Capítulo VI

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- Não podes estar a falar a sério. - Chris parecia surpreendido. - Outra vez?

- Outra vez, fofinho. - respondeu Sacha, colocando as cartas em cima da mesa e recolhendo as fichas que lhe pertenciam. - Admite, és um desastre a jogar.

Chris baixou a cabeça, desapontado, e atirou as cartas para cima da mesa.

Lucas bateu palmas e gozou com Chris, fazendo-o ficar vermelho.

- Quem diria que és tão boa a jogar póquer, Diaz? - inquiriu Lucas. - Bem, acho que te subestimei ao longo destes longos anos.

Ela olhou-o por cima do ombro.

- Nunca subestimes uma rapariga, muito menos a tua irmã.

Pareciam estar todos em plena algazarra mas eu? Eu nem tinha conseguido adormecer como deve ser, devido aos acontecimentos da noite anterior. Passei horas e horas a mexer-me na cama, a esbracejar o ar e com sonhos estranhos.

Tudo me parecia confuso e sem sentido, parecia tudo saído de um pesadelo, o qual não vai acabar tão cedo.

Como não tinha a chave de casa comigo, tive que vir para a de Sacha, tendo deixado uma mensagem no telemóvel da minha mãe. Nada me iria garantir que ela fosse ouvir a chamada mas não seria por falta de aviso da minha parte.

Enfim, palavras para quê? Não sou propriamente uma criança mas a minha mãe tratava-me como uma, pressionava-me demasiado para ser...para ser como ela: uma dona de casa mandona e com uma profissão que não vai além de vender pizzas e aturar crianças. Ainda mais com os acontecimentos recentes, duvido que alguém pensasse sequer em passar lá por perto.

" A mídia quer-nos tramar e não sabe como " - era um dos muitos pensamentos que me assombravam, só de pensar nisso.

Voltei a verificar o meu telemóvel, à espera que a minha mãe mostrasse sinais de vida mas o voicemail apenas intensificava a minha preocupação.

Vesti as minhas calças jeans azuis claras e um casaco e sai do quarto. O resto do pessoal estava na sala, em extrema galhofa. Sorte da Sacha é que os pais não estavam em casa, sendo que isso não seria problema, caso fizessem disparates.

- É viva! - Lucas girou na cadeira de modo a ficar de frente para mim e puxou-me para ele.

- Oh tenham calma logo de manhã. - Sacha mantinha um olhar atento no baralho e no jogo, enquanto fazia pressão em Chris. - Vou ser penta-campeã de póquer e não preciso de distracções.

Houve um longo silêncio, em que apenas vi o distribuir furioso de cartas de ambos a cortar o ar. Eu não sabia jogar póquer e se houvesse dinheiro em jogo, é certo que eu o ia gastar nas compras.

- Vou até ao restaurante.

- Vais lá fazer o mesmo que fizeste ontem à noite? - perguntou-me Sacha, sem me fixar. - Meter-te em problemas e ter a polícia à perna?

- Ora Sacha, a polícia nem foi culpa minha e segundo...

- Segundo, podias ter morrido se fossem outras pessoas e não nós. - rosnou furiosamente, tendo atirado as cartas para cima de mesa. - Tens noção do que andas a fazer?

- Eu...

- Já tivemos esta conversa montes de vezes e tu parece que continuas a fazer o que queres, como se nada fosse.

- É o restaurante da minha mãe, como queres que...

- Ouve, se te queres armar em detective privada, estás à vontade. - suspirou. - Mas se for para te ver acontecer algo, não contes comigo.

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