Capítulo Dois

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- Tenha cuidado Seth, você vai acabar quebrando algo e a acordando. - Ouço a voz de Amara sussurrando.

- Não se preocupe, já estou acordada. - Me revirou na cama para que possa olha-los.

- Ah, bom dia querida. Como foi sua primeira noite?

- Depois de nossa visita creio que não muito boa. Aliás estamos mortos Amara. - Ele dá um risinho e pisca para mim.

- Certo, isso faz algum sentido. Mas vamos ao que importa, o café da manhã já irá ser servido e se quiser pegar as melhores porções é melhor se apressar.

- Não estou com fome. - Falo secamente virando-me para parede novamente.

- Querida, você precisa comer. As refeições por aqui estão cada vez menores e menos frequentes, então se não se alimentar agora não sei quando poderá novamente.

- Não me importo com isso. - Digo, e de fato não me importo. Minha mente está ocupada o suficiente pensando a respeito de Taylor, do motivo pelo qual Amara e Seth estavam a observando, o porquê de estarem mentindo para mim e também em afastar as milhares de vozes que gritam em meu cérebro. Isso tudo me faz esquecer que poderia ter fome.

- Acho melhor a deixarmos em paz Amara, ela ainda está processando os fatos das últimas vinte e quatro horas.

- Tenho que concordar com você. Qualquer coisa que precisar não hesite em nos chamar, certo? - Aceno com a cabeça como se de fato fosse chamá-los caso precise. Me forço a levantar e seguir o conselho de Amara, por mais que tudo isso me pareça tremendamente suspeito em algo ela tem razão, preciso comer. O ambiente está consideravelmente escuro mesmo que já seja dia, ando lentamente procurando em meio as placas qual está apontando para o refeitório, é quando vejo Taylor andando de pressa por uma das vias estreitas que o corretor principal leva.

- Ela me deve algumas respostas. - Concluo, justificando o motivo pelo qual irei segui-la. Corro para alcança-la e lá está ela, remexendo um cadeado trancado, aparentemente tentando abri-lo. - O que está fazendo? - Indago como se não imaginasse.

- Por Deus, o que você está fazendo aqui?

- Poderia perguntar o mesmo, não acha?

- Certo. - Diz ignorando minha presença e voltando a se concentrar no cadeado.

- O que tem detrás dessa porta? - Pergunto mas não obtenho resposta. - É moralmente educado se responder algo quando lhe perguntam, sabia?

- Isso! - Comemora com um grunhido. - Quer descobrir? Então venha ver. - Se limita a dizer afundando na escuridão do cômodo a frente. Entro segundos depois sendo guiada por ela e uma pequena lanterna.

- O que exatamente estamos fazendo aqui?

- Você? Me seguindo. Eu? Realmente não vem ao caso.

- Ser mais gentil não lhe faria mal.

- Seth e Amara. É isso que estou fazendo aqui.

- Os dois estão no refeitório, se quer encontrá-los deveria estar lá. Pensei que fosse melhor em seguir mortos vivos.

- Não tão boa quanto você em seguir pessoas. - Sorri sarcasticamente em minha direção. - Não estou aqui para encontrá-los e sim para saber quem são.

- Creio que tenha a resposta para isso.

- Como? - Fixa a atenção em mim pela primeira vez.

- Ontem ambos me contaram. Me conhecem desde quando estive aqui pela primeira vez, cuidavam de mim.

- Claro. - Ela ri. - Não sei o que te contaram mas lamento informar que provavelmente é uma enorme mentira.

- Como tem tanta certeza? - Indago intrigada.

- Viu a marca no rosto de ambos? Uma linha curva debaixo da sobrancelha. Então, aquilo significa que não morreram em Astrad e como ainda está bem marcada julgo que tenham morrido a uns vinte anos. O que torna impossível terem cuidado de você. Mas o que de fato me intriga é como conseguiram entrar em Astrad se não morreram aqui. - Acende uma pequena lâmpada para enxergar em meio a escuridão.

- Explique-se. - Digo indo atrás dela.

- Esse lugar tem um campo protetor. Não me pergunte por que e nem como, mas tem.

- E como você sabe disso?

- Caso ainda não tenha notado posso ver os mortos, assim como você. Fora dos portões de Astrad existem muitas almas que adorariam entrar e se alimentar da energia dos vivos ou até mesmo de nossos alimentos, que aliás estão escassos nos últimos tempos, porém nenhum deles consegue passar pela barreira energética que rodeia os muros. Assim como nenhum dos mortos daqui consegue ultrapassar as grades e sair daqui. Estão presos.

- Certo, mas porquê eles mentiriam para mim, não faz sentido.

- Não é muito comum encontrar alguém que veja mortos por aqui, principalmente quando esse lugar está ficando cada vez mais vazio. Provavelmente foram testar se você era uma de nós.

- E o que exatamente está procurando nesse lugar? Se é que sabe o que está procurando.

- Qualquer pista que me mostre quem eles são e o que estão fazendo aqui. E de preferência porquê vieram atrás de mim quando chegaram. - Ela observa em volta a pequena sala, que aparentemente está completamente vazia. - Não é possível, eles sempre estão aqui, tem que existir alguma coisa que me leve até a verdade.

- Está vazia, não há nada aqui. - Falo indo em direção a saída, quando tropeço em algo. - Mas que diabos... - Taylor ilumina o chão e lá está, uma maçaneta escondida do o carpete.

- Ora, ora, você serviu para alguma coisa no fim das contas. - Ri, abrindo uma micro porta.

- Aquela garota está chegando muito perto de nós Seth, temos que fazer algo. - Ouço a voz de Amara pelo lado de fora da porta.

- Não, isso não estava nos meus planos. Eles só aparecem aqui pela noite. - Taylor fala com um tom desesperado.

- O cadeado está aberto, alguém esteve aqui. - Seth diz e percebo sua voz levemente alterada.

- O que você pretende fazer agora? - Sussuros para ela. - Como saímos daqui sem sermos vistas?

- Me siga e não faça perguntas. Me entendeu? -Fala puxando meu corpo e nos jogando contra uma das paredes do cômodo, a qual atravessamos quase que imediatamente.

- Como? - Indago embasbacada.

- Eu disse sem perguntas.

- Por que ao invés de arrombar um cadeado você somente não atravessou a paredes já que aparentemente pode fazer isso?

- É mais complicado do que você pensa. Tudo é bem mais complicado do que você imagina.

- Ótimo, então alguém me deve algumas explicações. - Ela me olha e pensa por alguns segundos antes de dizer algo.

- Certo, não entendo o motivo mas algo me faz confiar em você, então por que não lhe explicar o que sei acontece nesse lugar.

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⏰ Última atualização: Oct 08, 2022 ⏰

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Crystal e os mortos de AstradOnde histórias criam vida. Descubra agora