Unsuree

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Juliette's POV

Unsuree (n): incerteza inquietante.

"Assim que se olharam, amaram-se; assim que amaram-se, suspiraram", a voz de Ohana soou embargada, enquanto a garota corpulenta encarava a folha do meu livro, que pegou minutos antes de cima da minha mesa de cabeceira.

Percebi a garota suspirar e engolir seco, antes de falar, enquanto eu organizava em uma pasta os papéis que Anitta havia me dado na aula daquele dia, com meus trabalhos e provas do meu primeiro período da faculdade.

- Se você e Anitta casarem e tiverem aqueles mausoléus de família, o epitáfio da lápide bem que poderia ser essa frase. – Ohana soltou, aleatoriamente, ainda com os olhos fixos na página.

"Lápide...Epitáfio", as palavras repetiram-se involuntariamente em minha mente e franzi o cenho, construindo em meu rosto uma expressão, possivelmente, inexplicável até para mim, antes de virar o rosto em direção à garota.

- Mas que conversa mais mórbida, Ohana. – Assinalei, ignorando, apenas por estar concentrada demais em outra coisa, o teor do que ela havia dito.

- Acho que faz um pouco de sentido. – Giu falou, enquanto sentava-se ao lado de Ohana, na minha cama, segurando uma xícara cheia de creme de morango que ela e a garota de cabelos castanhos haviam feito enquanto eu estava fora.

Ohana havia aparecido em nosso dormitório logo após eu ter saído para encontrar Anitta e as duas, aparentemente, haviam chegado a um consenso no que dizia respeito ao relacionamento, ou seja lá o que era aquilo que havia entre elas. Seja lá o que elas haviam decidido, envolvia não terem se desgrudado, mesmo na minha presença; carinhos pelo rosto, dar comida na boca e olhares que, facilmente, poderiam explicar como eu olhava para Anitta, por exemplo.

Decidi não fazer comentários que as envergonhasse de agir daquela forma na minha frente, afinal, elas estavam no começo do "algo" temido por Giu, e uma coisa que eu, com certeza não queria, era acabar fazendo com que se retraíssem. Assim, apenas concentrei-me em minhas coisas e encarei o comportamento delas como algo costumeiro.

- O que faz sentido? – Perguntei, lembrando que precisava responder Giu, mas tendo esquecido completamente o teor da conversa, depois de divagar brevemente sobre a decisão de não comentar sobre o excesso de "melação" entre as duas.

- O que Ohana disse, ora. – Giu falou, olhando-me de cima da minha cama, com a cabeça encostada no ombro esquerdo de Ohana, antes de colocar uma colher do creme de morango na boca.

- Óbvio que faz sentido. Tudo o que eu digo faz sentido. – Ohana afirmou com tanta veemência que quase me convenci antes de rir da minha amiga.

- Faz sentido pensar em um epitáfio de casal para mim e Anitta? – Perguntei sarcasticamente, colocando os últimos papéis no lugar correto.

"Provas com provas. Trabalhos com trabalhos. Desenhos com desenhos.", repeti mentalmente, enquanto colocava um croqui na aba de desenhos da pasta.

- Não, essa parte realmente não fez sentido Hana. – Minha amiga falou, passando a mão no queixo de Ohana, como se a consolasse por não ter feito sentido em algo. – Mas fez sentido o fato de que essa frase faz sentido para você e para Anitta. "Assim que se olharam, amaram-se; assim que amaram-se, suspiraram". – Giu repetiu a frase e, naquele momento, dei mais atenção ao significado dela, inserida ao meu contexto com Anitta.

"Assim que se olharam, amaram-se; assim que amaram-se, suspiraram", repeti mentalmente e não pude conter um sorriso fugitivo em meus lábios, que tratei de esconder o mais rápido possível, antes que minhas amigas percebessem. Elas estavam completamente certas, aquela frase se aplicava perfeitamente a mim e à Anitta.

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