Eu nunca fui muito inteligente. Também padeço por não saber dialogar com as pessoas. Nunca fui destaque em algo. Contudo, aos nove anos de idade eu descobri um universo inteiro. Parte de minha identidade estava ali contida. Encontrei um local onde eu poderia estar imerso em meus ideais e conhecendo um profundo conceito onde não existe o extremo do acerto ou falha, é possível recomeçar.
Ora, quem não se alegraria em refazer seus erros, voltar onde cometeu um erro e partir para um mundo onde as coisas são diferentes da amarga realidade? Pois bem, encontrei um mundo onde a liberdade perdura em meu ser.
Meus pais nunca puseram muita confiança em mim — e sendo bastante sincero; eu também não. Porém, toda a pressão em mim sempre foi gritante em toda minha vida, o árduo fato de saber que você pode estar condenado ao erro e que nunca conquistará o topo é desgastante para qualquer um. Embora fadado, encontrei aprovação onde não se espera.
Recordo-me de preparar durante semanas para uma apresentação de dia dos pais. Sentir a adrenalina que você ensaiou bastante para aquele evento e desejar que seu pai olhasse para você, visse seu esforço e lhe parabenizasse após a apresentação, deveria ser algo bom, ao menos na teoria.
— Onde está seu pai, David? Perguntou a professora enquanto buscava ele na plateia.
— Eu não sei, mas sei que ele vai vir! Ele prometeu!
O tempo passou, olhava o relógio a cada 15 segundos, a apresentação estava acabando. Não deixei de procurar nem por um instante.
— Será se não consigo ver ele? Deve ser isso. Pensei comigo naquele momento.
Esperei por muito, muito tempo, mas ninguém veio.
Mas havia algo de estranho, é como se algo dentro de mim fervesse dizendo que ele viria! Eu tinha certeza. De qualquer maneira, estava tão frustrado por meu pai não aparecer que sentei numa cadeira e meus olhos pareciam estar agindo por contra própria; mas por quê? Eu tinha certeza que ele iria vir!
— Ei, David... Está tudo bem? Perguntou um amigo da minha sala.
— E-eu sei que ele vem... Afirmei enquanto soluçava de chorar.
Naquela cadeira, com todos os alunos indo embora alegres com seus pais, pude prestar atenção em tudo que estava ao meu redor. Eu vi a tia da faxina desarrumando a decoração de dia dos pais. A cantina fechando lentamente seu portão. Havia tanta gente ao meu redor, mas por que tamanha solidão habitava dentro de mim? Eu já não sentia nada. Nem ódio, amargura ou tristeza. Era como se aquilo fosse óbvio que iria acontecer.
Os professores decidiram ligar para meus pais novamente, pois já era chegado hora de fechar a escola. O que aconteceu foi que ambos ficaram presos no trabalho e iriam tardar ainda mais sua vinda. Mas tudo bem, não é? O esforço deles é para que eu pudesse ter uma boa vida, então não poderia reclamar!
Enquanto esperava, fui para um local na escola onde era possível ver o céu aberto. Uma belíssima noite estrelada, pude sentir o vento em minhas narinas. Ouvir o ambiente escolar tão silencioso não era assustador, era mágico. Eu comtemplei o céu e parecia que tudo havia uma explicação ali, tudo iria se solucionar e eu receberia meus "parabéns, filhão!".
Deitei-me no chão. Apontei para o céu e vi uma estrela brilhar mais que as outras, fiquei encantado. Naquele instante, o tempo parecia mais devagar, parecia que tudo estava tão calmo, havia paz ali.
Porém a vida decidiu que naquela noite, eu deveria aprender a viver com a ausência e com a rejeição.
Ouço o carro da minha mãe chegando na entrada da escola e levanto-me rapidamente e vou em direção a entrada.
— Filho... Afirmou ela mais pálida do que nunca.
— Entre, vamos embora.
Ela parecia com muita pressa, também não deu uma única palavra durante o caminho, havia um silêncio muito constrangedor, porém decidi criar coragem e perguntar:
— O que aconteceu com o pai?
— Filho, ele não vem pra casa hoje. Afirmou ela com um semblante completamente destruído.
Minha mãe sempre era alegre e amava conversar, porém naquela noite, ela estava extremamente séria e não trocou muitas palavras comigo.
Fomos para casa, exausto, eu apenas me deitei na cama e apaguei naquele dia.
Durante a manhã, era um novo dia, já não havia mais razão para se estar triste e havia um presente embrulhado na minha cama! Era um videogame novinho! Acho que minha mãe quis compensar o que aconteceu no dia anterior, pulei da cama e dei um suave beijo no rosto dela que estava preparando o café da manhã.
Não pensei duas vezes, rasguei a caixa e decidi procurar um lugar para ligar.
— Menino, você não vai nem merendar primeiro?! Perguntou minha mãe com um rosto ligeiramente preocupado.
Eu estava muito empolgado! Eu sempre quis um daquele! Decidi ligar o videogame e peguei meu primeiro jogo, o fantástico "Sheriff John: Part 1". Sentei-me no chão enquanto via a tela de carregamento do videogame. O sutil cheiro de café sendo fervido chegava as minhas narinas. Eu estava encantado, meu sorriso resplandecia naquele instante.
Lembro que aquele dia passou muito rápido e quando olhei já era tarde, minha mãe havia ido trabalhar e voltado e eu nem havia percebido. Havia comido algumas besteiras durante o dia, mas o importante era é que estava na última fase! Minha mãe havia chegado exausta e nem reclamou do horário que eu estava jogando, decidi terminar aquela última fase.
Foi uma longa batalha, eu pude vencer o terrível vilão do crime e tornei-me um herói para todos daquela pequena, porém encantadora cidade, após uma longa noite, eu vi subir os créditos e uma mensagem:
"Você é incrível, David! Parabéns!"
Eu comecei a chorar, ninguém esperava nada de mim, mas aqueles personagens com certeza estavam mais felizes após eu salvar eles daquele grande mal. Pela primeira vez, senti-me útil para alguém. Eu havia aprovação de alguém! Eu havia encontrado paz de espírito.
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O futuro da nação | Parte I
Teen FictionDavid é um garoto que sempre viveu isolado em seu próprio mundo e após passar por uma série de problemas familiares em casa, recebeu um videogame. Imerso em suas ideias e seu mundo de fantasia, é exposto a problemas da vida real e terá de lidar com...