Agosto de 2018
— ...Por favor! Apenas me responda, Kakucho! Eu não aguento mais guardar isso comigo!! — Ela insistia tanto que o irritava. Como sempre, chorando e fazendo um grande drama. — POR FAVOR! APENAS ME EXPLICA! Por que fez aquilo?!
Fazia bons anos que não havia depois de tudo o que aconteceu. Pensou que depois do que fizera, ela nunca mais teria coragem de olhar para sua cara novamente ou falar qualquer coisa. Mas se enganou. E aquilo doeu. Doía vê-la novamente. Aquilo não foi o bastante para ela se afastar e ver que ele era um monstro?
— ...Ora ora, temos uma mosca irritante aqui... Não foi ela a causa de tudo, Kakucho? — Mikey sussurrava em seu ouvido como veneno. — Ela é a culpada de tudo, não é? Por que não faz ela pagar? — Sua língua era perigosa. A olhava com o mesmo olhar que matou South Terano, aquele que era o verdadeiro amor de [Nome]. Agora, sabia mais do que nunca que ele foi o único que a fez feliz.
— KAKUCHO! Por que você está apontando essa arma para mim? Por que suas mãos estão tremendo? — Ela conseguia ver que ele hesitava. — Você... Você não matou o meu pai, não é? — Dizia aquilo com a voz turbulenta, estava se afogando em suas próprias lágrimas. — Por favor... Diz que não. Diz que tudo é um engano. Por que você está com esse monstro? Foi ele quem matou o Sout-
Ele acionou o gatilho e apontou diretamente em sua cabeça. Ouvir o nome daquele homem o deixava irritado. E a partir daí, ela soube que não era brincadeira.
— Eu matei a droga do seu pai. E não me arrependo, nunca me arrependi. Sim, ele matou o South, mas bem que queria ter sido eu. Queria ter tido o prazer de ser a causa de todo o seu sofrimento...
Isso a fez chorar ainda mais. Por dentro, era ele quem se sentia morto. Não, ele não queria fazê-la sofrer. Ele queria dizer que a amava e que se arrependia amargamente de sua decisão. Mas não podia.
— ...Eu queria nunca ter te conhecido... Eu pensei que te amava... Mas você é a pior pessoa desse mundo!! — Ela cuspiu tudo aquilo com grande desprezo por ele. Então era isso que ela sentia? Repulsa? — Queria ter morrido naquele acidente, assim nunca teria tido a infelicidade de traçar o meu destino com o seu!
— Tá vendo? É isso que ela é, Kakucho. — Mikey continuava com aquela voz infernal. — Acabe logo com isso, Kakucho. Lembre-se que ela é a culpada de tudo. Ela é a causa de toda a desgraça em sua vida. Faça ela pagar...
Era um misto de sentimentos estranhos que percorriam sua mente. Ódio, um rancor irracional, queria cumprir sua missão e para isso, mentalizou tudo o que poderia ter sido diferente se [Nome] não existisse: sua vida seria completamente diferente, teria uma família agora, não teria crescido no orfanato... Tudo teria sido diferente.
Ainda assim, não tinha forças para puxar o gatilho. Amava-a. Ela era tudo de mais precioso que conheceu e as coisas não poderiam acabar assim. Ela continuava despedaçada em lágrimas, mas cessou quando ele tirou a arma de sua mira.
— ...Não... Não posso... Nunca poderia... [Nome]... Eu sinto muito. Sinto muito por tudo! — Ela reacendeu um sorriso quando disse aquilo. — E-eu te amo. Te amo muito.
— Kakucho...
— Tsc. Você sempre foi um inútil. — Não percebeu quando Mikey tomou sua arma e em questão de segundos, seu mundo caiu. Ele atirou duas vezes em [Nome], como quem matava uma formiga. Na terceira, ele não conseguiu porque lançou-se num ato de impulso em sua frente, acertando o seu peito. Dessa vez, era um tiro fatal.
— K-kakucho... — [Nome] não tinha forças para falar, então apenas sussurrou seu nome com a pouca força que restara. Ela rastejou até sua direção até cair ao seu lado. Enquanto falava, cuspia sangue e ele podia ver a enorme poça que cercava os dois.
— N-não... Não fale, q-querida... P-por fa... — Ela apertou sua mão e sorriu, com o mesmo sorriso doce de sempre. Os dois estavam com poucos segundos de vida, era fato. Os tiros foram fatais.
— Morrer ao seu lado não é algo tão ruim... Obrigada por tudo. Eu também... — Suas mãos começaram a ficar geladas. Era tudo o que não queria: vê-la partir primeiro.
— Também o quê?! [NOME]?! [NOMEE]?!?! — Ela se foi. Conseguia sentir pela sua mão. A última pessoa que amou já não estava mais ali. Felizmente, dessa vez, partiria com ela.
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Agosto de 2008
Kakucho
Vê-la era sempre um deleite para seus olhos, apesar de sempre encontrá-la com a sua típica expressão de melancolia. Seus cabelos cor de mel eram tão lindos como aquela tarde de Verão, uma das últimas do ano. Mantinha seus olhos verdes concentrados na corda do Erhu, que depois de tanto ela lhe corrigir dizendo que aquilo "não era um violino", ele finalmente aprendeu a falar. E é claro, a sua música era como sempre triste.
Quando o viu, parou e o recebeu com um sorriso cordial. Sentou-se ao seu lado e de imediato, recebeu um chá gelado que ela havia comprado há poucos minutos.
— Obrigado. — Ele retribuiu o sorriso. Sabia que não merecia tanta gentileza e o prazer de sua companhia. Na verdade, sequer sabia porque tinha aquela estranha relação de amizade. [Nome] era definitivamente, uma garota de família rica: morava em uma casa enorme, usava sempre roupas impecáveis ou o seu uniforme, de uma escola privada exclusiva para garotas. Ela não costumava dar muitos detalhes sobre a sua vida e vice-versa, então com o pouco de informações que descobriu pelas suas conversas, deduziu que ela era muito rica.
— Teve um bom dia hoje, Kaku-Chan? — Ela sempre perguntava em um tom de inocência, de fato, ela não parecia ter a menor noção de que tipo de pessoa ele era. Definitivamente, vieram de mundos diferentes.
Se por um lado, ela era de uma ótima educação e rica, ele morava nas ruas. Não tinha família e nem propósitos. O único meio de sobrevivência era alguns poucos centavos que pegava, "presentes" daquele velho maldito, que se recusava a usar por inteiros. Apenas o mínimo para sobreviver. Não precisava da esmola daquele homem nojento.
"Meu dia só começa quando eu vejo você". Era o que ele queria dizer, mas talvez fosse atrevido demais de sua parte. Ela não tinha tanta intimidade com ele e sequer parecia sentir alguma atração! É claro, era cedo demais e errado de tantas formas... [Nome] era definitivamente, muito para ele, além de ter sido a namorada de South. Como poderia dizer que estava apaixonado por ela? Seria muito precoce!
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Vidas Cruzadas - Imagine Kakucho
FanfictionUnidos pela perda de pessoas queridas, as vidas de Kakucho e [Nome] acabam se cruzando por coincidência do destino. Eram de universos completamente opostos: ela, uma garota de família rica, com uma educação impecável, adora passar as tardes tocando...