I

6.4K 584 302
                                    

A madeira crepitava na lareira. As chamas iluminavam a sala de estar com uma tonalidade amarela reluzente. Uma mulher, sentada no sofá com um manto cobrindo as pernas, analisava pensativamente um cartão entre os dedos.

Tinha por volta de quarenta anos, feições clássicas e belas, cabelos curtos e singularmente brancos. Havia um vinco entre suas sobrancelhas e um bico torto nos lábios, um gesto quase inconsciente de sua insatisfação.

No cartão branco, cravejado em prata, estava escrito:

Miranda Priestly e convidado.
O Sr. e a Sra. Tomlinson têm a honra de convidá-los para o casamento de Wendy Zimmer e Stephen Tomlinson, no sábado, doze de julho, às três da tarde.

Miranda bufou ao ler aquilo pela vigésima vez. E de repente, uma voz surgiu à sua esquerda. Era a voz de sua filha por trás do sofá, dizendo:

— Mas quanta audácia!

Miranda olhou para cima e viu a jovem ruiva com os olhos apertados.

— Muito atrevimento da parte dele. — Disse a outra filha, e Miranda girou a cabeça para vê-la surgir do outro lado.

Tratava-se de Caroline e Cassidy, suas filhas gêmeas idênticas de quatorze anos.

— Com licença, será que posso ouvir meus pensamentos por um minuto sozinha? — Perguntou Miranda, lançando-lhes um olhar ameaçador de mãe.

— Não! — Disseram em coro.

As duas pularam no sofá e sentaram-se uma de cada lado da mãe.

— Miranda Priestly e convidado? — Cassidy debochou. — Que absurdo, ele sequer foi decente para nos incluir no convite.

— Um completo idiota. — Caroline continuou.

— Tudo bem! — Miranda ergueu delicadamente a mão. — Já é o suficiente.

— Você vai a esse casamento, certo? — perguntou Caroline.

— Não! Não faz um mês que o divórcio foi efetivado e ele já está enviando convites. Não vêem a intenção dele? Ir para esse casamento é exatamente o que ele quer. Ele quer me humilhar, jogar sua felicidade na minha cara e mostrar para as pessoas que estou sozinha, abandonada e infeliz.

— E você está?

— Infeliz?

— É claro que não! Mas é o tipo de narrativa que ele usa. Dizendo para todos que me deixou e que não consigo manter um relacionamento com ninguém.

— Você não precisa de ninguém para ser feliz. Somente de nós. — Disse Cassidy.

— É claro, meu bem.

— Então por que está tão incomodada? Deve mostrar isso para ele. Deve ir ao casamento e mostrar que é maior do que qualquer provocação.

— Não sozinha. Isso nunca! Eu só iria se estivesse muito bem acompanhada.

— Você pode chamar um amigo. — Caroline começou.

— O tio Nigel por exemplo. — Continuou Cassidy.

— Ou uma de nós.

— Sim, definitivamente serei eu, sou a mais velha.

— Não, serei eu porque dei a ideia.

— Chega! Nigel não serve, não somos tão amigos assim. E se fosse para levá-las, seria as duas. Mas não, não é desse tipo de companhia que estou falando.

— Então vamos arrumar um namorado para você, temos duas semanas. — Cassidy olhou para a irmã, com os olhos azuis acesos de excitação.

— Sim, igual aquele filme que assistimos outro dia. Uma mulher contratou um acompanhante lindo, elegante e alto para o casamento da irmã, e todos ficam cobiçando ele.

Muito Bem Acompanhada (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora