Meu herói?

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— Nos encontramos de novo — emendei com a risada nervosa.

O recém-chegado se limitou a concordar com a cabeça e se ajeitou em sua poltrona no lado do corredor.

Olhei pela janela pensando em deuses e má-sorte mais uma vez. Mas talvez não fosse tão ruim; o vizinho tinha feições sérias e não parecia inclinado a conversar e isso sempre era algo bom em viagens longas. Como tenho uma feição gentil (palavras da minha mãe, não minhas), as pessoas sempre me alugavam por horas em suas conversas e, não que eu não goste de conversar, mas por que tinha que atrair pessoas tão exóticas? Senhorinhas querendo falar de remédios naturais para doenças nojentas, desconhecidos que falavam muito alto, crianças sinceras demais... Uma vez ouvi toda a história de amor e ódio de uma ex-presidiária que ainda cogitava esfaquear o ex-namorado e a namorada atual dele... Em fim, um imã para problemas, é isso que eu sou.

O avião decolou após todo o protocolo de avisos e checagens.

O frio na barriga que acompanhava a subida já tinha passado, mas permaneci de olhos fechados relaxando no assento pensando que dessa vez cumpriria minha meta e dormiria bastante durante o voo. Nada de tédio ou inquietação, pelo menos, não em ao menos metade da viagem. Cinco horinhas era o suficiente.

— Furihata Kouki. Camisa 12. Seirin.

Abri os olhos para retribuir o olhar do homem ao lado que tinha resolvido conversar.

Cabelos e olhos vermelhos, pele de alabastro, sobrancelhas muito finas, rosto triangular, olhos estreitos e longos, voz baixa e firme.

Pisquei duas vezes. E ri. Dessa vez com gosto.

— É você mesmo? Akashi-san? Ex-capitão da Rakuzan?

Agora que olhava direito, percebi que teria reconhecido ele se eu não tivesse ficado tão nervoso com a situação com a norueguesa. Akashi-san continuava basicamente o mesmo, as diferenças estavam apenas na idade; rugas suaves ao redor dos olhos, maxilar mais maduro e ombros mais largos. Ele vestia um conjunto social de calças azul escuro e camisa azul claro, um relógio discreto no pulso esquerdo. O fato de que ele vinha de uma família muito, muito rica acendeu no fundo da minha mente. Tentei não pensar no vexame de mais cedo com a minha roupa de funcionário aéreo.

— Desculpe não reconhecê-lo antes.

Ele fez um mini "não" com a cabeça como se não desse importância.

— Faz muitos anos — reiterei.

— Vinte anos desde que o vi pela última vez. — Olhei para ele assustado pela exatidão. — Na formatura do Ensino Médio. Fui para cumprimentar Kuroko, acho que você não me viu.

— Ah, eu vi! Eu vi sim, mas acabamos não conseguindo conversar...

— Sim.

O insistente olhar de canto que Akashi lançava na minha direção parecia querer dizer algo mais, mas eu não consegui receber o que as ondas cerebrais tentavam comunicar.

— Não te vi no casamento do Kuroko — ele apontou.

Olhei para frente.

— Ah, sim. Eu não pude ir... Minha mãe teve câncer nessa época e, como eles moravam no interior e eu na cidade, foi um período turbulento.

— Entendo. Ela está melhor agora?

— Sim. Ela se recuperou.

Não precisava dizer que a segunda família de seu pai também foi revelada no meio de tudo e eu achei que se a doença não matasse minha mãe, o desgosto iria.

O azar de Furihata KoukiOnde histórias criam vida. Descubra agora