Escolha de sucesso

As surpresas de Cancún não param

O terceiro dia em Cancún começou cedo, não era ainda seis horas da manhã quando despertei dos meus sonhos cheios de segundas intenções com Luís. Não me lembro de tudo o que sonhei, mas sei que ele estava lá e que havia algo a mais entre a gente. Eu tenho que parar de ter esses pensamentos com Luís.

Me levantei e decidi me arrumar logo cedo, apesar da abertura do congresso estar marcada para às nove horas da manhã, eu queria ter tempo para me arrumar. Escolhi minha roupa do dia, para a ocasião escolhi um terninho cinza grafite, camisa feminina branca e a calça da mesma cor do terninho, sapatos de meia pata preto, bolsa tipo maleta e optei por não fazer as ondas características do meu cabelo, mas deixa-lo completamente liso. Segui para o banho.

Me dei ao luxo de encher a banheira e passar um tempo sob a água. Com muita dificuldade resisti ao impulso de pensar em Luís e todas as coisas que vivemos e conversamos nesses longos meses de amizade. Mas meus pensamentos tiveram outro rumo.

Se eu pudesse escolher entre os quatro La Grands, provavelmente eu não escolheria o Luís. Dos quatro, o que mais parecia comigo e o que mais tinha chance de relacionamento era Otávio. Ele era forte, quase inabalável, resistente, esperto, eu não teria que me explicar, me desculpar. Otávio tinhas as mesmas perversões que eu, seríamos um casal intenso, forte, poucas pessoas seriam capazes de combater nossa união, se é que existiria alguma.

No pouco tempo em que conheci Otávio, com a nossa amizade, pude perceber que ele me compreendia, que ele era uma parte de mim que eu nem sabia que havia sido perdida. Porém, não é isso que a realidade apresentava. De alguma forma, em algum momento da minha entrada na La Grand's Corporation até agora, todo o meu ser havia se perdido e se encontrado em Luís.

Luís é de longe o tipo de pessoa que eu menos tenho ou já tive contato na minha vida. Ele é calmo, pacífico, totalmente diferente de mim. Luís não tira satisfações, não briga pelo que acredita, ele simplesmente faz o trabalho dele, sempre vendo o melhor da pior situação. A exemplo disso tem a faculdade de arquitetura que ele tanto queria ter feito, mas não fez porque o pai não permitiu. Eu, ao contrário, não tive problema em enfrentar o meu pai, ele queria que eu fizesse moda ou fosse designer de joias, ou qualquer coisa assim, qualquer coisa feminina que anulasse todo o poder que há em mim, mas eu não permiti. Preferi largar minha casa, minha família, meu país, a me submeter aos caprichos dele. Luís não. Luís abaixou a cabeça, e fez tudo o que o pai queria. Seja por ter sido criado desta forma, seja por algum trauma, seja por no fundo alimentar o desejo de ser administrador, tanto faz, de alguma forma ele sucumbiu aos desejos, sonhos e vontade do pai.

Eu sei que em algum momento Luís vai se rebelar, vai brigar pelo que acredita, vai correr atrás do que quer, as vezes ele deixa escapar essa parte da personalidade dele. Mas até que ele o faça, eu já teria perdido todo e qualquer desejo por ele... não. Na verdade a cada dia que passa o desejo de estar com ele e ajudá-lo a descobrir todo poder que ele tem aumenta mais e mais. Talvez essa viagem possa ajudar na verdadeira busca dele. Que assim como eu, ele possa encontrar novos mercados, novas ideias, novas motivações para conquistar o que quer, para buscar ser quem é.

Tomei o cuidado, como sua secretária, de organizar sua agenda para essa semana de congresso, de uma forma que não nos encontrássemos muito, ele me deu essa liberdade. Eu poderia escolher as mesmas palestras, os mesmos painéis, as mesmas mesas redondas das quais ele participaria, mas optei por ser uma empreendedora, que é área para qual fui formada e sempre foi o foco da minha vida profissional, e deixar que ele seja o empresário do ramo de transporte que ele é.

Talvez assim, sem alguém lembrando o estado em que ele está como profissional, ele possa descobrir quem ele quer ser. E eu conhecerei novos campos, me atualizarei e alçarei voos mais altos. Quem sabe eu não ganhe a oportunidade de me afastar da família La Grand. Não que eu realmente queira isso, o que eu sinto pelo Luís não permite que eu queira, mas seria muito melhor para ele, que eu não estivesse por perto.