a despedida

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Quando Hitoshi acordou, Denki não estava mais lá.

Se levantou sozinho, meio atordoado pelo sono que nunca acabava — e um dia duvidava que iria —, e inicialmente procurando por Kaminari após se vestir novamente. Mas logo se tocou de que ele poderia estar na garagem, e logo suspirou, antes de enfim ir até a cozinha, pegando somente um iorgute natural, bebendo ele na força do ódio por acordar. Odiava acordar. Principalmente quando ficava bocejando e quase caindo daquele jeito o dia inteiro, parecendo um bêbado.

Somente se escorou na mesa da cozinha, achando que seria mil vezes melhor se fosse um café em suas mãos; só que já havia aberto o iorgute e não sabia o que fazer com ele. Contudo, uma ideia brilhou na mente quando ouviu um barulho vindo da garagem. Se perguntava se o loiro gostava de iorgute. Ele disse que gostava de doce, e mesmo que iorgute natural tivesse um gosto meio azedo, quem sabe. Não custaria nada arriscar.

Quando chegou lá e abriu a porta, somente avistou as costas dele, ainda distraído, enquanto consertava o localizador. Se perguntava quando ele iria concertá-lo verdadeiramente, e mentalmente, esperava que fosse logo. Não porque o queria embora dali ou algo do tipo, na verdade se sentia muito bem com ele ali, principalmente depois de ontem à noite. Só que ainda assim o menor parecia cabisbaixo, e o conseguia compreender com facilidade tamanha. Não conseguia se imaginar na situação dele, era doloroso, pensar que poderia não voltar mais para casa, não ver todo mundo com quem você se importa e quem se importa com você. Era lamentável.

Se aproximou dele em passos lentos para o mesmo não lhe perceber, e sorriu sádico quando encostou a garrafa do iorgute na nuca do peftastéri, vendo-o dar um pulo assustado quando sentiu o gelado contra a tez, ocasionando um choque térmico que fez os pelos se arrepiarem como se tivesse levado um choque de verdade. Ele pôs a mão sobre a nuca e virou espantado para o outro, e revirou os olhos quando percebeu a real situação. Shinsou riu baixo, porém, logo parou ao se pôr ao lado dele, cruzando os braços enquanto o observava tentar fazer alguma coisa com as aréolas do localizador.

— Como está indo? — perguntou quando se aproximou um pouquinho mais, encostando os ombros e ouvindo Denki suspirar levemente

— Não sei...

As palavras foram ditas com certa tristeza em seu tom, como se ele realmente estivesse na dúvida sobre sua vitória sobre aquilo e isso o deixava mal. Todavia, mesmo quando virou o olhar, encarando seu perfil, seus olhos não pareciam lamentar tanto assim, como se ele estivesse dizendo que não tinha nada demais isso acontecer.

O arroxeado ergueu a mão, tocando o rosto dele no queixo com leveza e o trazendo lentamente para perto, beijando o canto dos lábios dele com suavidade. Seria somente um selinho comum, no entanto, Kaminari jogou os braços graciosamente por seus ombros, lhe segurando no lugar enquanto fechava os olhos e o beijava de novo ao mesmo tempo que o maior segurava seus braços e rosto, deixando a cabeça virar um pouco para o lado para poderem se encaixar melhor. E o louro separou o beijo ao jogar a cabeça para trás, sorrindo travesso enquanto uma de suas mãos agora agraciava o cabelo do humano, que alisava seus braços com cuidado.

— Está tudo bem? — indagou, querendo ter certeza de que ele realmente não estava muito triste

O mais baixo assentiu, beijando a lateral de seu rosto ao lhe abraçar definitivamente, esfregando a cabeça contra seu ombro e pescoço, fazendo cócegas e com que Hitoshi o apertasse um pouco mais, colocando a cabeça sobre a dele.

×××

Mais uma vez Hitoshi acordou com braços o balançando e palavras altas em seu ouvido, o chamando, e resmungou rabugento enquanto tentava afastar Denki para poder dormir em paz. Estava em um sono tão bom...

— Hitoshi!... Toshi... — ele continuou o perturbando até que Shinsou abrisse os olhos com muita relutância e conflito, segurando as mãos insistentes dele que o balançavam quase que preguiçosamente

— O que é...?

Não conseguia ver muita coisa, estava escuro. Esta situação parecia muito com a de semanas atrás, quando Kaminari o acordou quando havia achado o localizador naquela noite, esperançoso para voltar para casa. Mas desta vez não ficou surpreso quando ele voltou a brilhar de repente, amarelo e luminoso como uma grande bola de fogo ao seu lado na cama de seu quarto. Uma estrela...

Ele sorria grandemente, seus olhos grandes e cheios de brilho direcionados somente para si. O loiro riu alto, puxando-o pelos braços até se sentar sobre o colchão, ainda olhando desnorteado para ele, somente percebendo depois de alguns segundos o porquê de sua imensa animação.

— Denki...

O chamou, contudo, o menor saiu da cama quando estendeu a mão para tocar o braço dele; e parecendo não perceber seu estado chocado, estendeu o braço e mexeu no localizador que o arroxeado nem se deu ao trabalho de observar, somente encarando o rosto feliz do peftastéri com algum sentimento receoso que não conseguia distinguir. Só que sua atenção teve de mudar no momento em que algo mudou. Os cabelos dele estavam flutuando como das últimas vezes, porém, não era só isso que flutuava agora.

Denki riu de sua expressão e se movimentou para perto de si, as luzes acendendo ao seu redor mesmo sem estarem ligadas de verdade, piscando fortemente enquanto desta vez, Kaminari flutuava em sua direção como se não existisse a gravidade ao seu redor.

O maior abriu a boca, pronto para soltar algum palavrão enorme e de baixo calão, todavia, o louro o calou ao pôr as mãos em suas duas bochechas, e com lentidão sentando em seu colo, abraçando seu pescoço em seguida. O humano quase instantaneamente relaxou e deixou com que as mãos do mais baixo controlassem suas feições quando se afastaram, o peftastéri acariciando a pele de seu rosto com cuidado.

Ele era quente. E Hitoshi nunca achou aquilo tão bom.

×××

O jeito com que o silêncio era ruim e bom ao mesmo tempo confundia Hitoshi, que continuava a andar com certa lentidão até o lado de fora de sua casa, Denki ao seu lado à todo momento segurando sua mão com carinho. O céu estava escuro, nuvens acizentadas borrando seu plano assim como as pintinhas brilhantes que eram as chamadas estrelas. Shinsou viu um risco pequeno ali em um piscar de segundos, uma estrela cadente. Era linda...

Somente tirou a visão já acostumada dali quando não sentiu mais os dedos de Kaminari entre os seus, e olhou para ele com uma mínima mágoa, mas que não deixou transparecer. Não era como se fosse ficar triste de uma forma crônica por ele ir. Se sentia feliz por ele se sentir feliz, empolgado e animado com o grande sorriso e olhos brilhantes e grandes direcionados para o céu, desta vez, cheios de esperança.

Sorriu também, vendo ele andar aos pulos até o meio de seu jardim — agora, sem medo algum de suas rosas. Contudo, vendo que o arroxeado não havia o acompanhado, o loiro virou o rosto meio confuso para este, que continuava parado na batente da porta, o encarando com um sorrisinho bonito. O menor entre abriu os lábios e suspirou, logo sorrindo sem tristeza nem felicidade, e apertou um botão no localizador. O maior percebeu que ele não tinha mais medo de suas roseiras. Seus pés se elevaram novamente do chão, e o peftastéri olhou para o céu, erguendo a cabeça para trás. O humano achou que aquilo poderia se tornar uma obra de arte se fosse desenhada por alguém.

Denki virou o rosto novamente para si, e sorriu desta vez mais largo, se aproximando num instante ao capturar seus lábios com deleite, os chupando minimamente enquanto Hitoshi deixava que fizesse o que quisesse, não se opondo a nada, nem mesmo com palavras. Kaminari se afastou rindo, soltando seu rosto que segurava e se afastando aos poucos em direção aos céus, um sorriso de quem diz que vai, mas que volta em breve.

E por fim Shinsou o viu desaparecer em meio ao escuro do universo, e sorriu quando viu um pequeno risquinho passar lá no espaço, e teve certeza de que era ele.

As estrelas cadentes são sempre as mais bonitas.

estrela cadente (ShinKami)Onde histórias criam vida. Descubra agora