Opia

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Juliette's POV

Opia (n.): A intensidade ambígua de olhar alguém nos olhos, o que pode fazer se sentir simultaneamente invasivo e vulnerável.

É absolutamente incrível como a vida é imprevisível, como tudo se transforma tão rapidamente. Em um momento você olha ao seu redor e vê as coisas de um jeito, mas não precisa de mais do que apenas um piscar de olhos para que tudo o que você viu segundos atrás já tenha mudado completamente.

- Sério, eu quis pular da cadeira quando você falou aquilo pra professora. - Giu tagarelava com toda a empolgação do mundo enquanto andávamos a caminho do The Village. - Garota, você precisava ver a cara da Machado! Você nem viu, né? - Perguntou, segurando meu braço e quase me sacudindo.

- Eu vi! - Amanda apareceu totalmente do nada ao nosso lado, intrometendo-se na conversa. - Cara, ela foi uma bruxa com você.

- Quem foi uma bruxa com ela? - Foi a vez de Pedro se juntar a nós, passando o braço pelo pescoço de Giu que, tenho certeza, se segurou muito para não desmaiar. - Ah, não, espere. Anitta Machado, posso apostar!

- Isso mesmo! - Giu respondeu, seu tom era um misto de indignação com a professora e empolgação pela presença de Pedro. - Bem que você avisou.

- Avisei mesmo. - Pedro concordou, cheio de si. - O que "a frozen" fez dessa vez?

- Frozen? - Finalmente eu tive vontade de falar alguma coisa, mas imediatamente quis me bater por perguntar algo a respeito dela.

- É! É assim que chamam ela por aqui. "Frozen". A mulher mais fria da qual já se teve notícias em Harvard. - O garoto loiro explicou, enquanto passava a mão, cuidadosamente pelo topete cuidadosamente arrumado para parecer despenteado. - O que ela fez com você, afinal?

Fria? Por um lado aquele adjetivo pareceu cair muito bem para descrever a minha professora, a mulher que menos de meia hora atrás praticamente humilhou-me na frente de toda a minha turma, mas por outro lado aquilo não fazia o menor sentido; o lado no qual ela havia sido absolutamente encantadora e educada uma semana atrás. Eu não sabia o que me incomodava mais: o fato de ela ser totalmente contraditória ou o fato de que esse comportamento contraditório estava me deixando intimamente incomodada. Afinal, ela era só uma professora que tinha um comportamento estranho.

- Ah, nada. - Respondi, tentando cortar o assunto, mas é óbvio que Giu iria falar por mim.

- Nada? Nada?! - Giu me olhou indignada. - Ela humilhou a Juliette no meio da aula, sem mais nem menos. Disse que o traço dela era horrível. "Seus traços retos parecem linhas curvas e suas linhas curvas parecem minhocas de tão mal feitas". - Giu repetiu exatamente a mesma frase que Anitta havia usado comigo, tentando imitar o tom irritante da professora, mas saindo muito mais como indignação do que qualquer outra coisa.

Eu preferia que ela não o tivesse feito. A mera repetição da frase já me fazia sentir todo o constrangimento e a humilhação que eu havia sentido na hora da aula. Senti-me irritada com a repetição exagerada do assunto. Tudo bem, eu já sabia que ela era uma bruxa, que tratava mal os alunos mesmo depois de ter sido um amor uma semana antes e...

- Caramba! - Pedro exclamou. - Ela fez isso só com a Juliette? - Ele exclamou, pela primeira vez parecendo realmente surpreso.

- Foi, só com a Juliette. Ninguém entendeu, cara. O desenho da Juliette era o melhor da sala. Eu vi o de quase todo mundo. Não tô conseguindo entender porque ela fez isso. Mas a Juliette saiu por cima. Quase fiquei de pés para bater palmas. - Ponderou Amanda, animando-se no final.

"Nem eu", pensei.

- Ela sempre é rude com a turma inteira, mas com um só aluno, nunca se teve notícia. - Pedro falou, usando um tom misterioso.

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