__ Qual o coletivo de peixes?
__ Cardume!__ disse o professor na sua aula de língua portuguesa.
__ E de lobo?__ perguntou mais um aluno.
__ Alcateia, mas isso vocês já sabem. Está no quadro!__ disse o professor calvo tocando em seus bigodes orgulhosamente.
__ E mosquito?__ disse um dos alunos.
__ Ora, o que tem o mosquito? Há algum na sala? Espere que vou pegar minha régua pra matar o infeliz!__ disse já preparando-se para empunhar a arma para eliminar o dito cujo.
__ Não, professor. Nada disso, o coletivo.
__ Que coletivo? O ônibus?
__ Não, professor, o coletivo de mosquito, professor! Qual o coletivo de mosquito?!
__ Ah, sim, o coletivo de mosquito, ah sim, muito fácil, o coletivo de mosquito é...__ interrompeu-se, pois ficou pensativo.
O professor demorou bastante, ficou perdido em seus pensamentos, em silêncio.
__ Qual, professor?__ insistiu o aluno.
__ Se acalme, estou pensando, me esqueci!__ respondeu o professor__ O coletivo de mosquito é... bom... é... eu sei qual é, mas... me esqueci.
__ Não sabe, professor?
Ele rapidamente pegou o seu livro de gramática e o folheou, nada! Então ele foi para o dicionário e folheou-o ainda mais atentamente.
__ Tudo bem, professor! Tudo bem não saber!
__ Sim, eu sei! Só um instante, espere, eu me esqueci, mas logo vou me lembrar...__ disse ele cada vez mais com o olhar voltado nos livros.
Os alunos ficaram intrigados com o comportamento do professor, nunca tinham visto ele daquela forma!
__ O saber não sabe, né professor?__ disse o aluno.
__ Não me apresse, Zequinha, não me apresse também, Tadeu, eu sei sim, eu sei e eu vou provar!__ disse enérgico.
__ Esperar o quê? Se você sabe, pois então diga!
__ Ele está nos enrolando, ele não sabe!__ disse um outro aluno com ainda mais ousadia. __ É... bom...__ o sino tocou, até que enfim!__ Para a próxima aula eu quero que façam a atividade da página 50, vai cair na prova!__ disse o professor e apressadamente pegou suas coisas e foi embora da sala.
Ao sair, um mosquito lhe picou e o professor empunhou a sua régua e conseguiu o matar. Pelo menos aquela luta ele havia vencido, mas não na sala. Na sala aconteceu o que ele mais temia... os alunos o derrotaram, lhe fazendo uma pergunta que ele não sabia! Mas aqueles alunos ganharam uma batalha, mas não a guerra. Na próxima vez "eu vou dizer para eles qual o coletivo de mosquito da próxima vez, ah se vou, ou não me chamo Abelardo Campos".
__ O coletivo de mosquito é... o coletivo de mosquito é...__ Mas ele não conseguia pensar na resposta.
Ele entrou na próxima sala, se apresentou, mas ficou nervoso, pois a qualquer momento podiam perguntar a ele novamente aquela infame pergunta: qual o coletivo de mosquito? Qual o coletivo de mosquito? Ele até improvisou uma outra aula, o assunto que ele lecionou foi sobre verbos, pois caso ele tocasse em substantivos ele teria de tocar nos subtipos de substantivos: substantivo próprio, comum, coletivo... coletivo, o maldito do coletivo!
__ O coletivo... o coletivo...__ disse o professor falando sozinho enquanto escrevia no quadro.
__ É o quê?__ disse um aluno.
__ Nada, Ari, nada não.
A aula desenrolou normalmente e para sua felicidade nenhum aluno fez qualquer pergunta que ele não soubesse responder... o sinal tocou de novo, o recreio! O intervalo era o momento perfeito para que recuperasse sua reputação na biblioteca. E assim ele o fez folheando vários livros.
__ O que procura?__ disse a bibliotecária.
__ O coletivo de mosquito.
__ Você não sabe?
__ Não é que eu não saiba. Eu me esqueci e quero relembrar.
__ Abelardo... por que é tão difícil dizer que "não sabe" ?__ disse a mulher com um sorriso travesso.
__ Você com essas perguntas lembra minha mãe, sra. Neide.
__ Ela também se chamava Neide?
__ Não__ disse ele não tirando os olhos do dicionário.
__ Era uma mulher sábia pelo visto__ a bibliotecária era uma idosa de cabelos brancos e muito simpática e paciente__ você lembra meu filho, um cabeça dura.
O sino tocou.
__ Ô, droga! Por que o tempo passa tão depressa? Certo, dona Neide, vou embora__ disse colocando o livro de maneira torta na estante e saindo apressadamente.
As aulas acabaram, o tempo passou e a pergunta não saia da sua mente.
Ao entrar no ônibus, ele conseguiu arranjar algum lugar pra sentar, então sentou-se, dormiu, pensou... sonhou.
__ O que é o verbo?__ disse o professor com um olhar inquisidor.
__ Uma palavra que começa com "v"__ disse o jovem Abel que arrancou risadas da turma.
__ Errado!__ disse o professor furioso e bateu na mão de Abel com a régua.
Abel sentiu dor, mas não chorou, caso contrário seria pior para ele.
__ Segunda chance__ disse o tal professor.
__ Eu não sei__ disse entre lágrimas.
E apanhou mais cinco vezes, uma peia mais dolorosa que a outra... até que ele acordou com uma marca de picada de carapanã no braço.
__ É praga__ disse dona Neide.
__ O que é praga?
__ O coletivo de mosquito é praga.
__ Eu já sabia.
__ Sabia nada!
A bibliotecária disse isso na sala dos professores, antes das aulas começarem.
__ Sabia sim, só me esqueci.
__ Mal agradecido__ disse dona Neide um pouco irritada.
A aula começou, a primeira aula foi a turma que fez a infame pergunta.
__ Meu nome é Abelardo e o coletivo de mosquito é praga.
__ Ainda se lembra disso? Eu já tinha até me esquecido.
__ Pois eu lembrei__ disse com um sorriso de triunfo.
__ Mas por que que é praga?
__ Isso eu já não... amanhã respondo, hora da chamada.