Sr. Patinhos

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Felizmente, a conversa retornou aos poucos. Primeiro de forma superficial; falamos sobre o cardápio depois que a aeromoça passou por nós explicando sobre as opções de jantar. Depois voltamos a conversar sobre coisas gerais da vida, carreira, preferências literárias e musicais, filmes... O maior cuidado para não pisar naquela linha de novo, embora eu notasse vez ou outra que Akashi-san me encarava.

Trocamos telefones antes de desembarcar. Um sentimento estranho de ansiedade começou a me pinicar quando outros passageiros se levantaram para descer do avião. Em doze horas aquele espaço de duas poltronas tinha sido revestido por uma bolha invisível porque eu me esqueci completamente das pessoas ao redor e até mesmo do meu próprio cansaço. Akashi-san se levantou para pegar sua mala de mão e eu o segui para fora e pelo caminho até o interior do aeroporto. Alguém esperava por ele em poucos metros.

— Nos despedimos aqui então, Akashi-san. Foi muito bom revê-lo.

Estendi a mão para cumprimentá-lo (totalmente influenciado pela recente semana no ocidente), mas no mesmo instante me arrependi, eu parecia formal demais daquele jeito. Akashi-san retribuiu o cumprimento encaixando sua mão na minha sem pensar duas vezes.

— Digo o mesmo. — Tentei recolher a mão do contato, mas ele firmou seu aperto. — Mas não se esqueça que ainda temos assuntos pendentes.

— Vai esperar que eu ligue dessa vez? — provoquei de volta sem pensar.

Ele não sorriu, mas seu olhar não parecia bravo. Sua mão era afável e cálida.

— Não abuse da sorte, Furihata-kun.

Já que ele estava sério, decidi não rir também. Fiz uma breve reverência enquanto me livrava do aperto de mãos e seguia meu caminho tentando resistir ao impulso de olhar para trás.


ʕ•ᴥ•ʔ


Foi o tempo de chegar em casa, arrancar as roupas e pular na cama: desmaiei por quase dez horas. No dia seguinte ainda estava exausto e com o corpo doendo. O jet lag durou mais uns três dias.

Como esperado, Akita-san adorou meu episódio com a norueguesa e teve uma crise de risos tão forte que ajudou a reviver sua artrite.

Akashi-san mandou mensagem segunda-feira à noite. Nada de bom dia, boa tarde ou boa noite, nenhuma pergunta sobre "como vai a saúde", nem mesmo "olá, Akashi aqui". A mensagem dele era uma única foto de um chihuahua peludo e fofinho com a língua de fora. Revirei os olhos na vida real e enviei como resposta um emoji revirando os olhos também. A resposta veio quase no mesmo instante.

Passamos a conversar quase o tempo todo. Sempre tinha assunto; íamos de lugares turísticos até "como descobrir a temperatura ideal para fritar tempurá". E ele gostava de mandar fotos aleatórias e estranhas. Uma vez mandou foto de uma grade de janela que achou bonita; outra, de um par de meias contando que tinha certeza que uma delas tinha sido adulterada por que, embora fossem de cores idênticas, a trama de fios no tecido parecia ser diferente.

E eu passei de uma pessoa que sempre se gabou por não dar a menor importância para o celular para um maníaco que corria para o aparelho a cada mínima pausa que fazia no trabalho. Precisei tirar o som das notificações no Nine de tantas mensagens que estava recebendo durante um almoço.

Os ajudantes do laboratório começaram com cochichos e risadinhas, mas depois que Akita-san fez um comentário malicioso sobre eu estar sorrindo demais, todos os subordinados começaram a falar e rir abertamente sobre meu suposto romance.

O azar de Furihata KoukiOnde histórias criam vida. Descubra agora