IV

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As pessoas estavam começando a ficar embriagadas. Fugindo de todos os risos altos e burburinhos, Andrea foi para a varanda do salão. Olhou para o jardim abaixo do parapeito e respirou um pouco de ar puro.

Só quando olhou para o lado, viu Stephen no canto, acendendo um cigarro. Ele já havia visto ela e a encarava com um estranho sorriso.

— Ei. — Ele a cumprimentou.

— Olá.

Stephen parecia estudá-la. Ele sempre lhe causava arrepios desconfortáveis, mesmo quando tentava ser gentil.

— Aceita um cigarro? — Ele ofereceu a ela.

— Não, obrigada. Eu não fumo.

— Porque não quer ou porque Miranda não deixa?

— Perdão?

— Não é por nada. É que ela odeia cigarros e me proibiu de fumar. É claro que eu fazia escondido quando ela não estava, mas ela podia sentir o cheiro antes mesmo de entrar em casa. — Riu com certa nostalgia.

— Não é fácil enganar alguém tão perspicaz.

— Coisas do casamento. — Ele bufou e soprou a fumaça. Andrea viu claramente que ele estava embriagado.

— Um casamento é um sacramento... uma alegre celebração do amor, do compromisso e da utopia. No mundo real... é apenas uma desculpa para beber excessivamente e dizer coisas que não deveria dizer. — disse ela.

— Ah, uma cética.

— Sóbria, na verdade.

— Quê?

— Nada, nada.

Andrea olhou para o salão e viu Miranda conversando com alguém no bar. Ela parecia brilhar cheia de graciosidade. A jovem suspirou e lentamente se virou para Stephen somente para perceber que ele também olhava Miranda.

— Há quanto tempo estão juntas? — Perguntou ele, voltando-se para ela.

— Não sei dizer, depende. Eu nunca sei quando se começa a contar. Depois do primeiro encontro ou do primeiro beijo? Depois da primeira noite ou depois daquela conversa em que as partes decidem que serão exclusivas?

— Exclusividade não funciona com Miranda.

— O que está tentando dizer? Que ela é infiel? — Foi direta.

— É você quem está dizendo isso.

— Não, você disse. Talvez essa seja uma projeção sua de si mesmo.

— O que isso significa?

— Nós julgamos o outro com base em nós mesmos. Talvez você pense assim porque na verdade é um reflexo da sua infidelidade.

Ele soltou um riso surpreso, então disse: — Acho que começamos a contar depois do pedido. Houve um pedido?

— Não. — Andrea sabia que ele estava infantilmente provocando ela. — Mas obrigada pelo conselho. Eu com certeza vou pedi-la de uma maneira muito especial.

— Então é sério?

— Com Miranda? Não tem como não ser. Eu teria que ser muito estúpida se não desse a ela o valor que ela merece.

Quando Andrea disse isso, ela se lembrou de que tudo não passava de uma mentira. Quase havia esquecido que, na verdade, Miranda e ela não tinham nenhuma relação que não fosse profissional.

Era tão fácil dizer aquelas coisas com convicção, porque era quase como se fosse verdade. Pelo menos ela queria que fosse.

— Você não sabe onde está se metendo, mocinha. — Disse ele e Andrea sorriu brilhantemente.

Muito Bem Acompanhada (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora