Para abafar o sentimento

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"Você é a pessoa mais interessante que eu conheci em anos."

Foi o que Juyeon tinha dito antes que um temporal começasse a despejar suas gotas geladas bem em cima dele e do pequeno punk ao seu lado. Eric não sabia se amaldiçoava a chuva repentina, ou se agradecia, pois ao mesmo tempo que gostaria de passar mais tempo com o Lee, também não saberia o que responder àquela frase tão preciosa, dita pelo moreno.

Juyeon tinha pegado sua mão e corrido para dentro do prédio antes que se molhassem, e então os dois trocaram breves palavras, antes de seguirem para aulas diferentes.

"Vejo você amanhã?" Eles tinham perguntado ao mesmo tempo no momento que se despediram no corredor, arrancando mais olhares atentos de um grupo de jovens que passava por ali. Mas Eric estava animado o suficiente para ignorá-los por completo.

Quando o Sohn pegou o trem para casa, ainda chovia forte, mas ele mal percebia ao cinza no céu ou sentia o vagão balançar: estava leve e podia quase flutuar, pois nunca antes em sua vida tinha aproveitado tanto um primeiro dia de aula, muito menos com uma companhia como Juyeon. Uma companhia diferente, inesperada.

O coração do americano pulsava forte e quem dera fosse apenas por causa daquela apaixonante novidade: sentia pelo líder de turma aquela sensação de encontrar um ótimo álbum numa loja de discos derrubada. Contudo seu coração também tinha pressa e outras expectativas, afinal Eric estava em uma banda e tinha mudado para o outro lado do mundo.

Ao chegar no bairro da periferia onde morava, Eric encontrou com Sunwoo perto da estação e foi levado até a oficina do Sr. Lin, onde o mais velho lhe havia prometido um serviço temporário. Eric pediu para o senhor barrigudo para que encaixasse seu horário de trabalhos em dias que não tivesse ensaio da banda e juntos, eles discutiram um pagamento justo. Não era muito, mas talvez o suficiente para tomar uma boa sopa todos os dias e, quem sabe, economizar para comprar um novo pedal para a Fender vermelha, sua amada guitarra.

Antes de ir para casa, Eric havia casualmente falado que estava deixando de fumar por enquanto e o Sr. Lin lhe deu um pirulito como uma recompensa simbólica por aquilo. Mas logo, enquanto andava para casa com Sunwoo, o Sohn pensou em trocar um hábito pelo outro.

A noite que caiu foi tranquila, os garotos pediram pizza e comeram enquanto ouviam o programa de variedades da rádio, Eric jogado no tapete e Sunwoo estirado na poltrona velha, lendo revistas. Eles riam a cada piada sobre as primeiras fases dos Beatles que o apresentador contava. Com a fatia de queijo na boca, Eric olhava a bateria de Kevin no canto da sala e de repente não podia esperar para tocar. Não podia esperar por muitas coisas, talvez nem conseguisse dormir direito naquela noite, mas estaria feliz.

O garoto aproveitou o momento de animação para escrever um postal para seu pai assim que chegou a hora de se recolher. Ele sentou numa pequena escrivaninha que havia em seu quarto e descreveu a cidade em alguns adjetivos, assim como o curso e a oficina do Sr. Lin onde trabalharia. Também agradeceu pelos momentos em que seu pai o ensinou tudo o que sabia sobre conserto de carros. Por fim, desenhou um pequeno avião no canto do cartão e logo se deitou, de repente surpreso por ter se rendido ao sono.

O segundo dia de aula de Eric veio mais calmo e lúcido, pelo menos pelas primeiras horas da manhã. Quando chegou na sala de aula, Juyeon estava concentrado demais em sua leitura e não pôde cumprimentá-lo; em seguida a aula começou e o Lee se tornou ainda mais focado. Eric invejava aquilo, mas pelo menos havia silêncio em sua mente para que pudesse focar também.

A leitura do Sohn apenas foi interrompida pela mistura baixinha de conversas e risadas, vindas do grupo que sentava ao seu lado. Como de costume, ele ignorou, mas já entendia que era ele quem causava um certo desconforto em seus colegas. Aqueles, os verdadeiros arrogantes.

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