00 - Prólogo

574 80 41
                                    

Desiderium Liberare.

As palavras foram proferidas com convicção, o timbre forte retumbando entre as paredes da sala de pedra, enquanto a figura austera sustentava as palmas das mãos sob a superfície dourada do objeto proibido, assistindo os movimentos serem reproduzidos com exatidão por aquele que estava à sua frente, como se estivesse diante de um espelho.

A caixa de pandora estava embaixo de seus dedos, era capaz de sentir o poder imenso e a energia caótica emanando de seu interior, pronta para ser expelida ao mundo e revelar tudo o que tinha a ser oferecido a ele, em um exímio pandemônio.

Afastaram as mãos quando os desenhos das seis superfícies do objeto começaram a se movimentar em conjunto, idênticas a serpentes venenosas, que pareciam sibilar com a língua para fora a cada arrastar dos corpos esguios. As imagens disformes guiavam-se até a fechadura da caixa, escoando por sua entrada até não poderem mais ser vistas.

Logo veio o som pesado de pinos de ferro batendo, ruídos grosseiros de estalos e arranhões, capazes de aturdir a mente de quem os escutasse.

Mas isso não se aplicava àquelas duas figuras.

ㅡ Você é livre agora. ㅡ sussurrou. O sorriso de satisfação se repuxando até os limites do rosto.

Nenhuma criatura podia imaginar o que estava por vir, a fatalidade que assolaria seus dias tão de perto. O infortúnio que só traria caos e destruição, contentando-se somente quando não restasse mais nada a ser dizimado.

A tampa da caixa começou a se erguer lentamente, dobradiças ganindo, fumaça preta escorrendo das frestas em cachoeiras. O artefato tremeu e sacudiu, dando pulos no lugar. O que quer que estivesse ali dentro, tinha muita pressa para sair. 

A figura emblemática sorriu para a segunda, que somente cerrou os olhos em sua direção antes de ambos olharem uma última vez para o maior acontecimento de Eras e darem as costas, saindo da sala. Suas silhuetas sumindo na penumbra, como se nunca tivessem existido.

Com um estrondo, a tampa da caixa foi jogada para trás, a erupção da fumaça negra formava uma coluna obscura que colidia contra o teto, escorria pelas paredes e deteriorava suas pedras.

A matéria sem forma definida rodopiava pelo cômodo em velocidade acelerada, pronta para atravessar tudo que entrasse em seu caminho.

Naquele dia, a humanidade presenciou um único raio grotesco rasgando o céu no horizonte, atingindo o chão em uma explosão, dando vida ao tremor que abalou cada uma das superfícies da terra.

Esse era o maior presente que os humanos poderiam receber. Desde o início de sua existência cobiçavam o que lhes era inalcançável e agora…

...todos os seus desejos seriam realizados.

♦️

• Desiderium • Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora