VICENZO COLLALTO
— Sabia que o encontraria aqui.
— Entre e se esconda comigo – ofereço ao meu irmão, que não pensa duas vezes ao entrar e trancar a porta da biblioteca.
— Está fugindo da dona Julietta ou de sua esposa? – Cristian pergunta, já imaginando o porquê estou tão escondido nas últimas horas.
— Das duas. – respondo razo – Me casarei daqui à onze horas, não posso ficar perambulando pela casa feliz.
São nove da noite, amanhã às 8h será o meu casamento. Minha mãe queria manter a tradição da nossa família, casar ao amanhecer e a família principal aceitou essa parte. Os preparativos estão todos prontos, a primeira-dama, Harper, veio passar aqui para vê se estava tudo em ordem. A cerimônia acontecerá no jardim dos Savóia, logo a festa acontecerá aqui em casa.
— Não sei como se sente, mas espero que fique bem depois de se casar. – diz – E nem falo isso por se casar com Jane, mas por estar fazendo isso totalmente contra sua vontade.
— Estamos na máfia, Cristian. Nunca vi um casal se casar por livre e espontânea vontade ou até mesmo por existir sentimentos reais. – respondo, encarando meus dedos cruzados – Casamentos são acordos, negócios vantajosos.
— Mas nem sempre precisa acabar de forma ruim, você pode tentar gostar dela, não falo de amor, mas de respeito. Não seria legal passar o resto da sua vida ao lado de uma pessoa que odeia, não consigo me vê nessa fatídica situação.
— E não precisa. – me levanto da proltrona que estava sentado – Pode ir atrás de uma noiva, alguém que lhe surja interesse verdadeiro e tomá-la sua.
— Você melhor do que eu, sabe que isso seria bem difícil. – o vejo se ajeitar ainda mais na proltrona, parecendo desconfortável – Nosso pai não é a pessoa mais fácil de se lidar, não estou afim de entrar em outra guerra contra ele. Na primeira vez não foi legal.
— Então deixará ele te controlar?
— Sabe que eu não tenho outra opção – com uma rapidez incrível, ele se põe ao meu lado, encarando-me com os olhos cinzentos – Nosso pai ainda têm ela na mira, não quero imaginar o que pode fazer se algo der errado. Então, sim, ele ficará com a porra do controle.
— Sinto muito.
— Eu também sinto. – abre um sorriso amargo – Mas voltando à sua esposa. Não tentou falar com Jane, nenhuma vez?
— Não e nem.. – antes que eu completasse minha frase, batem na porta do escritório, me cantando. – Abra e veja quem é.
— Mandarei embora. – afirma, indo até a porta e destrancado. O corpo de Cristian fica tenso quando abre a porta dupla de madeira, não consigo vê quem é, já que meu irmão é bem mais alto do que a pessoa intrometida. – Pode entrar.
Quando ia questioná-lo, por deixar a tal pessoa entrar assim, acabo engolindo tudo que eu ia dizer. Jane aparece no meu campo de visão, me deixando estático no mesmo instante. Os fios loiros estão presos em um rabo de cavalo, deixando seu rosto exposto. Ela usa uma calça jens preta, uma blusa gola alta branca com listras verdes e uma bota cano logo, com salto. Jane não se parece nada com as mulheres dessa organização.
Ela é apenas ela, têm seu próprio estilo, seu jeito e o olhar e algo enigmático, não mostrando o que realmente transparece. Decidida, ela passa pro Cristian deixando apenas o som do salto bater contra o piso de madeira da biblioteca. Sem dizer nada, meu irmão fecha a porta depois de sair, me deixando à sós com a cobra da família Savóia.
— Olá – ela diz suave, pela primeira vez ouço sua voz e sinto um arrepio passar pelo meu corpo. Que porra é essa?
— Diga o que deseja – pingarreio, voltando a me aproximar da parede mais próxima e apoiando meu ombro na mesma.
— Vim conversar em paz, senhor Collalto. – aponto para a proltona, mas ela nega suave, fazendo seu cabelo chicotear com sua ação – Serei rápida.
— Estou ouvindo.
— Nunca desejei me casar, muito menos ser uma mera parideira para seus filhos. Mas, assim como você, não tenho escolha e estou sendo obrigada a dizer sim no altar. – ela da um passo à frente – Espero que possamos nos dar bem, já é tortura demais me casar e seria pior ainda ter um inimigo dormindo ao meu lado todos os dias.
— Não terá que se preocupar com isso, senhorita Savóia. Terá seu próprio quarto, irei forçar uma amizade que não existirá entre nós dois. – cruzo meus braços e percebo que esse ato atrai seu olhar – Mas terá o meu respeito, será minha aliada e isso já está de ótimo tamanho pra mim.
— Como desejar. – rola os olhos verdes, demonstrando o quanto acha isso desinteressante – Só não aceito gracinhas. Não sei o tipo de mulher que andou ficando durante esses anos, mas esqueça tudo que aprendeu com ela e começa a enxergar um mundo novo. Não preciso de um homem pra me proteger e nem me dar ordens, não serei sua esposa troféu e muito menos submissa à você.
— Não me importo com o que você faz ou deixa de fazer, ragazza – digo em um tom frio, deixando Jane visivelmente surpresa – Antes que oense que eu desejo uma esposa para exibir, estará se frustrando, o máximo que eu puder deixá-la longe de mim, eu farei.
— Aliviante ouvir isso. – exibe um sorriso debochado.
— Acabou? – questiono, observando ela passar a mão pelos cabelos.
— Já estou de saída. – se vira, caminhando até a porta e sai, batendo a mesma.
— Que cazzo de mulher. – digo à mim mesmo.
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A Inglesa - Nova Era 1 - Conto
RomanceVol.1 Nova Era - Série da Máfia. Jane Savóia, uma das maiores máquinas de matar da máfia. Após ser adotada, ela vive uma vida um tanto intensa. Jane dedicou-se inteiramente para à máfia, até que quando volta de uma missão e é comunicada do seu casam...