Capítulo 01 | O muro

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— Que bom te ver aqui de novo, filho! Vai almoçar com a gente todo dia? — Pat dá um sorriso enquanto entra em casa e antes de responder à mãe, é interrompido pelos passos rápidos de Ink descendo a escada.

— Paaaa, seu irmão veio encher o saco de novo! — Diz Ink enquanto sorri olhando para Pat.

Iiiink, deixa ele quieto! Ele deve estar sem tempo e cansado, e veio se aproveitar de nossa refeição. — Pa aparece logo atrás da namorada, lhe dá um tapinha no ombro e se apoia, piscando para Pat em pirraça.

— Posso notar o cansaço no rosto dele, baby. — Ela se aproxima de Pat e cutuca o queixo com o indicador, fingindo analisar sua expressão.

Iiiink! — Pat devolve com o mesmo tom de implicância, mas acha engraçado. — Você virou uma irmã muito chata. Já não bastou o tanto de vezes que você disse isso ontem?

— Apesar de quê... você parece bem melhor que ontem. O que fez noite passada, ein? — Ela ergue as sobrancelhas, encarando Pat sem desviar.

— Ink! — Pa reprime a namorada. Pat arregala os olhos e franze os lábios, preocupado. Será que dá mesmo para perceber o que eu e Pran fizemos noite passada?

— Sorte a sua que eu gosto de você! — Diz ele, dando um peteleco na testa dela e sorri.

— Eu sei, você é como um irmão mais novo para mim.

— Eu tenho a sua idade, pirralha. — Pat apoia os punhos na cintura, ergue o queixo e ajeita a postura. — Olha meu tamanho, você não tem medo?

E de repente, a sala se torna um caos. Pat prende a cabeça de Ink em seu braço esquerdo, e finge dar soquinhos em sua barriga. Ink posiciona sua perna, com muita dificuldade atrás da perna de Pat, tentando empurrá-lo — sem resultado aparente. Ele solta a cabeça dela e se segura no balaústre da escada, procurando se equilibrar e ela aperta seu nariz sem pena. Que tipo de ataque é esse? Pergunta Pat, com os olhos molhados por conta do golpe na região sensível.

Pa assiste a tudo isso, impressionada em como eles despertam a criança interior um no outro sempre que se encontram. Ela desiste, enfim, da interação padrão entre o irmão e a namorada e senta-se no sofá olhando os últimos e-mails da equipe de produção do filme que está fazendo.

— Crianças! Podem parar a briga e me ajudar a pôr a mesa? Daqui a pouco o pai de vocês aparece aqui irritado com o barulho!

Kaew surge na sala, acalmando os ânimos do filho e da nora e em sua mão, carrega um recipiente que exala um cheiro defumado maravilhoso, e apesar de ter reclamado, ela sempre fica feliz com toda essa movimentação. Ela ganhou uma filha, e mesmo que Ink não more oficialmente lá, é bom ter pelos ambientes da casa, aquela energia tão parecida com a do Pat.

Desde que a situação entre Ming e Dissaya havia sido exposta, a mãe do Pat tentava equilibrar a relação entre pai e filho a todo custo, mas assim que pôde, Pat quis sair de casa e ela apoiou a decisão.

Ela sabe que ele não está bem. Aparentemente, está tudo bem, mas mãe sempre sabe. Ela vê que Pat tenta se aproximar do pai, mas que não é genuíno, porque muitas vezes foi, mas Ming simplesmente nunca cedeu. Ela viu, ao longo dos anos, as brincadeiras diminuindo, os sorrisos de cumplicidade se esvaindo e a permanência de Pat na casa, se estreitando. Ela tudo vê, mas nada faz, ou faz o que pode e tenta não transparecer. Mas ela sente, com todo o coração, o rancor e decepção que o filho carrega no sorriso cansado de todo dia. E vai manejando. Deixarei que eles resolvam.

— O que está acontecen–... ah, Pat está aqui. — Ming sai do escritório com o cenho franzido e voz neutra, e se senta na mesa sem cumprimentar o filho. Apenas lança um olhar e acena com a cabeça. Eles não têm mais assunto.

[03] • BREVE • [ PatPran | BadBuddy ] •  ):)Onde histórias criam vida. Descubra agora