Capítulo IV

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Senti o meu corpo ficar frio e imóvel, senti o meu olhar fixar no abstracto e o meu coração bater como um louco.

Olhei em volta e não vi nada...nem ninguém, não existia um espaço concreto e o chão parecia escapar por baixo dos meus pés.

As paredes não eram de tijolo ou pedra, eram feitas com linhas indefinidas e contornos tortos e sinuosos. Nada que se parecesse com algo que eu tivesse visto ou algum sítio onde tivesse estado.

A minha cabeça estava a mil à hora, confusa e pensamentos começaram a atacar-me; a minha respiração, antes normal e calma, encontrava-se agora acelerada, como se tivesse acabado de correr a maratona.

Não sabia ao certo o que estava a acontecer mas sabia que aquilo não soava muito bem.

Tropecei em algo e cai, redonda no chão. Olhei para os meus pés, tentando perceber onde tinha caído mas não havia nada mais além de...bem, de mim.

Ouvi uma música de fundo e ao longe, consegui ouvir passos.

Seriam amigos? Inimigos? Alguém que não gostasse de visitas? - fiquei a pensar em todas as hipóteses possíveis, sendo que uma me parecia mais ridícula que a outra.

- Sky! - ouvi o meu nome ser chamado, ecoando, à medida que era repetido uma e outra vez, até deixar de se ouvir.

Balancei a minha cabeça à procura de quem me tinha chamado, confusa e sem saber como reagir, tentando encontrar uma maneira de sair dali.

Comecei a correr em direcção à música.

" Isto não é uma boa ideia, Sky" - disse para comigo mesma, com o meu sistema nervoso alterado. Mas tinha que fazer algo, ficar quieta não me iria ajudar em nada.

Fui atirada para o chão, ao ter batido em algo pesado.

Era algo ou alguém que aparentava ter cerca de 5 metros de altura, mãos grandes, dedos rígidos, com um olhar vazio e que apareceu do nada. Eu não sabia o que a trazia "aqui" mas certo era que eu não tinha intenções de tomar chá com ela.

Embora soubesse que havia algo fixado em mim, não conseguia ter uma imagem nítida, visto que se misturava com a o espaço à volta, apenas sendo distinguida devido a uma espécie de aura dourada que saia daquela "coisa".

- Que cena mais pirosa esta. - coloquei os braços à altura da cintura à espera que algo acontecesse.

Como eu suspeitava, nada aconteceu.

- Olá? - pus-me a falar com aquilo, o que quer que fosse, esperando uma resposta. - " É claro que ela não vai falar, Sky, que ideia tão estúpida".

Fiz um movimento involuntário com o meu pé direito e acertei naquilo que estava à minha frente.

De repente, ouvi o som de algo metálico, mais especificamente de engrenagens. Automaticamente, veio-me à cabeça a ideia de um comboio mas, isso seria impossível, visto que o comboio não tem dedos.

Dois grandes buracos amarelos, semelhantes a dois olhos, e várias parcelas de algo branco, começaram a ser nítidas e, aos poucos, toda a imagem foi desmontada: uma criatura metálica, de pêlo amarelo-canário, com uma cartola preta e um laço, também de cor preta, ostentando numa das suas mãos metálicas , e um tanto desfiguradas, um microfone.

Era possível, contudo, ver dentro da criatura uma estrutura metálica, um pouco mais baixa do que a altura da mesma, um tanto gasta e velha.

Tudo aquilo me pareceu surreal mas algo despertou a minha atenção: umas quantas manchas vermelhas, semelhantes a sangue, estavam salpicadas, aqui e acolá, em toda a extensão do pêlo.

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