Prólogo

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Sônia de São José, quarenta e oito anos de idade, nascida na cidade de Sacramento, estado de Minas Gerais, onde residia com os pais João José Pereira, professor de história em uma das tradicionais escolas da cidade, e Helena São José Pereira, sua mãe, uma distinta dona de casa que escolheu dedicar toda a sua vida à amada família que construiu. Sônia vivia uma vida tranquila e feliz ao lado dos pais, era uma pessoa muito ativa. Durante a semana, na parte da manhã, estava atarefada com os deveres escolares enquanto o pai exercia os afazeres de professor com toda a dedicação possível, ele amava o que fazia mesmo sabendo o quanto a sua profissão não tinha o valor que era devido. Sua dedicada mãe cuidava da casa, arrumando, limpando, lavando, passando e, com muito carinho, preparava o almoço para receber a filha, por quem tinha grande estima. Os divertimentos aos finais de semana eram na casa dos seus avós paternos, que residiam em uma cidade vizinha. O que Sônia mais gostava de fazer era de estar na companhia dos anciões da família, recebendo os seus doces conselhos e carinhos. Aos domingos, pela manhã, eles iam à missa agradecer a Deus pelas bênçãos recebidas. Uma família de vida humilde e tranquila. Era tudo perfeito e da maneira em que eles viviam felizes, parecia que nada poderia afetá-los. E, de alguma forma, não poderia mesmo, uma vez que a família era baseada no amor, eles não tinham dificuldades financeiras e nem enfermidades que pudesse destruí-la. Houve uma separação temporária sim, mas o sentimento ainda existia, estava enraizado dentro de si. 

Mas o inesperado aconteceu e o seu herói, de quem tinha muito orgulho, havia perdido a sua primeira batalha e seu pai acabou sendo tirado de suas vidas violentamente em um assalto. Naquele dia, Sônia sentiu que haviam tirado o seu chão, mas o que mais lhe doía era ver a mãe destruída por ter perdido o companheiro de uma vida inteira, então ela sentiu que deveria ser o apoio da mãe, tendo que estar forte por ela. Em um ano, suas vidas tinham se transformado bruscamente, e levou um tempo até que Helena se recuperasse da dor que a falta do seu amado lhe causava. Tudo naquela cidade o lembrava, fazendo com que Helena sofresse, e foi então que decidiram que era a hora de seguir em frente. Não havia motivos para continuarem na cidade que não trazia boas lembranças a elas, e foi com a ajuda de uma prima que residia na cidade de São Paulo, que decidiram que lá seria a próxima moradia. Com o dinheiro da venda da casa em Sacramento, algumas economias feitas ao longo dos anos e mais o dinheiro da pensão que 

Helena começou a receber do seu esposo, elas deram entrada em um pequeno apartamento no centro de São Paulo, onde recomeçaram a vida. Tudo para Sônia era novo. Elas chegaram à cidade fria em um dia cinzento e chuvoso, os grandes e bonitos prédios chamaram a sua atenção, sem contar a agitação da cidade, que era bem diferente do que ela estava acostumada. As grandes lojas e as pessoas apressadas para não se atrasarem para seus compromissos dividam espaço com os carros, ônibus e bicicletas, que percorriam as ruas. Helena, que nunca havia trabalhado em sua vida, com a ajuda da sua prima Isadora, começou a fazer e vender doces para festas, completando assim a renda da família. Sônia sempre ajudava a mãe quando retornava da escola. Não foi fácil para Sônia abandonar a sua cidade. Ela chorava quando sentia falta dos poucos amigos que tinha feito na escola onde estudou desde o primário, quando se lembrava dos avós e tudo o que a fazia se recordar do seu pai. Sempre que sentia a saudade doer, ela se dirigia até o túmulo dele e passava horas conversando como se ele pudesse ouvi-la e, de alguma forma, ela sentia que ele fazia isso. Mas agora, longe, nem isso ela podia mais fazer. Ele sempre fez com que ela prometesse cuidar de sua mãe com muito carinho, e essa hora tinha chegado, mesmo que isso lhe custasse a própria vida. Sônia sempre foi amiga e companheira de sua mãe, que a ensinou muito sobre a vida e como ela deveria se comportar para ser uma boa esposa. Nas horas vagas, ela a ensinava a lavar, passar e cozinhar, sempre a alertando que ela deveria estar pronta para quando este momento chegasse. E ela se orgulhava da mulher que se tornou, dedicada e zelosa, como a sua mãe era por seu pai, ela seria para o seu esposo. Sônia teve muitas dúvidas sobre a vida a dois, e a vida sexual de um casal era uma delas. Sua mãe nunca a tinha ensinado nada sobre sexo, sempre foi reservada nesse assunto, mas ela não a julgava por isso, afinal, foi a criação que Helena recebeu da mãe. E com ela não seria diferente, Sônia sabia que tudo o que sua mãe fazia era pensando nela e em sua felicidade. Sabia que não importava o quanto ela crescia, sempre iria vê-la como a sua pequena princesa indefesa. Dois anos havia se passado, quando Helena abriu a primeira loja de doces finos em sociedade com a sua prima. Sônia foi para uma nova escola, onde conheceu Jonas. Ela nunca tinha acreditado em amor à primeira vista até conhecer o garoto por quem se apaixonou e que veio a se tornar o seu esposo, companheiro de grandes aventuras e descobertas. Nunca, nem mesmo em seus sonhos mais loucos, imaginou vivenciar experiências até então desconhecidas por ela. Tudo aconteceu inesperadamente. Sônia estava sentada na arquibancada da quadra de sua escola na companhia de sua mais nova amiga, Susan, que havia insistido que ela a acompanhasse para assistir a uma partida de futebol onde Isaías, um dos garotos que compunha o time e por quem Susan estava apaixonada, jogaria como titular naquele dia. Mas o que Sônia não imaginou era que naquele fatídico dia, quando ela quis apenas fazer uma gentileza a uma amiga, ela veria Jonas pela primeira vez. O garoto que mexeria com todos os seus sentidos, muito mais do que ela gostaria. O moreno com o corpo magro, ideal para a sua idade, olhos castanho-escuros e cabelo com grandes cachos levemente bagunçados prendeu totalmente a sua atenção, como se ela estivesse hipnotizada. Talvez ele tivesse o poder de hipnotizar quem atravessasse o seu caminho, já que era um garoto bonito, sensual e elegante, popular entre os seus amigos. Ninguém estava imune a Jonas, e Sônia também não estaria. Com os olhos cravados sobre o jovem rapaz, que conversava animadamente com alguns dos companheiros de time, Jonas estava alheio ao olhar de cobiça de uma jovem garota que sentia o seu coração bater acelerado, suas mãos transpirarem, e uma vez que estava muito ansiosa, o ar lhe faltou e um frio percorreu dentro de sua barriga. Uma sensação gostosa, como ela nunca tinha sentido, tomou conta de seu corpo. Sem que ela tivesse se dado conta, um pequeno sorriso de satisfação se formou em seus lábios, mas Sônia despertou do seu devaneio quando um grupo animado de meninas passou na sua frente e, para a sua tristeza, notou que não era a única que Jonas havia despertado sentimentos. Com tanta concorrência, nunca que ele iria olhar para ela. Foi o que Sonia pensou. — Quer pipoca? — Sônia voltou a sua atenção para a amiga Susan, que segurava dois sacos de pipocas e oferecia um a ela. — Obrigada — ela agradeceu ao mesmo tempo em que o pegou sem muito ânimo, então voltou a sua atenção para o campo, onde o juiz usava o apito para anunciar o início do jogo. (...) Duas semanas se passaram após o jogo de futebol em que Sônia havia notado o moreno de cabelos cacheados, e desde aquele dia ele invadia os seus pensamentos. Sempre que ela atravessava o pátio da escola, procurava incessantemente pelo delinquente que tinha roubado os seus pensamentos. Algumas vezes, ela se pegou pensando se ele realmente existia ou não passou apenas de um sonho – o sonho mais belo que ela poderia ter. O que Soninha, como era conhecida carinhosamente por todos, não imaginava era que tudo o que viu e sentiu por Jonas era real. Como ela se sentiria se descobrisse que já estava escrito nos planos de Deus que ele seria o seu amigo, namorado e o seu futuro marido? É como dizem, quando é para dar certo até mesmo o vento e o tempo sopram a favor. E foi naquele dia que os relógios de Soninha e Jonas trabalharam em favor do futuro casal. Seria um dia como outro qualquer se já não estivesse escrito nas estrelas que aquele seria o momento do reencontro. Ambos estavam atrasados e distraídos, e não viam que se aproximavam e, por fim, seus corpos se chocaram. Sônia foi ao chão com todo o seu material e foi ali que Jonas a notou pela primeira vez. Uma morena de longos cabelos escuros, corpo esguio, olhos pretos, pele branca e lábios carnudos avermelhados, por quem acabou se apaixonando. — Oh, me desculpe. — Atordoada, ela fitou o rapaz, que recolheu o seu material espalhado e, em seguida, se aproximou e estendeu a mão a ela. Ela a segurou e ele, gentilmente, a ajudou a se levantar.

— Está... está tudo bem — ela gaguejou, se sentindo afetada pela presença do rapaz. A mão macia e ao mesmo tempo firme dele queimava sobre a dela, e todas as sensações que ela sentiu quando o viu pela primeira vez voltaram com força. — Você se machucou? Como se tivesse sido tocada por uma água-viva, ela puxou a sua mão de volta imediatamente. — Eu estou bem, não se preocupe. — Nervosa, ela pegou seus materiais da mão dele. — Me desculpe, eu não a vi e... — Não se preocupe, estou bem. — Foi só isso que ela conseguiu proferir, e naquele momento Sônia se deu conta de que Jonas não só tinha o poder de invadir os seus pensamentos, como também de roubar o seu ar, as palavras e qualquer sentido que pudesse comprovar a sua existência. — Eu preciso ir... — Atordoada, ela se virou para sair da frente do jovem que perturbava os seus pensamentos. — Não, está sangrando. Ela se vira e o encara de maneira inquiridora e, por alguma razão, percebe que ele estava mentindo. — Você está mentindo? — perguntou, incrédula, e ele só deu de ombros. — Você me obrigou. — Eu te obriguei? — riu com escárnio. — Sim, você me obrigou — ele disse com a cara mais cínica do mundo. — Eu precisava me desculpar e você não estava me dando uma chance para isso, então fui obrigado a mentir, mas não é do meu feitio utilizar a mentira para conseguir algo. Me desculpe, mas eu não podia perder a oportunidade de estar perto de você. Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa com o que ela tinha acabado de ouvir. Seu coração batia acelerado, nunca imaginou ouvir tais palavras de
algum garoto. Ela nunca se sentiu uma garota atraente o suficiente para despertar interesse em alguém, ainda mais quando esse mesmo alguém era a pessoa que despertava um sentimento genuíno. — Eu sinto muito por ter te machucado, não foi a minha intenção. E como pedido de desculpas, eu quero te fazer um convite. Você aceita tomar um sorvete comigo? — Sonia o fitou, espantada. Ela nunca sequer sonhou passar por um momento como esse, mas após pensar por alguns minutos ela acabou recusando. — Você não precisa fazer isso. Estou bem, de verdade. — Eu sei que está bem, mas agora eu quero me sentir bem e para isso só preciso que aceite o meu convite. E foi ali, no pátio da escola, que tudo começou. Logo Jonas e Sonia se tornariam um casal que viveria uma linda história de amor.

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