4 - A oficina do diabo

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(Demônio da Névoa)

"O ócio é a oficina do diabo", segundo dizem... No meu caso, tem sido a oficina do demônio da névoa.

Desde que fomos desativados, e considerando que meu tempo nesta vida é contado pelo cronômetro celestial, formou-se uma combinação perigosa de fatores a guiarem os meus passos. Somando as duas coisas - o ócio e o tic-tac do relógio - criei a minha versão pessoal de "oficina do diabo".

Tic-tac...

Não há tempo a perder.

O tratamento experimental vem travando um duelo com o meu câncer, o que me torna mais ou menos operacional. Cada dia, cada semana, é uma incógnita para mim. A vida passou a ser definida como uma sucessão de surpresas de kinder ovo.

Papo reto? Tá, decidi que não tenho mais nada a perder. Digo isso porque, basicamente, acabei me tornando um justiceiro barato. Mentira, nada barato... (risos)

Criei um sistema sofisticado de retribuição.

Sim, sou pago regiamente por certos serviços prestados - isto é, das missões que decido aceitar. Mas, os "trabalhinhos" são divididos entre os do tipo classe A, bem pagos, e os do tipo pro bono, como classificariam médicos e advogados que dão uma ajudinha aos necessitados (uma forma de retribuir à sociedade pelo treinamento recebido na academia). Pois bem, alguns trabalhos eu reservo para pessoas que não têm condições de me pagar; pessoas que não merecem passar pelo que estão passando; ou simplesmente eu simpatizo com elas.

Considero uma maneira de retribuir à sociedade todo o treinamento que o Governo me proporcionou; especialmente, quando elimino algum ditador de algum país perdido neste mundo de Deus, o qual nenhuma OTAN ou ONU têm coragem de imputar as culpas de seus atos genocidas. Também acredito estar retribuindo, quando elimino um chefão do tráfico, ou quando salvo centenas de pessoas de um carregamento de escravas sexuais...

Afinal, não sou filho de chocadeira. E se tivesse uma filha, não iria tolerar que a tornassem uma puta forçada. Ah, sigo o rastro até aqueles que manipulam os cordões desse tipo de comércio. E não hesito em meter uma bala na testa.

Eu mato.

Essa é a minha profissão.

E sou extremamente habilidoso.

Se já fiz para o governo, por que não posso devolver aos cidadãos o que eles pagaram pelo meu treinamento? Assim, utilizo as minhas habilidades em lugares e situações em que não há interesse político. (Sabemos como funciona a relação Política versus Bem da População, nos dias de hoje)...

Não me importa o que os eunucos burocratas pensam. São uns putos!

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Os meus serviços classe A e os pro bono são devidamente administrados, em minha agenda. Nada impede que eu aceite alguns servicinhos pagos por algum sheik do petróleo; ou pagos pelos donos de uma indústria farmacêutica que está testando novas medicações para o tratamento do câncer... (Foi desta maneira que consegui o meu tratamento experimental. Graças a ele, ainda estou aqui, festejando cada dia, cada mês e cada ano. O presidente da indústria chegou a me dizer, depois do servicinho prestado, que eu sou um profissional bom demais pra ser levado pela doença.

Quem sou eu para discordar...)

Certa vez, recebi um pagamento estratosférico para planejar e executar a fuga de um gângster condenado à morte. Eu o extraí de dentro do pavilhão, no famoso "corredor da morte". Faltava meia-hora para a sua execução.

Ele me deve a vida e mesmo tendo me pagado e à equipe que treinei para realizar o famoso feito... (Não se falou de outra coisa na mídia por um ano inteiro)... Eu sei que posso contar com ele, se um dia precisar.

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