O futuro da nação | Parte I

Capítulo IV - Xeque

Havia tido o pior aniversário de minha pequena existência e enquanto estava aliviado por estar perto de minha queridíssima mãe, ainda houvera uma questão:

— Onde está o João? — Perguntou seu pai enquanto o buscava junto aos outros garotos.

Olhei rapidamente para o grupo de garotos que estava conosco e não o encontrei. Imediatamente, senti o nervosismo retornar para o meu corpo, senti que aquilo era culpa minha.

Descobri que o pai do João se chamava Rafael Salvatori — e este era um dos homens mais procurados do país.

Rafael ficou em um estado de choque, era notável seu desespero. Enquanto encarava um ponto fixo, parecia bastante frustrado por ter notado o que aconteceu.

Os policiais não puderam encostar nele, então decidiram pegar algo que ele amava. Embora tivesse um trabalho moralmente questionável, João sempre falava como amava seu pai e como ele sempre se esforçava para tentar ser um pai presente e dar boas condições de vida a ele.

Enquanto Rafael se via completamente levado pelo ódio, era possível ouvir um toque de celular. Coincidentemente, era o de Rafael, ele decidiu atender, na esperança de alguma notícia de seu filho.

— Alô?

Era uma voz anônima, afirmou uma detalhada localização junto a uma série de regras que deveriam ser seguidas, caso contrário o garoto seria levado para a assistência social e Rafael nunca mais veria seu filho novamente. Foi exigido uma quantia de duzentos mil reais. Um valor que pessoas comuns da classe trabalhadora não conseguiram em dez anos de esforço e trabalho duro.

Ele chegou a uma curiosa conclusão: estava em xeque [1]. Um passo em falso e o rei seria derrotado e assim como o xadrez, ele não poderia fazer um único movimento errado. Precisava ser cauteloso em tudo quanto fazia e com um ardente sentimento dentro do seu peito, estava disposto a fazer o que fosse necessário para o resgate de seu filho.

Era essencial que de algum modo, aparentasse seguir as regras a ele ordenadas e fizesse lentamente seu contra-ataque.

De imediato, lembrou de uma frase de Sun Tzu:

"Para vencer, deve conhecer perfeitamente a terra e os homens (tanto a si mesmo quanto o inimigo). O resto é uma questão de cálculo. Eis a arte da guerra."[2]

Um iminente problema apareceu dentro dele, o terreno era inimigo, haveria de travar não somente uma guerra contra a polícia, mas contra seus inimigos de facção também.

Era possível que a polícia estivesse tentando jogar ele aos lobos e ele teria que lutar bravamente para defender sua cria, enquanto seria decidido se ali sairia um novo líder da matilha ou se seria devorado e morto.

O tempo estava passando, era necessário que houvesse uma decisão e um plano milimetricamente planejado.

Rafael faz uma ligação, parecia explicar a situação para alguém. Antes de sair, ele me fez um pedido realmente curioso, eu deveria ir até a casa dele e pegar uma pequena caixinha enigmática guardada na gaveta do João.

Embora houvesse tido muita adrenalina para um único dia, não conseguiria ficar parado, precisava fazer algo para colaborar de algum modo. Não fazia ideia dos riscos, mas concordei sem pensar duas vezes.

Após concordar, me perguntei mentalmente por um instante: "será se vale a pena se arriscar tanto?"

João era meu amigo, e precisava ajudar ele, naquele exato instante, eu percebi o que almejava para a vida, iria revolucionar uma pequena parte da história, eu desejei com todas as minhas forças lutar contra a corrupção.

O tráfico, a violência, o caos eram resultados de homens que se desviaram do propósito de servir a nação, era necessário que algo fosse feito.

Se ainda que por um instante, eu puder fazer um marco pequeno na história, ainda que um único grito meu fosse ouvido por alguém que também partilhasse do sentimento de ódio a injustiça, o mundo certamente será mudado.

Eu estava disposto a me arriscar não apenas pelo João, mas por uma causa que era minha.

1 ataque sofrido pelo rei, peça principal no jogo de xadrez.

2 Tzu, S. (2018). A Arte da guerra. Buzz Editora.