comigo por tanto tempo, o problema é que assunto interessou a ele . Ele só não tinha surtado porque tinha muita coisa pra resolver, mas o Dg tocou na ferida dele .

A mulher dele estava em uma casa com um homem desconhecido e ficou 4 meses lá, e tem a porra do chupão que ele viu quando eu cheguei.

Resumindo, Douglas acabou de ativar o modo mais psicopata do Terror .

É óbvio que vai sobrar para mim .