Capítulo 1. A Sala de Detenção Me Parece Um Bom Lugar Pra Namorar

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Capitulo 1

A Sala de Detenção Me Parece

Um Bom Lugar Pra Namorar.

O corredor direito inicialmente parecia uma boa opção, quando David passou voando pelo pátio. Infelizmente ele se esqueceu da enorme barricada feita de cadeiras velhas que os alunos do 8° ano fizeram para quadrilha. Sem muitas opções, o garoto de cabelos marrons limpou o suor da testa e analisou a situação.

Estava num corredor sem saída, sendo perseguidos por três repetentes e meio, se contar o parrudinho mimado que com certeza não passaria pro ensino médio. Não tinha como voltar rápido o suficiente sem que desse de cara com o trio parada dura e seu mascote. Agora o que fazer?

"Pensa Castilho, pensa" Sua mente resguardava a frase do pior professor que já tivera. "Você tem que dar uma dentro pelo menos uma vez na vida"

– CASTILHO! – gritou o projeto de gente ao longe. – Eu vou te pegar seu palerma!

Vitor Hugo não sabia como se soletrava palerma. Na verdade, David desconfiava que ele sequer entendia o que palerma significava. Mas como provavelmente ouvira o Pica-Pau usar uma vez no desenho, então achou que seria uma ofensa inteligente.

"Fudeu"

Se voltasse daria sua localização pro merdinha. Se tenta-se escalar as cadeiras, provavelmente ficaria preso e com a bunda vira direto para eles, praticamente pedindo pra levar um chute. E as portas das salas eram trancadas pro intervalo.

"É, fudeu" concluiu por fim.

Não que fosse um covarde. Sabia muito bem que daria conta de dois deles com facilidade. E com sorte, até derrubaria o terceiro dando tempo de escapar pela tangente. Mas os quatro de uma vez? Era apelação. Mas já que o jeito era lutar, decidiu que não ia pegar leve. Iriar cair, mas se era pra cair que seja lutando.

Felizmente não precisou lidar com aquilo sozinho. Da porta a sua esquerda, surgiu magicamente um garoto de camisa vermelha, que com seus braços magricelas puxou David para dentro da sala. Era Julian, que mais uma vez tinha que resgatar seu melhor amigo de alguma merda que tinha aprontado.

– Seu bosta, que merda tu fez lá atrás? – mesmo com um rosto afeminado, Julian conseguia passar bastante intimidação com seu olhar da morte.

– Como é que tu viu? Aliás, que que ta fazendo nessa sala?

– Apagando todos quadros como meu castigo pelo último incidente de acetona na cueca... Mas isso não tem nenhuma importância! – disse ele agitando os braços, dramalhão como sempre. – Que tu tinha na cabeça de jogar balão d'agua na porra do filho da diretora?

David lhe lançou um sorriso malicioso.

– Não era água – revelou.

Julian piscou seus olhos esbranquiçados.

– Filha da Puta.

Os dois caíram na risada. Que foi rapidamente cortada pelo barulho de porta batendo. Eles estavam chutando e arrombando as salas para achar quem procuravam. Logo mais, derrubariam a porta certa.

Não que fossem exatamente as portas mais seguras do mundo. As trancas daquela porcaria eram uma piada. Mas a trupe de Vitor, "As Vitoretes", tinha moral pra quebrar patrimônio escolar. David não.

– O terraço – sussurrou Julian.

Os dois se espremeram na janela defeituosa, que dava numa escada de manutenção nos fundos do pátio. Em outra situação, seriam facilmente vistos pelos alunos no pátio, mas assim como o corredor, o pátio estava quase todo bloqueado para a festa junina. Então, fora o selador que varria a quadra e meia dúzia de alunos que o ajudavam, ninguém os veria subindo.

David Castilho e O Cão da Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora