GREECE one

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— Harry.

                         Eram três da manhã quando um sussurro doce acariciou os ouvidos de Kissy, chamando-o suavemente pelo nome que só sua mãe costuma pronunciar tão delicada e calorosa. Ele sentiu mãos inteiras por suas costas, passeando em sua pele e subindo para seus cabelos. Seus olhos se abriram, piscando.

Havia um cigarro apagado em seus lábios. Brooklyn dormia logo ao seu lado, com mechas escuras de cabelo caindo nos olhos e bochechas angelicais. Para Harry, ou Kissy, era como se olhar no espelho.

A mão de Cherry pousou agora no rosto de Brooklyn e o cutucou gentil, querendo despertá-lo também num fim de um voo quase completo. Ao olhar pela janela, notou que a escuridão ainda tomava conta dos céus, mas se olhasse com cuidado para o horizonte, veria a luz alaranjada querendo tomar um pouco do espaço que o azul marinho ocupava ao redor de nuvens quase transparentes. A visão que ele tinha fora tampada por um rosto sereno, bronzeado, lábios vermelhos beijando seu filho na testa e afastando os fios dos cabelos dele enquanto os pequenos olhos esverdeados tentavam criar vida.

Kissy levou os dedos para a cintura de Cherry.

— Precisa parar de fazer isso. Volta pra cama, por favor. — ele disse rouco, virando-se no colchão e tirando o cigarro dos lábios. Aproveitou o caminho para puxar o isqueiro do bolso e o acender, já que Brooklyn estava levantando como se a alma ainda não tivesse chegado ao corpo dele, então a fumaça não o incomodaria. Em passos lentos e coçando os olhos, dizendo baixinho um bom dia, papai Kiss, seguiu para o banheiro, cambaleando. — Uh? Cherry, amor.

— Fazer o que? — Louis varreu o olhar pelo seu corpo desnudo, notando que apenas a calça de couro marrom o cobria da cintura para baixo. — Precisa trocar esta calça. Ela está quase andando sozinha.

— Tenho várias peças iguais. — ele bateu a mão na própria coxa. — Senta aqui. Vem pra mim. Preciso te olhar. — como se desobedece-lo fosse um pecado, Cherry ergueu a perna direita e sentou-se sob as coxas de Kissy antes de se arrastar mais para frente e montar em seu abdômen, abaixando o tronco e abraçando a parte de trás de sua cabeça enquanto o calor do cigarro aceso chegava a quase se encostar na ponta de seu nariz empinado.

— Me diga o que não posso fazer.

— Quando me trata com amor, quase da mesma forma que trata meu filho, me faz dar um passo a mais na direção de amar você. E amar você me faz querer compor, o que nunca mais fiz desde que me lembro. E compor me faz querer cantar enquanto toco guitarra na frente de pessoas que não conheço e que só estão me ouvindo dizer poesias sobre quem eu amo. E saber que elas podem te conhecer através das minhas palavras me deixa tão enciumado tanto quando vejo Oliver te tocar como se você pertencesse a ele. — o sorriso que Cherry tentava segurar perfurava seu peito como tesouras de unha. A carícia em seus cabelos dilatava suas pupilas. — Pare de me olhar assim e aceite um beijo meu. Estou implorando.— os dedos livres do cigarro tocaram os lábios bem desenhados de Louis. — Na sua boca. Por favor. Pois não é atoa que me chamam de Kissy. Caso negar, me chamará de Harry.

— É proibido partir o coração de um rockstar? — a pergunta o fez gemer abafado, apertando o corpo da nicotina entre os próprios lábios secos e rachados por culpa da essência matinal. — Oh, Kissy, seu dia de sorte está chegando. Tenha paciência. Apenas tocarei a sua boca quando parar de ser restrito consigo mesmo. — Louis, cuidadosamente, retirou o cigarro dos lábios de Kissy e o tragou repentino. — Levante. Estamos na Grécia.

Levando o amor e o carinho de minutos embora, Cherry Louis lhe devolveu o cigarro e deixou seu corpo, levando junto sua alma tão frágil que desejava se acorrentar de propósito à alma dele.

Ele tinha melodias na cabeça.

🍒

Enquanto Louis e as meninas se preparavam para o show que ocorreria naquela noite, Kissy estava em cima do palco vazio, sem plateia, apenas o vento, os ares e seu filho o assistindo dedilhar delicado as teclas do piano que seus dedos conheciam de letra.

Dizer que ele estava irritado naquela manhã seria eufemismo. Ele estava transbordando ódio. Não sabia ao certo por que seu coração se incomodava tanto quando via Oliver respirando ao redor de Cherry, o tocando e o dizendo coisas que faria ele prende-lo ao chão e socá-lo até que não restasse mais um pingo de sangue em seu corpo.

E se Kissy já fez isso uma vez, teria a completa coragem de fazer de novo.

A proteção que ele sentia por Louis era algo tão novo quanto voltar a escrever. Não sabia exatamente o porquê; poderia ser porque o garoto tinha um sorriso infantil e uma alma tão inocente que o lembrava de como era ser criança. Tinha olhos tão doce que o lembrava como era ser olhado quando pequeno. Cherry Louis o olhava dessa forma, sem procurar defeitos e sem sentir medo, como se ele já soubesse de cada segredo de sua alma e de seu coração inteiramente aberto.

O egoísmo queria possuí-lo por completo. Depois que ele tivesse aquele anjo, ninguém o pegaria novamente.

— Papai, — Brooklyn veio caminhando pelo palco enorme que o deixava minúsculo em meio a tantos instrumentos. Seu cabelo mediano balançava conforme seus passinhos firmes. — Isso é para Cherry?

Ele subiu com dificuldade no colo de Kissy, sentando-se em uma de suas coxas enquanto mantinha a cabeça erguida para o pai, olhando-o nos olhos.

— O que? Minha ira ou as melodias?

— Ambos.

— A primeira opção é para Oliver. As melodias são para Louis. — Kissy afastou mechas de seu cabelo para beijá-lo na têmpora. — Muito precipitado, Rock?

— Não. É amor?

— O papai não sabe.

— É paixão, então, papai. Você disse no ano passado que paixão acende os olhos e agora os seus estão bem acesos. É como a fogueira da nossa casa no campo; eu consigo ver até mesmo as faíscas.

— Oh, menino, — ele sorriu entre um riso sincero, agarrando o rosto de seu pequeno filho com uma das mãos quentes. — Como pode ser tão sábio? Meu melhor amigo. Você é o meu melhor amigo.

— Porque eu te amo, papai K, — Brooklyn deitou a cabeça em seu ombro, o abraçando do jeito que conseguia. — Cherry Louis irá também.

— Irá o que?

— Te amar.

JAMES DEANOnde histórias criam vida. Descubra agora