Ao invés de dizer o que o seu coração sentia cada vez que via aquela garota tão linda, apenas respondeu de forma genérica:
— E-eu tive... E você, [Nome]-San? — Ela deu um risinho com o "San". Ele não era o tipo de garoto formal e que falaria daquele jeito tão polido. Estava forçando algo que não era.
— Bobo! Eu sou um ano mais nova do que você, por acaso se esqueceu? É só [Nome] pra você! — Respondeu de uma forma tão leve. O seu cabelo balançava com a ventania daquela tarde de verão. Tão linda... Tão perto e ao mesmo tempo, tão distante.
Nunca falavam sobre assuntos tão complexos e profundos, geralmente era sobre música, coisa que [Nome] amava. Outras vezes, sobre coisas ainda mais triviais como "qual a sua comida favorita" e sonhos de criança. Ele, é claro, nunca deu detalhe algum de seu passado. Era algo tão conturbado que poderia afastá-la, pelo menos era essa a sua sensação.
— Não é maravilhoso esse vento de fim de tarde? — Ela dizia aquilo enquanto tentava se abraçar, numa tentativa de conter o frio que a ventania trazia. Sim, o outono já se aproximava então aos poucos, o frio estava voltando. De vez em quando, [Nome] falava algo do tipo, contemplando as pequenas coisas do dia-a-dia. Eram momentos como esse que faziam seus momentos serem tão... Especiais. — Kaku-Chan... Obrigada.
— Hm? — Ele a olhou, confuso. Não havia feito ou falado nada demais nos últimos minutos.
— Eu sinto... Um conforto quando estou perto de você. É como um cheiro ou uma música que marca a sua infância... Uma zona de conforto que usamos quando temos medo do mundo. É esse tipo de sensação que sinto quando você fica por perto... — Não sabia por qual motivo, mas aquela fala o arrepiou de dentro para fora. — ...É meio maluco né? Nos conhecemos há pouco tempo, mas é esse tipo de sensação que tenho... — Ela disse, ainda olhando para o horizonte.
Isso foi o bastante para ele engolir em seco, respirar fundo e tentar expressar seus sentimentos.
— ...Eu sinto absolutamente o mesmo, [Nome]. O mesmo. — Disse, colocando sua mão sobre a dela, o que, obviamente, chamou sua atenção. — Eu... Eu só queria que nossos momentos fossem... Intermináveis. Porque é só perto de você que eu me sinto vivo...
Ela o olhou, surpresa com sua fala. E naquele momento, se deu conta de toda a besteira que havia falado. Sincero demais! Como poderia ser tão burro? Ela iria se assustar, com toda certeza!
— ...Vamos ser sempre assim, então? — Ela respondeu, com um sorriso doce em meio às suas bochechas coradas. — Você é muito especial, Kaku-Chan... — Respondeu, por fim e retribuiu o toque de mão.
Ficou hipnotizado por alguns segundos com aquele toque, a sua voz tão doce e bonita. Tudo nela o atraía. Talvez estivesse sendo um bobalhão, afinal, era a sua primeira paixão. Mas não conseguia negar seus sentimentos, eram muito intensos!
— Nossa, a hora voou! — [Nome] viu seu relógio e começou a se apressar para voltar para casa. Guardou o seu erhu (não era violino!) e preparou-se para se despedir do amigo. — Então, até amanhã, Kaku-Chan?
— ...É-é claro, [Nome]... — Respondeu, ainda envergonhado com sua fala. Será que ela percebeu alguma coisa? Será que ela havia se assustado?
— Então, até amanhã. Se cuida! — Levou um susto quando ela quis abraçá-lo. Era raro. E foi o abraço mais gostoso que poderia ter. Aquele cheiro de rosas, aquela respiração tão calma e lenta... Novamente causou borboletas no estômago.
Quando ela tomou uma distância segura e foi se afastando até desaparecer, ele finalmente protestou consigo mesmo, chutando a primeira pedrinha que encontrou no caminho:
— IMBECILLL!!! COMO PÔDE SER TÃO BURRO??! NÃO CONSEGUE SE CONTRO- — Sua conversa solitária foi interrompida pelo medo, que o congelou quando viu aquela silhueta pequena e magra vindo em sua direção. Como ele poderia estar ali? Ele viu [Nome]? Teria ele simplesmente colocado [Nome] em perigo?
— ...Então é por isso que não quis se juntar a mim, Kakucho? — A silhueta pequena saiu das sombras e foi de encontro com ele. Não poderia negar, cada pelo de seu corpo se arrepiou quando o viu. — Pedi gentilmente ao Haitani para te chamar, mas você não nos deu ouvidos. Então eu vim ver o que você estava fazendo...
— ...MIKEY! — Disse aquele nome com repulsa e ao mesmo tempo, receio do que ele poderia fazer à ele ou pior ainda... À [Nome].
— É por causa dela? — Ele disse, olhando na direção que [Nome] havia partido. — É mesmo muito bonita. — O tom indiferente com que ele falou de sua amada o deixou com nojo. Ele por acaso sabia quem era ela e todo o sofrimento que causara? — Então ela já se recuperou?
— ...O que você quer?
— Essa tal de [Nome] é mesmo muito bonita. Muito rica também, não é? Tá na cara... Você está aflito porque ela nunca olharia para você né? Morando nas ruas... Sem nada nem ninguém... Os pais dela cuspiriam na sua cara. É por isso que tem medo de se confessar, não é, Kakucho? — Como ele sabia de tudo aquilo? Não sabia, mas de uma coisa tinha certeza: sentia medo de Mikey. Como ele sabia o nome dela? Apenas o fato de ele conhecer a existência da garota lhe dava calafrios.
— ...O que tá insinuando, em, Mikey?! Você não é de ficar de conversa fiada! O que quer com a [Nome]?!
— Junte-se a nós, Kakucho. Você vai ter tudo o que quer. Poder, dinheiro... Tudo. Você não vai precisar sentir medo. Vai ter [Nome] em suas mãos.
Naquele momento, não conseguiu segurar os ânimos e o socou. Não suportaria ouvir aquele cara falar sobre [Nome] depois de tudo o que fez!
— Não ouse falar ou insinuar qualquer coisa sobre ela. Tire o seu nome de sua boca! Eu jamais me juntaria à você. JAMAIS!
Mikey não reagiu ao soco. Continuou com sua expressão apática de sempre.
— ...Que pena. Então talvez você não queira mesmo ficar com ela, né? — Ele disse, dando de ombros. — Talvez não seja tão ruim assim... Ela pode se juntar àquele cara que ela gostava, cedo ou tarde.
Não aguentou, mesmo que morresse naquele momento, não sentiria medo ou arrependimentos. Qualquer um que ameaçasse encostar em [Nome] morreria, com toda certeza. Pegou em seu colarinho para falar bem firme.
— A próxima vez que falar isso, eu t-
— Escuta, Kakucho. Se você não me largar nesse exato momento e aceitar minha gentil oferta, você vai morrer aqui mesmo. Com você morto, aquela garota estará totalmente exposta, acha que não sei o caminho de casa dela? Junte-se a nós, agora. Ou eu vou falar para o Haruchiyo cuidar bem da sua amada [Nome].
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Vidas Cruzadas - Imagine Kakucho
FanfictionUnidos pela perda de pessoas queridas, as vidas de Kakucho e [Nome] acabam se cruzando por coincidência do destino. Eram de universos completamente opostos: ela, uma garota de família rica, com uma educação impecável, adora passar as tardes tocando...