Capítulo um

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Se tem uma coisa que você aprende quando se torna uma pessoa adulta e, para o alívio de seus pais e seu desespero, começa a se sustentar sozinha é que: a menos que se trate de uma coisa ilegal ou, realmente, desconfortável para você... não se recusa emprego. Ainda mais quando ele parece cair diretamente em seu colo, como um presente divino.

Ser uma mulher de 23 anos, solteira e independente, na cidade de Nova York só é interessante e emocionante na ficção. Na vida real a coisa toda é bem mais complicada do que parece.

A adolescente que ainda habita em mim chora todos os dias, desiludida pela vida real, que não é nada colorida ou divertida como as séries de TV faziam parecer. O cenário da minha vida, atualmente, se parece muito mais com uma temporada extra e menos emocionante de The Walking Dead do que com Friends.

Eu sou o clichê da garota sonhadora que, ainda na adolescência, decidiu se dedicar com todo o seu coração e alma ao seu sonho de estudar fora do país e que acabou conseguindo uma bolsa em uma das universidades dos EUA.

Sabe aquele meme...

Começo de um sonho/Deu tudo errado.

É quase o meu caso, tipo quase mesmo, faltou pouquíssimo para que eu visse o meu sonho ser atirado pela janela junto com todos os planos para o futuro brilhante com o qual venho sonhando desde que completei 15 anos.

O aluguel em Nova York não é, exatamente, barato e o fato de eu ter decidido sair da república depois de ter me dado conta de que viver no meio de outros jovens não era para mim – a NYU é excelente, mas eu não tinha cabeça para alternar entre festas e estudos – não me ajudou a cortar gastos.

Na verdade, eles aumentaram.

Atualmente, moro em um apartamento simples no Brooklyn, do tipo em que cabe apenas eu e as minhas coisinhas – reuniãozinha com amigos ou visita familiar? São sonhos beeem distantes.

Resumindo como minha vida quase pôde se encaixar no meme: as coisas azedaram entre eu e as meninas da república e, depois de ter certeza de que não poderia recuperar a boa relação nem mesmo se a minha vida dependesse disso, comecei a procurar um apartamento... e encontrei esse.

As coisas estavam indo bem, até eu me dar conta de que apenas o meu emprego – como garçonete em uma lanchonete perto do meu apartamento – não seria o suficiente para manter as contas em dia e me alimentar de forma minimamente decente.

É claro que, num primeiro momento, pensei em pedir ajuda aos meus pais... mas acabei desistindo da ideia antes mesmo de colocá-la em prática – eles só falariam na minha cabeça sobre como mudar de país foi precipitado e como eu deveria voltar logo para casa, e começar a cursar uma faculdade mais perto de casa e mais em conta.

Depois, pensei em encontrar uma pessoa para rachar o aluguel, é óbvio que a ideia se foi pela janela assim que entrei no apartamento e me dei conta de que só caberia eu e as minhas coisas.

Eu comecei a procurar outros empregos, fiz entrevista para vários – secretária, recepcionista, barista, vendedora de loja – e depois de receber sorrisos amigáveis e a típica frase: "entramos em contato, em breve!" eu estava começando a me sentir cada vez mais sem esperança.

Até que, para a minha surpresa, Anne – outra universitária que trabalha na lanchonete que eu considero uma amiga – me disse que tinha uma excelente vaga de emprego para mim. Ela não deu muitos detalhes, mas disse que era coisa simples, e que o salário compensava pra caramba.

E foi desse jeito que eu, Lucinda Martins Rodrigues – ou apenas Lucy –, acabei completamente paralisada diante do que deve ser um dos prédios residenciais mais caros de toda a Manhattan usando minhas típicas roupas de entrevista de emprego (comprada exclusivamente para tais situações): blusa social branca de botões, blazer preto, saia lápis preta e saltos médios nude.

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