Que a morte nos separe

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__ Quero que mate meu marido.
__ De prazer?__ disse a prostituta.
__ Não, que mate mesmo, literalmente.__ disse Jocasta firmemente.
   Jocasta era uma mulher na casa dos 40 anos, de pele escura, cabelos longos com tranças dread, vestia uma camisa longa cinza e uma longa saia marrom.
__ Matar?__ disse a prostituta sem entender, estava com um olhar de medo e culpa. Era ruiva, magra, pele clara, cabelos cacheados, olhos amendoados e brilhantes que lhe davam um ar angelical e pueril que deixa os homens casados bastante encantados. Vestia um tomara-que-caia vermelho e decotado, que realçavam seus seios, uma saia curta e escura, bem curta para realçar suas belas pernas e botas de cano alto__ Não é meu trabalho matar e matar é errado, nunca matei ninguém__ disse com inocência na voz.
__ Não se faça de "virgem", isso só funciona com seus clientes, não comigo.__ disse com incredulidade e continuou de forma séria__ Eu sei muito bem sobre seu segundo emprego, sei o que você faz...
__ Sim, meus clientes também: sexo.
__ Quanto você quer que eu pague?__ disse sentada do outro lado da cama.
__ Depende, quer só boquete? Ou quer um serviço completo?
__ Quero cabeça arrancada__ disse com rancor no olhar.
__ Meu negócio é chupar, não arrancar__ disse ela irônica.
   Jocasta levantou-se e foi até ela dizendo:
__ Não sou policial, Juliana Bombeira, ou eu deveria te chamar de Beatrice? Esse é o seu nome verdadeiro, não é?
  Juliana mudou seu semblante de sarcástico para sério.
__ Me chame de Juliana e só.
__ Que seja, Juliana. Pode fazer o serviço por mim?
 Juliana hesitou, ficou pensativa e disse:
__ Você tem certeza disso?
__ Me disseram que você é boa no que faz.
__ Quem disse?
__ O Lobo.
__ O Lobo é bem linguarudo__ disse de soslaio__ Pelo visto vou ter uma conversinha com ele...
  Jocasta sentou-se ao seu lado.
__ Não faça isso, ele só queria me ajudar__ disse na defensiva.
__ Tem terapia pra isso.
__ Não quero terapia, quero velório.
__ Realmente você não é policial__ disse com um pequeno sorriso__ Por que quer matar seu marido? Não é a primeira esposa a me procurar, mas é a primeira que não veio pra salvar casamento...
__ Tô pedindo pra uma quenga matar meu marido, acha que tem algo que eu queira salvar? Minha cara bombeira, tem um incêndio na minha vida e não quero sair morta dele. Meu marido vai morrer de qualquer jeito, eu só não quero que ele me leve junto__ disse com pesar na voz.
  Juliana levantou-se, andou até o frigobar do quarto, encheu dois copos, pegou-os e ofereceu um deles a Jocasta, que aceitou e bebeu.
__ Está realmente decidida a matar seu marido, não é?
__ Vai acontecer com ou sem você, mas eu quero que seja feito por um profissional.
   Juliana, após terminar sua tequila, disse:
__ Certo, como você quer que eu o mate?__ e sentou-se na ponta da cadeira erótica que ficava em frente a cama.
__ Você é a bombeira por aqui, não vou lhe dizer como apagar um incêndio, mas vou me limitar a dizer que quero que seja uma morte rápida, independente se for ou não indolor.
__ E o pagamento?
__ Lhe pago a metade agora e a outra metade quando terminar o serviço.
__ Á vista?
__ Aceita pix?
__ Aceito, o pix é meu telefone celular, o novo, porque eu troquei de número.
__ Em quanto tempo você faria este serviço?
__ Se ele não for blindado por seguranças, então no máximo duas semanas. Mas agora vamos falar de detalhes, o que o seu marido faz?

2 SEMANAS DEPOIS

  Jocasta e Juliana se encontraram naquele mesmo quarto de hotel novamente. Juliana vestia um sobretudo e segurava com os dois braços um saco com algo dentro.
__ Terminou o serviço?__ disse Jocasta de forma direta.
  Juliana jogou na cama aquilo que estava no saco, era uma cabeça humana. Um homem na casa dos 40 anos, pele cor de oliva, careca e com uma tatuagem de âncora no pescoço.
   Jocasta sorriu, sorriu como já não sorria há muito tempo, aquele sorriso fez Beatrice sentir calafrios.           

O coletivo de mosquitoOnde histórias criam vida. Descubra agora