| Capítulo Único

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Essa não é uma história feliz, se você está procurando isso troque de livro.

A história que contarei é triste e este é meu segundo aviso.

Se você continuou lendo até aqui é porque não precisa de um terceiro aviso, não é?

Spoiler: estou morta.

É, bem assim; escrachado, e de quebra te adianto que fui assassinada. Pode parecer estranho você ler algo escrito por uma pessoa morta, mas relaxa, você se acostuma. Onde estou muitas pessoas participam do programa de literatura pós mortem. É legal. Muito melhor do que guiar as almas perdidas na terra que vagam, ainda vivas, em busca da felicidade, que — outro spoiler: não existe. Pelo menos não de forma absoluta, como todas as emoções ela também é passageira.

Os militantes de plantão que saúdam o sol e gritam paz e amor ao vento que me perdoem, mas a humanidade que vocês tanto pregam já deixou de existir há muito tempo.

Ou será que ela nunca existiu?

Eu sei a resposta, mas talvez você nunca saberá. A não ser que eu queira compartilhar isso com você no decorrer dessa história, o que no momento, ainda não tenho certeza.

Bem, por onde começamos? Ah sim! Pelo começo é claro.

Nasci no Brasil. Especificamente em São Paulo, a cidade da garoa, a selva de pedra ou onde a maior concentração de poluentes se instala. Há relatos — ou boatos, de que muita gente que veio do interior desenvolveu problemas respiratórios aqui, mas acredito que sejam só boatos. Iguais aos que rondam o atentado das torres gêmeas. George W. Bush não seria capaz de armar aquilo para pegar a população pela empatia para se candidatar novamente já que seu governo estava enfraquecido né? Claro que não!

A culpa dos problemas respiratórios é coisa da sua cabeça, pura teoria da conspiração, imagina só colocar a culpa no capitalismo dos problemas causados na natureza? Pff!

Voltemos ao foco: 

Bem, depois que eu nasci, obviamente eu cresci e minha infância não foi lá essas coisas

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Bem, depois que eu nasci, obviamente eu cresci e minha infância não foi lá essas coisas. As pessoas me achavam esquisita, ou pelo menos parecia por conta de seus olhares pretensiosos para cima de mim. Eu não via nada de errado, mas elas pareciam ver, principalmente com meu corpo.

Desde jovem, fui inserida numa doutrina completamente estapafúrdia. Aprendi que minha vida seria limitada a aprender cuidar do lar, arrumar um marido para dar um filho para ele, cuidar da casa, etc.; e tudo isso só porque tenho dois seios e um útero. Faz sentido para você? Para mim não.

Eu não via muito problema nisso porque estava conhecendo o mundo, ou seja: brincando de boneca. Não que fosse meu passatempo favorito, mas parecia que todos os brinquedos da minha época eram cópia da doutrina que me era imposta.

Ganhei um bebê que arrotava e pedia para mamar; e uma mamadeira é claro, para eu alimentar a boneca. Depois um fogão e uma geladeira de plástico rosa. Para cozinhar para minha boneca.

Vítima de um assassinato moral  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora