Estamos Sendo Punidos

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Morrer não é nada, horrível é não viver. (It is nothing to die; it is dreadful not to live.) — Victor Hugo, Os Miseráveis

Ele está morrendo não presta atenção ao mundo que logo deixará; ele deve se dedicar a si mesmo e à sua próxima ausência – ou mais. Não é egoísmo; em vez disso, é uma atenção mais profunda a mundos maiores e mais além dos quais ele pode nunca ter tido consciência anteriormente.

Assim, a criança que fora arrancada prematuramente do seio de sua mãe havia de fato perdido sua infância muito antes de seu último suspiro. No entanto, foi apenas alguns momentos antes que ele realmente enfrentasse sua masculinidade.

Walburga nunca recuperaria o corpo. Ela nunca viu as maçãs do rosto que afundavam mais profundamente do que o saudável, as feridas em carne viva que assolavam a pele jovem, os hematomas e sombras de maus-tratos e desnutrição, as pálpebras largas da vigília temerosa.

De fato; ela nunca viu, também, que as estrelas em seus olhos nunca se apagavam.
Regulus Black está morrendo. Na caverna, sozinho, cercado por uma escuridão opressiva, ele não presta mais atenção ao mundo que logo deixará. Sua mente não está mais nas dores físicas ou nos horrores que o cercam, mas em algo maior, algo além de sua compreensão, enquanto contempla sua "próxima ausência". Não é egoísmo, mas uma entrega à vastidão do desconhecido, uma percepção tardia de que existem mundos além do que ele jamais imaginou, e dos quais ele só agora começa a ter um vislumbre, na beira da morte.

A criança que um dia foi, arrancada prematuramente do seio da mãe por expectativas familiares e deveres impostos, havia perdido sua infância muito antes de seu último suspiro. Regulus havia crescido rápido demais, assumido fardos pesados demais para sua juventude. Mas foi só nos últimos momentos de sua vida, sozinho na caverna, que ele realmente enfrentou sua masculinidade – e seu destino.

Walburga Black, sua mãe, nunca recuperaria o corpo do filho. Ela nunca veria o quanto sua aparência física havia se deteriorado – as maçãs do rosto afundadas, os hematomas causados pelos maus-tratos, as feridas abertas que assolaram sua pele jovem, a marca indelével da desnutrição e do medo. Ela nunca saberia das noites de vigília atormentada e dos pesadelos que o assombraram em seus últimos dias.

Mas, acima de tudo, ela nunca saberia que, mesmo em meio a tanto sofrimento, as estrelas nos olhos de Regulus – aquele brilho de esperança, coragem e determinação – nunca se apagaram. Elas brilharam até o fim, sustentando-o em sua missão final, em sua última tentativa de redenção.

Duas Almas (Regulus E Narcissa Black)Onde histórias criam vida. Descubra agora