"Lovers never die"

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Na segunda-feira, Eric não encontrou Juyeon pela faculdade. Sua cadeira na primeira fileira estava vazia e o burburinho voltava a se espalhar pela sala de aula, e pelos corredores. O Sohn se perguntava quantas pessoas daquela instituição tinham comparecido ao evento na metrópole vizinha, na noite anterior.

Independente da resposta, nada o chegou aos seus ouvidos, e pelo menos por enquanto ele continuava como um rebelde incognito. Juyeon também.

A pior parte de ter comparecido à aula foi receber três trabalhos zerados, pelas suas faltas na semana anterior. Eric se debruçou sobre a mesa e olhou aqueles papéis carimbados com tinta vermelha. Tinha voltado a ser um perdedor como era na escola, segundo seus colegas? O Sohn sabia que não, afinal ele conhecia o próprio potencial por ter conseguido ingressar num curso como aquele. Esse era seu mérito, independente do que seu professor achasse de uma pontuação como a dele, quando deu de ombros e falou, após entregar seus testes:

- Acho que a tintura em seu cabelo que previu seu desempenho.

De repente, Eric não quis mais trancar o curso, seria como dar razão aquele professor. Ele se levantou da cadeira, roubando a atenção do homem mais velho de óculos e o fez uma breve reverência. Seus colegas ao redor o olharam, surpresos.

- Com todo respeito, Sr. Park, não será pintando meu cabelo de azul que irei prever uma boa nota, e sim quando eu souber que a prova vai acontecer. Isso será quando o senhor anexar o cronograma de avaliações em seu mural, como é o seu dever - ele disse, voltando a se sentar respeitosamente enquanto o restante da turma emitia um coro de risos em baixo volume. A risada de Changmin talvez fosse a mais notável. Eles se entreolharam, brincalhões, quando Eric voltou a se sentar.

O professor pediu silêncio, irritado, e deu uma desculpa esfarrapada antes de prosseguir a aula, dessa vez deixando claro quando seriam as provas de recuperação.

Eric suspirou, por enquanto podia tentar fazer aquilo funcionar, já que estava isento da tensão que as competições traziam. De repente ele sentia que podia ser qualquer coisa que desejasse ser, não necessariamente devendo pertencer a apenas um mundo, ou a um maldito esteriótipo. Ele era Eric, guitarrista, mas também era Eric estudante. Assim como Juyeon, o moreno bem dotado que lhe fazia tanta falta naquele dia.

O americano não conseguia imaginar o que teria acontecido na ala médica onde a mãe de Juyeon o havia encontrado na noite anterior. Aquele momento o fez lembrar de quando tinha 16 anos e sua mãe o pegou fumando maconha no quintal. O Sohn ainda sentia a mão quente estalar sobre a nuca como se a tapa tivesse acontecido a poucos instantes. Ele quase tinha engolido o cigarro.

A mãe de Eric era uma mulher doce, mas que por motivos desconhecidos podia se transformar num monstro feroz se fosse confrontada com realidades as quais ela nada sabia a respeito. A mãe de Juyeon seria igual ou parecida? Ou teria problemas ainda piores, por ser mais rica, por precisar manter a reputação que a família carregava? Ele apenas imaginava, temendo o que acontecesse ali num condomínio de bairro nobre onde um "Zé Esquisito" como ele não podia transitar.

O americano não sabia até onde podia ir com a própria preocupação, não tinha o endereço do mais velho, ou o telefone de sua família, mas desejava ver Juyeon novamente, mesmo depois de tanto caos. E tanta dor. Gostaria que, assim como Eric, ele recebesse o descanso que procurava e que os dois pudessem fugir, deixando tudo para trás como um dia foi planejado, inocentemente.

Então ele esperou um pouco para vê-lo novamente nos corredores da faculdade, mas Juyeon também faltou na terça. E na quarta foi anunciado que uma das garotas do grêmio se tornaria a nova líder de turma enquanto Juyeon lidasse com suas "questões de saúde", como o professor havia dito. Na sexta, já havia alguns boatos circulando pela universidade de que Juyeon tocava numa banda de rock.

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