Capítulo 1

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Narrador 

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Narrador 

Nova York, Estados Unidos.

Mount Sinai Hospital

O som dos passos de Florence ecoava pelo imenso corredor do hospital. 

 Ela buscava liberar todo o seu nervosismo dando repetidas voltas em círculo na ala de espera, sem se importar com os olhares irritados voltados para si.

Por que o médico estava demorando tanto? — perguntou a si mesma em um turbilhão de pensamentos.

Seu coração batia freneticamente em busca de respostas, ansiando por um sinal de que tudo ficaria bem. Mas todas as esperanças foram despedaçadas quando Florence avistou o médico de sua mãe no corredor, murmurando um "Eu sinto muito" enquanto se aproximava dela.

Num instante, seus movimentos se tornaram lentos, como se o tempo congelasse ao seu redor. Ela caiu de joelhos no chão frio, as mãos agarradas aos cabelos, soltando gritos de dor e desespero.

Não, não, não! — soluçou, sentindo um aperto insuportável no peito. —Eu a perdi para sempre! — afirmou entre lágrimas. —Não! 

Os enfermeiros logo apareceram, tentando acalmá-la, mas Florence mal os via. Estava mergulhada na dor avassaladora da perda, incapaz de sentir qualquer coisa além do vazio e da angústia que a consumiam.

—Me soltem! Me deixem vê-la! Eu preciso dela! — protestava, afastando-se dos toques dos estranhos. —ME SOLTEM! — gritou, uma mistura de fúria e angústia ecoando por entre as paredes do hospital.

E então, a sensação de ter uma agulha perfurando sua pele, fora a única coisa que ela recordou, antes de adormecer a contragosto nos braços de um enfermeiro.

Algumas horas depois...

Florence deixou a bolsa cair no chão ao entrar em casa, sentindo as lágrimas inundarem seu rosto outra vez.

Como posso viver sem ela? — questionou-se em silêncio, desabando contra a porta da sala. Não queria se levantar, não queria fazer esforço algum, apenas desejava sentir a dor consumi-la até não restar mais nada.

Seu cão se aproximou, apoiando uma patinha em seu ombro e lambendo seu rosto, tentando oferecer algum consolo.

—Dexter. — Ela murmurou, envolvendo o amigo peludo em seus braços trêmulos. — Nós a perdemos. — Sussurrou angustiada, deixando-se afundar no abraço do animal. — Nós a perdemos para o maldito câncer.

O cachorro permaneceu ao lado dela, silencioso, enquanto Florence tentava lidar com o turbilhão de emoções que a consumia.

Há quatro anos, Eleanor havia sido diagnosticada com câncer de pulmão, desencadeando um pesadelo que assombrava a todos ao seu redor, especialmente Florence. Todos os tratamentos possíveis foram tentados, mas nenhum foi capaz de deter o avanço implacável das células malignas.

Eleanor previu que seu fim estava próximo e, com o resquício de força que lhe restava, transferiu todos os seus bens para a filha, garantindo que ela não sofresse dificuldades financeiras após sua partida.

Naquele momento, Florence sentia-se desolada, tentando encontrar sentido em sua própria vida. 

Como poderia suportar a dor da perda? 

Como poderia viver sem sua mãe?

Com um último suspiro, ela subiu as escadas em direção ao quarto, deixando-se cair contra a cama, desejando com todas as forças que tudo não passasse de um terrível pesadelo.

*

No dia seguinte...

Eleanor Williams nunca foi uma fã de funerais. Assim como a maioria das pessoas, ela achava fúnebres e melancólicos demais para homenagear o fim da trajetória de alguém.

E honestamente, não gostaria que fizessem uma cerimônia triste em sua homenagem.

Florence tentou alertar sobre o quão desnecessários eram aqueles discursos fúnebres, mas estava fraca demais para protestar.

Diante da lápide de sua mãe, ela depositou um pequeno ramo de flores, lendo as palavras gravadas na pedra fria com os olhos marejados.

"Aqui jaz Eleanor Williams: Amorosa mãe, detetive perspicaz, e mulher encantadora. Seu sorriso e coração generoso serão lembrados para sempre.

1980 – 2018"

—Eu te amo, mãe. — murmurou com dificuldade, despedindo-se com um último olhar para a figura materna gravada na pedra. —Vamos, Dexter, é hora de voltar para casa. — disse ao cachorro, engolindo o nó que se formava em sua garganta.

Abandonando o cemitério, ela seguiu em direção ao carro, abrindo a porta do passageiro para seu fiel companheiro.

—Florence, espere. — A voz de sua "avó" materna interrompeu seus pensamentos, fazendo-a virar-se para encará-la.

—Está sentindo remorso?! — A jovem perguntou com descrença, observando a mulher mais velha se aproximar.

—Florence, por favor, me escute. — A mulher suplicou.

—Não tenho nada para ouvir de você! — respondeu exaltada, perdendo a paciência.

—Eu e seu avô podemos ajudar, nós...— ela tentou se aproximar.

—Vocês sabem como podem ajudar minha afilhada? — Marylin Gonzalez interrompeu, aparecendo no local. —Ficando longe dela, como sempre fizeram. — Afirmou, encarando o casal mais velho com um olhar ameaçador.

Os avós maternos engoliram em seco, acatando o recado da detetive mesmo que à contragosto. Afastaram-se, deixando Florence sozinha com sua madrinha.

—Vamos para casa, praga. — Mary disse, guiando-a até o carro. Em poucos segundos, deram início ao trajeto de volta.

O dia estava nublado, quase como se o céu compartilhasse a tristeza de Florence. O sol escondido atrás das nuvens carregadas, denunciava uma paisagem cinzenta, que refletia suas emoções.

Não era segredo para ninguém, o quanto Eleanor fora menosprezada pelos familiares por ter engravidado tão jovem. As únicas pessoas que permaneceram ao lado dela, foram alguns amigos. Seus pais não só a expulsaram de casa, como também a deserdaram ao descobrir que ela, com 19 anos na época, havia engravidado. A jogaram mundo afora, e nunca fizeram questão de a procurar durante todos esses anos. 

Florence cresceu sozinha, somente com Eleanor e poucas pessoas ao seu lado. Sendo elas a madrinha, amigos de trabalho da mãe, e familiares que se arriscavam a manter contato. Ela também nunca soube muito sobre o seu pai, nem procurou saber, era um assunto proibido, e a presença de sua mãe era mais do que o suficiente para ela.

—Nós vamos ficar bem. — Ela murmurou para o cão ao seu lado, despertando-se de seus devaneios. —Contanto que tenhamos um ao outro, Dexter. — Afirmou, afagando suas orelhas enquanto voltavam para casa.

Ao menos, era isso que ela esperava.

(1132 palavras)

Caos Entre Luzes e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora