São Paulo 25 de maio de 2018 Estação: Outono. Horas: 07h30min da manhã.
Sou despertada pelos raios de sol que adentram o meu quarto através das pequenas frestas das janelas e, como uma erva daninha, eles se propagam rapidamente. A luz percorre o piso laminado do quarto e alcança o pé da cama de madeira maciça, seguindo para os lençóis de seda brancos, macios, e tocam suavemente as minhas pernas nuas, aquecendo-as. Eu amo sentir o seu toque sobre mim. — Bom dia, sol! — com a voz levemente rouca, eu o saúdo como em todas as manhãs, quando ele, majestoso, se faz presente.
Alongo o meu corpo nu que já possui algumas marcas do tempo, mas eu me sinto linda. Tenho um tipo de corpo conhecido como oval, a largura da minha cintura é maior que a dos ombros e a dos quadris, os meus seios são fartos. Muitas mulheres não se sentiriam à vontade tendo um corpo parecido com o meu, mas não é o meu caso, eu sou feliz com as minhas curvas avantajadas. Sou saudável e é assim que eu me sinto bem, assim que eu sou feliz. Eu não nasci para seguir padrões, eu sou o meu padrão de beleza. Eu me espreguiço sobre o lençol de seda macio, que desliza sobre a minha carne, acariciando cada centímetro da minha pele. — Hum! — Um grunhindo de excitação escapa pelos meus lábios ao me recordar do amor feito da noite passada. Jonas tem me feito sua durante todos esses anos. O cheiro da nossa excitação ainda está impregnado em meu corpo, meus cabelos esparramados no travesseiro. Cada canto do nosso quarto, como tem sido há vinte anos, está marcado como o nosso ninho de amor. Eu ainda fico arrepiada ao me lembrar da última noite. Respiro fundo. Meus pensamentos são invadidos por seu perfume amadeirado, único, que traz boas e memoráveis recordações. Deslizo a mão ao lado da cama à procura do homem que faz o meu coração bater acelerado, a minha pele arrepiar, minha vulva umedecer e todos os meus sentimentos, gemidos e sussurros serem voltados unicamente para ele. Mas ela está fria, revelando que faz algum tempo que o seu ocupante a deixou, mas ainda é possível sentir o seu cheiro misturado ao odor do nosso sexo impregnado nos lençóis. Jonas. A imagem do amor que fizemos na noite passada invade os meus pensamentos e não consigo evitar que um largo sorriso de satisfação se aposse dos meus lábios. Após tantos anos de casados, dividindo a mesma cama, o fogo da paixão ainda se mantém acesso. O arrepio que percorre meu corpo ou o sorriso que dança em meus lábios quando eu o vejo são inevitáveis. Não teria como ser diferente. Jonas é um homem sedutor, viril, não nega fogo. Toda vez que fazemos amor, sinto o seu corpo vibrar e sei que ele sente prazer ao me dar prazer, o que ele consegue sem muita dificuldade. Na noite passada, após ele ter chegado do trabalho, nós tivemos uma noite regada a carinhos, luxúria, sexo e muitos orgasmos. Eu ainda sinto cada toque dele, sinto os seus lábios umedecidos percorrem cada centímetro da minha pele sensível, excitada, quente. O meu corpo estremece com essas imagens. Minha pele na sua língua, a sua língua no meu clitóris latejando, duro. Os nossos suspiros viraram gemidos. Perfeito, como tem sido em todos esses anos. De todas as sensações que Jonas me proporciona, muitas delas são indescritíveis. Lentamente, eu viro o meu corpo na direção em que ele esteve deitado algumas horas atrás e acaricio o lençol como se estivesse fazendo isso em sua pele. Eu fito o rádio relógio que está sobre o criado-mudo ao lado da cama e só então percebo que já passa das sete horas da manhã, horário exato em que tenho que estar de pé. Hoje é um dia de festa, uma data muito especial, quando comemoramos os nossos vinte anos de casados. Tenho dedicado vinte anos da minha vida para me tornar uma boa esposa, amiga e companheira para Jonas, exatamente como a dona Helena havia me ensinado. Retribuo à altura tudo o que Jonas tem feito por mim, e não só como um esposo. Saio do meu devaneio ao ouvir o soar estridente da campainha ecoando pela casa. Rapidamente, eu me levanto ainda nua e com a pele marcada por suas mãos e o nosso desejo, visto o meu roupão de seda preto e calço os chinelos, enquanto prendo os meus cabelos em um coque frouxo, saindo às pressas para atender ao chamado de quem quer que seja a essa hora da manhã. — Eu já estou indo — grito ao ouvir mais uma vez o soar da campainha.
Enquanto desço as escadas, aperto o nó do roupão. Atravesso a sala de jantar e, em seguida a de visitas, então finalmente me aproximo da porta. Antes de abri-la, eu olho através do olho mágico para ver quem está do outro lado. Um jovem rapaz negro com um porte físico forte e aproximadamente um metro e oitenta de altura, um bonito rapaz, por sinal, está parado. Ele está vestido com um uniforme azul composto de uma calça de linho, camisa listrada azul e branca e boné também azul com a logomarca da empresa bordada "Magic Flores" na cor vermelha. Ele traz em uma de suas mãos um grande e bonito buquê de rosas vermelhas. Um sorriso de satisfação dança em meus lábios, eu sei de quem é esse gesto de carinho. Ele nunca esquece. Impaciente, o rapaz leva mais uma vez a mão em direção à campainha, mas eu o interrompo ao abrir a porta abruptamente, assustando o jovem. — Pois não — digo e o jovem assustado dá um passo para trás. — Ah, senhora. Bom dia! — ele dá um sorriso amarelo, tímido. A corrente fria da manhã percorre o meu corpo coberto pelo fino tecido, fazendo os pelos do meu corpo eriçarem. — Bom dia, meu rapaz. Em que posso lhe ajudar? — Percorro os olhos rapidamente pela vizinhança, que ainda dorme. Volto a minha atenção para ele, que retira um pequeno papel amassado do bolso, um tanto desajeitado, e o analisa por alguns minutos, depois volta a dizer. — É aqui que... que mora a senhora Martinelli? — o jovem gagueja ao me fitar do alto da cabeça até os pés, em seguida volta a sua atenção especialmente para os meus mamilos, que só então percebo que estão enrijecidos. — Sim, sou eu — digo, envergonhada e ao mesmo tempo irritada por seu atrevimento. Cruzo os braços por cima dos seios, chamando a sua atenção para meu rosto e o fito com os olhos semicerrados.
— Uma entrega para a senhora — diz visivelmente constrangido, então me entrega o lindo e grande buquê de rosas. Não consigo evitar o sorriso de satisfação que se forma em meus lábios enquanto levo as flores próximas ao meu nariz, inalando o seu perfume que me traz calma. Sorrio satisfeita porque sei a quem pertence esse mimo. A pessoa que me enviou sabe o quanto gosto de flores e que rosas vermelhas são as minhas preferidas. — Elas são lindas, não é mesmo? — sorrio como uma adolescente apaixonada. O rapaz me olha como se tivesse nascido um chifre em minha testa. — Assine aqui, por favor. — Ele me tira do meu devaneio ao me entregar o pequeno papel e a caneta, que só agora vejo que carrega uma ao tirá-la de cima de sua orelha. — Ah, claro. Só um momento. — Vou até a mesa de centro e deposito as rosas, voltando em seguida para pegar o papel e a caneta de suas mãos. Apoio o papel na parede ao lado da porta e assino, só então entrego de volta a ele. — Pronto, só isso — diz o jovem ao guardar o papel no bolso. — Tenha um bom dia — diz gentilmente. — Obrigada! Bom trabalho — agradeço. Ele sai e eu fecho a porta. Volto à sala, pego as rosas que estão sobre a mesa de centro, retiro o cartão que acompanha o buquê e o levo ao nariz, sentindo o perfume amadeirado do meu amado. Ansiosa para ler as suas palavras, eu retiro o cartão de dentro do envelope. Durante todos esses anos, ele nunca se esqueceu da data de aniversário do nosso casamento.
De: Jonas Martinelli Para: Sra. Martineli Bodas de porcelana. Este é um dia muito especial, meu amor.
É o dia que o nosso amor se uniu para nunca mais separar. Quantos momentos vivemos juntos, meu amor. Desde que você entrou na minha vida, eu fui condecorado com o título de homem mais feliz do mundo. Quando olhei para você pela primeira vez, eu soube que você era a mulher que eu queria para mim, que você ia ser a mulher com quem eu iria passar toda a minha vida. Hoje nós comemoramos mais um ano de casados e me sinto plenamente realizado ao seu lado. Você é a mulher ideal, um sonho real, perfeita para mim. Eu sei como o amor é uma equação complicada, por isso que me sinto um sortudo, pois, conosco, tudo é simples e o resultado sempre bate certo. Vivemos grandes emoções que nem mesmo o tempo é capaz de apagar. Você foi e sempre será o que tenho de melhor nessa vida.
Estas rosas são para você, a mulher da minha vida, que nesses vinte anos tem tornado os meus dias ainda mais felizes. Obrigado por me fazer o homem completo.
Eu te amo.
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Bodas de porcelana
Short Story🔞 Decidido a presentear não só a ela, mas também a si próprio com algo nada convencional para alguns casais, inclusive para eles, Jonas acaba descobrindo através do inusitado presente mais um prazer que a vida pode proporcionar a eles. Como present...