As folhas amarelas e laranjas comuns no outono forravam o chão dos extensos jardins do castelo de Aesther. A movimentação por aquele local era escassa naquela época do ano, pelas chuvas que se iniciavam e também por atividades maiores dentro do castelo que requeria a atenção da maioria; afinal o 18º aniversário do príncipe herdeiro se aproximava. O príncipe porém fugia de toda obrigação como se fosse o seu maior martírio.
Enquanto sua mãe atormentava as pobres serviçais em busca da "decoração perfeita", o príncipe corria na lama do jardim debaixo da chuva, rindo como se não tivesse problema nenhum na vida. Ele podia ouvir a voz irritante da irmã mais nova que corria atrás dele tentando forçar uma brincadeira de pega-pega que para ele havia perdido a graça a alguns anos, e enquanto procurava um esconderijo onde ela não o acharia, ele se sentiu ser puxado repentinamente para o chão.Ali escondido entre um arbusto de flores, todo molhado e com um enorme sorriso travesso, estava Stiles, que fazia sinal de silêncio para o príncipe, enquanto a pequena princesa passava correndo pelo local sem os ver.
Eles haviam ficado mais amigos depois da morte da mãe de Stiles. O garoto havia continuado no castelo, sob a tutela da própria rainha, que continuou a o criar como se fosse um filho próprio. Os dois garotos sempre eram vistos juntos pelas dependências do reino, onde Derek estava podia-se saber que Stiles também estava. O príncipe havia ganho seu irmão que tanto queria, e Stiles havia ganho a família que sempre havia sonhado, mesmo que ainda sofresse pela falta da verdadeira mãe. Era uma parceria inseparável de dez anos.
— Quando é que você aprenderá a se esconder dessa pirralha? — o jovem branco de olhos âmbar questionou em sussurro para o príncipe.
— Eu não preciso. Tenho você pra achar os melhores esconderijos, meu lacaio! — o de pele cor de oliva respondeu divertido.
— Ah, seu bastardo!
Stiles jogou lama na roupa já suja do jovem herdeiro, iniciando assim uma pequena guerra de lama pelo local. Eles até mesmo haviam se esquecido que se escondiam de uma certa garotinha. Os dois garotos até podiam ser considerados melhores amigos, mas na maior parte do tempo estavam brigando como dois inimigos. Derek era de pavio curto e Stiles um espertinho irritante.
Sujos e ofegantes pela briga, os dois pararam por um segundo para recuperar o fôlego e acabaram rindo ao perceberem como a situação era engraçada, dois jovens, quase adultos, brincando na lama como duas crianças. Seria um escândalo, outro, se as pessoas soubessem que o príncipe herdeiro do trono estava ali se deitado na lama como um porco, sem etiqueta nenhuma; sua mãe mesmo era a que mais ficaria escandalizada, ele até já podia ouvir os gritos dela quando os vissem entrar no castelo daquele modo.
Quando Derek iria dizer algo o grito irritante da menina foi novamente ouvido e Stiles foi rápido em tampar a boca do príncipe com a mão. Derek iria reclamar por ter aquela mão suja de terra em sua boca, mas parou ao perceber o quão próximo estava de Stiles. Ali naquela distância, o príncipe podia ver os cílios compridos do outro, e por trás os brilhantes olhos cor de mel. As pequenas manchas de cor escura que desenhavam o rosto e pescoço do rapaz pareciam seguir um padrão olhando mais de perto, e Derek por um segundo se viu com vontade de traçar seus dedos por ali. O outro jovem não se encontrava diferente, também hipnotizado com os olhos verdes penetrantes do príncipe tão próximos dos seus. Foi involuntário quando os dois se aproximaram mais; a mão da mais novo saiu da boca do outro, que já não se importou mais com a sujeira, toda a vontade que tinha naquele momento era saciar aquela vontade curiosa e repentina de encostar a boca na do outro rapaz.
— Isso não é justo! — a voz da garota de nove anos se fez presente, assustando os dois jovens que se afastaram de súbito — O Sti sempre sabe dos melhores esconderijos! Eu nunca consigo achar vocês — a menina disse enquanto esfregava o nariz que escorria. Ela também estava encharcada e a ponta do seu vestido pesada de lama.
Demorou um minuto inteiro para que os rapazes se recuperarem do episódio todo. O clima havia ficado estranho, e eles não olhavam um para outro, envergonhados. Derek se recuperou primeiro e levantou do chão sujo, pegando a irmã no colo e a levando para dentro mesmo sob protestos. Eles precisavam de um banho quente e roupas secas antes que pegassem um resfriado.
Porém já havia sido tarde demais, e os três teimosos foram acometidos pelo resfriado. Cora era mimada pela mãe de todas as formas possíveis, e usava a situação como desculpa para se ausentar das aulas e ganhar toda regalia que quisesse. Os outros dois jovens, por outro lado, não tiveram aquela sorte, e estavam de castigo até a próxima geração da família real; Derek sempre teve a saúde muito boa e o resfriado mal surtia efeito em seu corpo bem estruturado; o tempo havia sido generoso com ele. Já Stiles não tinha a mesma sorte, sempre fora magrelo e de saúde frágil como a da mãe, então havia ficado péssimo com o resfriado.
Como a rainha/mãe do jovem estava ocupada com a princesa da família, sobrava para Derek cuidar do amigo, sempre lhe dando os tônicos e usando panos úmidos para baixar a febre, lhe servindo das sopas vindas da copa, conversando com ele para matar o tempo enquanto o garoto estava acamado. Não que Derek reclamasse, ele não reclamava de maneira alguma, até agradecia por ser ele ali cuidando do outro, pois tinha a certeza que Stiles era bem cuidado; as camareiras do castelo eram imparciais mas não simpatizavam muito com o jovem que sempre foi de dar muito trabalho.
Em um dos momentos de febre alta do jovem Stiles, ele começou a delirar, falando coisas que não faziam sentido para Derek. Ele estava no quarto do jovem, velando seu sono, quando Stiles o puxou para sua cama. Derek pensou que ele já estivesse melhor e que quisesse começar mais uma de suas guerras de travesseiro, porém não esperava de jeito nenhum que Stiles fosse o beijar.
Beijos como aquele, na boca, era algo que Derek havia experimentado poucas vezes na vida; seus pais, por serem a família alta do reino eram muito rígidos em relação ao relacionamento e conduta que o príncipe herdeiro deveria ter, e o respeito e autoridade que sua família tinha aos arredores do castelo impedia o jovem adolescente curioso de sanar sua vontades carnais.
Como de praxe então o adolescente que ainda habitava dentro dele se deixou levar pelo ato do outro, aumentado a intensidade do beijo. Naquele momento os dois esqueceram-se de um pequeno detalhe que, se fosse de conhecimento geral, renderia a maior guerra já ocorrida naquele reino: eles eram dois homens. E dois homens não deveriam se beijar daquela maneira tão impropria, muito menos usar as mãos para conhecimento íntimo do corpo alheio, nem se abraçarem deitados em meio aos lençóis como faziam.
Em suas mentes naquele momento, aquele pequeno grande fato era insignificante. Para eles aquilo era apenas mais uma forma de demonstrarem seu amor e carinho um pelo outro, sem malícia, apenas o carinho inocente que ambos sentiam, o afeto íntimo fora fraternal que careciam.
Aquela nova experiência havia sido boa o suficiente para ambos decidirem continuar com aquilo por mais vezes, mas cientes de que deveriam seguir em sigilo e com extremo cuidado para não serem pegos. Com o passar dos dias porém ficava difícil eles manterem as bocas longe, e quando menos esperavam já estavam aos beijos pelos cantos do palácio.
As aulas de esgrima e luta corporal haviam se tornado um motivo plausível para que eles estivessem constantemente se tocando mesmo que em público; as cavalgadas pelos campos comuns desde quando eram bem jovens haviam evoluído para encontros furtivos longe do olhar de qualquer um, onde podiam cavalgar até o rio e tomarem banho juntos enquanto se divertiam na água como quando eram crianças; as noites antes solitárias haviam se tornado o fechamento perfeito depois de um dia de sorrisos e olhares furtivos trocados.
E antes que se dessem conta da dinamite que criaram, eles estavam apaixonados como garotinhas que sonhavam com o príncipe encantado. Sem nem se dar conta de que toda aquela pólvora estava perto demais de seus corações.
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𝐑𝐨𝐲𝐚𝐥𝐬 『Sterek』
FanficAté onde vai o preconceito da sociedade? Até onde um amor suporta a opressão? Até quando se pode esconder algo que deveria ser velado de tão bonito? Na Terra Média em 1300 era comum ver dois homens duelando; seja por poder, amores, vinganças, dinhei...