Aquilo que não se suporta

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Sem saber que sou eu que carrega a balança da justiça nas costas, eu entro na sala, sem saber que ela está pendendo para um lado, o lado ruim, o pior deles. E a minha inclinação corta como uma foice, mas o corte arde como o papel, mínimo, insignificante. Mas arde.

Eu entro na sala como se o dia fosse normal, embora não seja. E sem saber, me incumbiram de traçar o destino de todos. E sem saber, descubro que sou eu que acabo com sonhos também, ou qualquer traço de sorriso. Mas eu só ouço risadas.

E por que dói, se deveria ser indolor? E por que é desimportante, o que por algum motivo é? E se é vazio qual o motivo pelo qual todos correm nos corredores o tempo todo? Por que só vejo corpos sendo levados por uma euforia de inércia? E não há escolha. De nenhum dos lados. Me escolheram para ser aquilo que não se suporta olhar. Aquilo que não se aguenta. E os escárnio palpável me acompanha todos os dias sem exceção. Mas eu não escolhi.

Não era pra ser assim. Infeliz. Vazio. Inútil. Acho que as pessoas colocam os sentidos que encontram nelas mesmas nas outras coisas, porque se isso viesse de algum lugar senão das gentes, isso teria mais uma pitada de um não sei o que, mas que ainda não há.

Vinte e trêsOnde histórias criam vida. Descubra agora