Fale comigo

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Renjun não tinha vizinhos desde quando tinha se mudado para o país.

Mas também ele não poderia mudar o fato de morar em um dos bairros mais silenciosos que se podia existir, por ali só se habitavam idosos e adultos que nunca saíam de casa a não ser para trabalhar. Renjun era o único quase adolescente da área, tinha completado 23 anos recentemente e seus pais o deram de aniversário telas novas e diversas tintas.

Por isso era meio impressionante que não existisse só ele de adulto que ainda morava com os pais. Agora mesmo ele olhava pela fresta da janela um rapaz alto em frente ao jardim da casa vizinha.

Seus olhos não paravam de vagar pela rua, as mãos entrelaçadas umas nas outras e os pés inquietos calçados em um all star azul. Seus cabelos claros que caíam pelos olhos eram um charme a menos, Renjun gostava de pessoas que mostravam a testa, ele parecia uma criança com rosto inocente, olhos pequenos e falta de bochecha.

Desviou os olhos quando uma mulher grávida chamou o rapaz e ele correu desengonçado até ela, eles entraram na casa.

─ Bisbilhotando a vida dos outros, querido? ─ Sua mãe o chamou, Renjun se distanciou da janela indiferente e se sentou no sofá ao lado dela.

─ Se mudaram para a casa da frente, será que ela ainda é habitável? Tanto tempo que não é ocupada.

Ela riu fraquinho.

─ Não saberemos se não vermos de dentro. ─ Ela levantou indo para a cozinha. Renjun foi atrás.

─ No que está pensando?

─ Só torta de morango.

Mais tarde naquele dia, quase no finalzinho da tarde, Renjun acompanhou sua mãe até a casa dos novos vizinhos. Um pouco decaída, mas mesmo assim não cairia com um simples vento de chuva.

Ela deu dois toques na porta e quem abriu foi a dona, a mulher grávida. Uma figura baixa e de cabelos curtos com bolsas debaixo dos olhos miúdos, sua expressão mudou de ranzinza para surpresa em segundos com a visão dos dois.

─ Boa noite, somos seus vizinhos da casa da frente, queremos desejar boas-vindas.

─ Ah! ─ Ela abriu um sorriso nos lábios carnudos. ─ Muito obrigada! Entrem, por favor. ─ Abriu a porta para eles.

Renjun entrou depois de sua mãe e foram guiados para a cozinha pela nova anfitriã. Para Renjun a casa parecia em bom estado, cheirava a amaciante e tinha quadro de pessoas felizes por toda a sala, o que era um pouco diferente da sua casa, seus pais só guardavam fotos de família em álbuns nas gavetas, o resto era tudo bem minimalista e meramente organizado que dava a Renjun a satisfação de pensar que havia alguém naquela casa que era perfeccionista.

─ Eu sou a Sojin e vocês? ─ Ela ofereceu a eles cadeiras na mesa e procurava nas gavetas alguma faca para dividir a torta.

─ Sou Huang Nuwa e meu filho Renjun.

─ Ah, são chineses? Passei um tempinho na China na minha adolescência, de onde vieram?

A mãe de Renjun a respondeu de bom grato, enquanto Renjun só ficava observando o espaço, ele não era muito bom em socializar.

─ Espero que meu filho não esteja dormindo. ─ Ela disse simpática, assim que cortou as fatias da torta. Correu devagar até o início da escada, que levava ao segundo andar, e gritou pelo filho e pediu para ele descer depressa, depois voltou para a mesa. ─ Ele tá tentando se acostumar com a casa.

Renjun ouviu passos leves sob o piso da casa, então ele se esgueirou para olhar pelo ombro o mesmo rapaz alto de antes, vestindo pijama de caveirinha, com os cabelos loiros bagunçados, sua expressão serena. Ele cumprimentou todo mundo com uma reverência rápida antes de ir para o lado da mãe.

─ Park Jisung, estes são nossos vizinhos Nuwa e seu filho Renjun. ─ Ela apontou para os dois, enquanto sua outra mão abraçava a cintura do filho.

Ele acenou e sorriu sem mostrar os dentes, depois se sentou.

─ Jisung é um garoto muito especial. ─ Voltou a falar a mãe, seus dedos pequenos sumindo nos fios claros.

Renjun quis saber porque ele era especial. Seus olhos, enquanto comia a torta não pararam de mirar o rosto manso do outro, e mesmo depois do rapaz notar seus olhos, ele não parou, estava encantado com sua beleza.

Park sorriu para Renjun, o canto dos lábios fazendo um furinho natural, os olhos diminuindo sob as bochechas. Mas Renjun não correspondeu ao gesto, ficou sério. O garoto desviou os olhos envergonhado, mas Renjun, como um lunático, ainda ficou o olhando.

Suas mães, durante aqueles minutos juntas, conversavam como se fossem melhores amigas, rindo alto e falando sobre podres das celebridades. Foi uma noite agradável.

Quando tudo acabou e a mãe de Renjun se despediu da senhora Park, ele ficou olhando Jisung, esperando ouvir sua voz ao menos antes de ir embora, para se certificar se era tão encantadora quanto ele e sua calmaria. Mas ao invés de um tchau incoerente e receoso, Jisung fez sinais com as mãos para a mãe e apontou para cima e enquanto ela assentiu, Jisung subiu as escadas saltitando.

─ Me desculpe, ele está cansado por causa da mudança recentemente. ─ Alisou sua enorme barriga. ─ Da próxima vez, talvez ele seja mais sociável.

Foi aí que Renjun notou, a ficha caiu, que Jisung era especial.

Eram 5:00 am, Renjun tragava um baseado no jardim, sentado sob a grama e observando o sol nascer no céu.

Submerso em seu mundo a procura do que pintar e depois ir atrás de algum emprego pelo centro da cidade, precisava ajudar seus pais em casa e o salário de atendente do mercadinho não dava em muita coisa.

Sugou de novo a fumaça da erva para dentro quando a porta da casa vizinha se abriu e de suéter o filho da senhora Park saiu, ele acenou para Renjun e caminhou até ele. Até seu jeito de andar era fascinante.

Ele se aproximou o suficiente para Renjun achar estranho. Então ele foi rude, sem nenhuma piedade.

─ Ah, não! Eu não entendo a sua língua, então não venha puxar assunto ─ disse soltando a fumaça.

Jisung parou em seu trajeto e fez cara feia para ele, enrugando o nariz e dando meia volta.

─ Ei, espera aí! ─ gritou, se arrependendo.

Jisung parou de novo, na rua e olhou para ele.

─ Vem cá ─ disse e entrou para dentro de sua casa, quando voltou tinha um caderno em mãos e um lápis. Jisung estava sentado no seu lugar, onde a grama já estava amassada. Huang deu o caderno e o lápis para ele. ─ Fala comigo. ─ Pediu voltando com ao que fazia antes.

Jisung virou a cabeça para o lado, observando o chinês vizinho procurando algo para o que dizer.

Park escreveu devagar e depois deu o caderno para ele.

Estava escrito com uma letra longa e elegante: "Isso aí fede!"

Renjun riu e o entregou o caderno de volta.

─ Me desculpa se cada um tem seu próprio jeito de buscar inspiração.

Ele olhou para Jisung, seus olhos piscando adoráveis. Escreveu no caderno de novo e o deu para ler.

"Se matando, sério?"

─ Só o lucro, meu amor.

Jisung se ruborizou pela forma que ele o chamou. Ele parou um pouquinho, tentando conter o sorriso idiota que estava em seus lábios. Renjun não tirou os olhos dele, sorrindo também malicioso.

"Me desculpa por ontem, você ficou me olhando e eu fiquei sem jeito."

─ Tudo bem ─ Huang respondeu e amassou o baseado no vaso de plantas de sua mãe e o jogou em um buraco de tijolo escondido entre as plantas.

"Amigos, então?"

─ Pode ser, mas com uma condição.

Jisung ficou confuso e esperou a continuação de sua frase.

─ Me deixe te pintar.

Afrodite teria inveja de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora