(Mais do que pessoal)

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Ele odiava o que via toda vez que se olhava no espelho, faziam dias que já não sabia o que era luz do sol, o esforço que fazia todas as manhãs para sair da cama estava se tornando cansativo, ele já estava cansado de tudo. Cansado das pessoas que ele considerava amigos o abandonando, cansando de receber a mesma justificativa para suas ações

"Você é grudento demais, ao ponto de ser tóxico, além de ser um babaca"

Tudo o que pensava sobre si mesmo acabava se fundindo com as opiniões daqueles que ele julgava ser próximo a ele, fazendo ele se sentir cada vez pior, suas crises pareceram se intensificar e isso era somente culpa sua, caminhando até a cabeceira da cama ele pega um cigarro de dentro da carteira quase vazia e o acende - tragando a fumaça antes de soltar pelo nariz -, ele tinha o costume de fumar quando estava beirando ao colapso, era como se aquele pequeno pedaço de morte fizesse ele se sentir menos propenso a fazer alguma merda.

Ele as vezes só queria ser invisível, essa vontade de ser invisível vinha da sua necessidade para respirar, para ser livre, para ser ele mesmo por um curto período de tempo, ele só queria poder respirar sem se preocupar com aqueles que não conheciam todos os seus lado, porque talvez assim ele não precisaria se sentir um monstro sempre que alguém falava mal dele ou o julgavam, as pessoas podiam ser cruéis quando queriam, e infelizmente tudo que ouvia era verdade e sua própria cabeça concordava com tudo o que diziam sobre ele e sempre tendia a adicionar mais e mais coisas a lista de "coisas para odiar em si mesmo"

Sabe o ditado do livro O Pequeno Príncipe sobre você se tornar responsável por aquilo que cativa? Ele era o tipo de pessoa que demorava a se abrir verdadeiramente com os outros que demorava a formar um vínculo emocional, mas quando fazia se entregava totalmente e conseguia por fim mostrar quem ele realmente era com todas as suas mudanças de personalidade, todas as suas esquisitices e seus pontos fracos. E aos poucos ele passou a perceber que as pessoas não gostavam quando realmente o conheciam e passou a se retrair, ficava quieto a maior parte do tempo e era raro ver ele sendo totalmente ele mesmo, sempre que falava algo ou fazia alguma brincadeira ele sentia receio do que pensariam, por isso passou a usar uma máscara para esconder tudo o que sentia.

Ele engolia as lágrimas a força e sempre que perguntavam se ele estava bem a resposta era sempre a mesma, raramente ele respondia a verdade e por esse motivo a máscara o sufocava, mas ele se recusava a tirá-la, porque ele passou acreditar que ninguém iria querer realmente conhecer a pessoa por trás dela, porque ninguém nunca gostou dela.

Ele queria alguém para conversar, mas quem? Sinceramente não havia uma única pessoa que o conhecia como ele realmente era, nem mesmo seus familiares poderiam dizer que o conheciam, para eles, ele era apenas alguém problemático, para seus colegas de faculdade ele era um grão de areia no meio do oceano, ou seja, um ninguém, ele podia ter certeza que ninguém reparou seu desaparecimento repentino das aulas, quando desistiu quase que definitivamente do curso, mesmo que o amasse tanto, sinceramente ele não sabia o que esperava exatamente, ele se afastou de todos com medo de machuca-los e talvez tudo o que quisesse era sentir que alguém o puxaria de volta como ele já havia feito tantas outras vezes e o impedisse de fugir das coisas que sentia, mas foi o contrario que aconteceu e ele sentiu cada vez mais e mais as pessoas o abandonarem

"Não aguento ser puxado para baixo"

Bom essa nunca foi a intenção, existem pessoas que realmente estão dispostas a puxar os outros para baixo, mas ele? Ele não era do tipo que fazia isso, ele se afastava, reprimia o que sentia e escondia de todos as coisas que o machucavam exatamente para que ninguém se sentisse afetado por seus problemas, mas do que isso adiantou afinal?

Às vezes durante a noite pensamentos ruins abalavam sua mente já confusa com todos os pensamentos negativos e magoas acumuladas isso fazia com que diversas paranoias surgissem durante a madrugada para atormentá-lo, todas elas criadas a partir das inseguranças que desenvolveu em sua breve vida, era por esse motivo que o chamavam de tóxico, a insegurança fazia ele sentir medo de perder as pessoas que amava ou ser trocado por elas, mas ao mesmo tempo também fazia com que ele se afastasse delas por achar que estava atrapalhando suas vidas.

Ser trocado... quantas vezes isso já tinha acontecido? Sinceramente ele já havia perdido a conta de quantas vezes ele havia sido tratado como um lixo, um completo ninguém, facilmente substituível, quantas pessoas ele deixou que o manipulassem sem se dar conta de que elas apenas o usavam? Quantas vezes ele acreditou nas pessoas que chamava de amigo para no fim se decepcionar com elas? Quantas vezes ele pareceu acreditar no amor para no fim se decepcionar com ele ao ter seu coração destruído exatamente porque ninguém suportava conhecer sua fase obscura.

Sinceramente ele não sabia dizer ao certo, mas os danos ainda estavam lá permanentemente gravado no fundo de seu ser, coisas de seu passado que habitavam suas lembranças e que ele nunca havia contado a ninguém, coisas que mancharam sua alma, manchas horríveis que o faziam se odiar ainda mais.

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