3 - O desfecho

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(Diana)

Eles hesitam durante intermináveis minutos...

E finalmente decidem seguir na direção do mini shopping, ainda em construção. De certo acham que me escondi no canteiro de obras...

Aproveito a chance e corro como louca. Ouço passos atrás de mim. Fui descoberta. Continuo correndo até sentir os pulmões arderem. Não vou conseguir dar mais um passo. Eles estão se aproximando. E o pior é que aquele trecho é ideal para me jogarem no mato que circunda o rio (rio, não, agora é um esgoto a céu aberto que a prefeitura finge que não vê).

Quando dou por perdido, surge o homem com capuz. O da tosse. Paro de correr. Os homens atrás de mim também param de correr. O sujeito misterioso faz um gesto para que eu saia da frente. Eu me afasto enquanto eles se estudam em silêncio.

O único som da noite são as respirações entrecortadas.

- Não se mete, cara - diz um dos caras! - O contrato é nosso!

Pera... Contrato? Como assim?

O sujeito baixa o capuz e eu tomo o maior susto da vida. É o desconhecido com quem transei no beach club. Ele... Ele estava me seguindo?

- Tarde demais para não me meter - responde o estranho.

O grupo dos caras se separa, estrategicamente. O líder tira a faca com a mão tremendo.

O meu salvador se posiciona, estende a mão e acena, como quem diz: "Pode vir".

Os caras se encaram em dúvida. Nenhum deles se mexe. Então, o da faca decide mostrar porque é o líder e parte para cima... E é derrubado com dois golpes.

Ele se levanta e foge, deixando os outros perdidos. Eles abandonam a luta e fogem, atrás do líder. Um deles comenta: Nenhum contrato vale o risco.

Encaro o meu salvador. Tenho que olhar para cima, porque ele é alto. Ele recoloca o capuz, gira nos calcanhares e começou a se afastar.

- Espere! Quem é você? Por que está aqui?

Ele para de andar e fica de costas.

- Obrigada por salvar a minha vida.

Ele sacode a cabeça e fica meio de lado, olhando para mim por entre as sombras projetadas pelo capuz.

- Não precisa agradecer. Só... da próxima vez, vê se escolhe um horário descente pra correr! Escute sua voz interior, se é que você tem alguma!

Como é que ele sabe da minha voz interior...? Acaso é telepata? Confusa, abro a boca... - então toca uma buzina de carro. Viro para trás e vejo o carro do meu marido freando no meio da rua.

- Diana!

Viro para o meu salvador, mas ele não está em parte alguma. Sumiu como um demônio na névoa. Estremecendo, eu me volto para o meu marido e corremos na direção um do outro.

Nós nos abraçamos.

- Como? - ele pergunta, depois de algum tempo. - O que aconteceu?

- Longa história. - Desorientada, vasculho as redondezas com o olhar. A rua deserta, o vento uivante, e o sol nascendo são tudo o que tenho certeza. No mais, sinto como se estivesse acordando de um pesadelo.

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Quando comecei a trabalhar na promotoria e a ter contato com bandidos e inocentes, descobri uma coisa muito importante: Não existem coincidências. Aquele estranho no bar, aquele mesmo estranho numa rua deserta... No meio da madrugada... Salvando-me sabe-se lá do que? Não, não foi coincidência. Estava claro que ele havia me seguido e que sabia de algo sobre mim, que eu não fazia ideia.

O meu palpite é que estava relacionado a um dos casos que peguei recentemente. E devia estar relacionado com o desaparecimento de Sofia.

De todo modo, eu sei que agora lhe devo um favor. E pela sua perícia, ele não é um perseguidor qualquer. Um mero stalker. Ele é alguém muito bem treinado. Ex-militar, talvez.

Dever um favor para alguém como ele não é o mesmo que dever uma xícara de açúcar para um vizinho. Devo minha vida a um cara com todas as características de um fantasma. E dos bons.

Tudo que me resta é sentar e esperar. Primeiro, só ele pode me dizer porque fui caçada no meio da noite. Eles sabiam meus horários e hábitos. Não foi uma investida aleatória. Estavam me vigiando. Ainda devem estar me vigiando...

Só o desconhecido pode me dizer como ele soube disso.

Procuro me acalmar. Detesto esperar, mas uma coisa é certa. Ele irá fazer contato. Mais cedo ou mais tarde... Quando chegar a hora. Tudo o que me resta é me proteger com mais empenho. Nada de correr sozinha, nem à noite, nem de dia. Nada de minha família zanzar por aí, sem proteção. Meus pais e meu marido vivem dentro de uma bolha de felicidade, acreditando que o meu trabalho não afeta as suas vidas. No entanto, no fundo, no fundo, sempre soube que um dia isso pudesse acontecer.

Os dois mundos colidirem...

Passando a mão pelo cabelo, torno a me preocupar. Devo um favor ao desconhecido e não sei quem quer a minha morte.

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