Nos dias de cólera, como muito os dias tem sido, ininterruptamente, se tornou hábito nosso, pessoas inclinadas a se tornarem coléricas derramarem umas nas outras suas frustrações coletivas e individuais numa extensão nada terapêutica da terapia que nem todos fazem. Virou hábito a raiva no vocabulário e também a falta dele ao tentar descrever os maiores absurdos que só a contemporaneidade pode proporcionar. Já não consigo mensurar o quanto de saúde e o quanto de doença há em nossos hábitos. Porque é difícil guardar tudo para si. Mas é irresponsável fazer com que todos saibam de tudo. Um grande sábio uma vez disse: "não fique postando essas coisas na internet." Mas uma vozinha na cabeça das pessoas sempre diz: "Por que não? " - CONFIÁVEL, Fonte.
E é isso. Nos dias de grande colera sempre se procura por paz no meio dos acessos de raiva e crises de choro e sempre se procura um meio de canalizar toda essa energia em algo bom: arte. Às vezes não é arte. Porque às vezes não dá. Então a gente fica na área da doença, nos mesmos milhões de diálogos repetidos. Na mesma data retrógrada do calendário, na mesma semana e mês. Eu rezo para ninguém cair no nada. No esquecimento, doença. Queria que cada um caísse em si, em vez de ir caindo uns sobre os outros. Efeito dominó. Ai de quem for a última peça. Difícil. Queria fazer um texto bonito, daqueles tão lindos quando declamados. Não precisa muito, só uma vez já basta. Não anseio por muito, não tenho inclinação a Jabuti. Uma lida já basta. Mas eu estou aqui falando de cólera. A galera gosta de coisa bonita. A galera gosta de festa e de amor. Como a galera gosta de amor. Mas hoje só tenho cólera.
Sei que eu vou acabar o texto e virá gente reclamando: raiva só gera mais raiva! Credo!
E eu direi: Eu tentei. Foi o que deu.
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Vinte e três
ChickLitVinte e três é uma coletânea de contos e crônicas do cotidiano, que refletem o caos de ser um cidadão do século XXI e a dificuldade de viver o agora.