Capítulo 1: O Guardião Acorda

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"Há poucos séculos, os viajantes de além do oceano avistaram uma terra desconhecida. Quinhentos anos depois, uma nação próspera nasce sobre a face daquela terra, mas mesmo após ter todo o seu corpo explorado e suas entranhas vasculhadas, seus segredos mais antigos continuam para nós como um mistério..."


Ao nordeste do Brasil, num estado litorâneo, as pessoas relaxavam os restos dos ânimos de torcer o dia inteiro pela sua seleção na copa do mundo. As ruas, antes cheias de fanáticos vestidos de verde e amarelo procurando causar o maior barulho e estardalhaço possível, agora estão cheias de garimpeiros varrendo o lixo dos torcedores inconscientes na calçada.

Quando tudo começou, era tarde da noite. Umas poucas casas tinham as janelas iluminadas, provavelmente encerrando a comemoração da vitória do país com bebida. O céu deleitava da pouca poluição de luz e esbanjava as constelações do hemisfério sul, e apesar da passagem de alguns carros e motos barulhentas era uma noite calma e foi assim por horas.

Amanhecia. O primeiro garimpeiro do turno da manhã varria a praça sobre a colina, e enquanto a vassoura de plástico passava pelo chão de calcário, ele aproveitava a vista para o centro urbano da cidade ao sul e ao grande rio que cruzava o estado para então desaguar no Atlântico. Mais ao oeste era visível por sobre o ninho de casas acumuladas em morros a ponte que cruzava o rio até o outro lado, uma pequena cidade a beira mar e mais ao fundo uma selva interminável de coqueiros, onde os cata ventos giravam eternamente usando a força dos ventos. O garimpeiro parou para secar o suor da testa e fitar primeiro os carros que já cedo atravessavam a ponte e em seguida a grande igreja branca no final da praça, a poucos metros do para peito. Pessoas se aproximavam aos poucos, eram os últimos minutos de calma.

O garimpeiro notou um tom mais avermelhado no horizonte, que nada tinha de haver com o amanhecer, pois eram nove horas da manhã e que crescia rapidamente. Um jovem de camisa azul e jeans passou pela praça e começou a descer a colina pela calçada, logo ele também nota o estranho fenômeno sem dar muita importância. Quase que no mesmo segundo um som continuo e estrondoso explode do chão, ascendendo até o céu. Um helicóptero negro de grande porte atravessa a praça assustando a todos e levando tudo com seu vento passando bem em rente às copas das árvores ali presentes e a pouco mais de quinze metros do jovem de BMX, que surpreso, para a sua descida. Logo em seguida, surge o terremoto.

Estranho e terrível, o chão tremeu, algo nunca antes ocorrido no país. A terra inteira tremia com violência sem igual. Pais seguravam seus filhos e outros objetos pessoais e agarravam se em árvores e postes ao redor. Alguns como o garimpeiro nem conseguiam ficar em pé e caminhavam cambaleantes inutilmente como que para fugir do chão. O jovem da bike logo perdeu o controle da montaria, a direção descia indo da esquerda para a direita sem parar, no último momento ele consegue frear a descida e evitar cair em cima de latas de lixo. Algumas pessoas saíram apressadas de suas casas, com sério risco de desabarem e procuravam entender o que estava acontecendo, tão atormentador quanto sentir a terra tremer feito louca era o barulho ensurdecedor de milhares de toneladas de terra se chocando em seus ouvidos. Quase todos ali se encontravam agarrados em postes como se suas vidas dependessem disso e poderia ser o caso. No meio do rio, os barcos pesqueiros costumeiros já se encontravam no meio do rio e acompanhavam o sofrimento da população com o barulho do terremoto e as ondas que chacoalhavam contra os cascos dos barcos feito loucas.

E do mesmo jeito que minuto atrás o terremoto infernal surgiu, do nada sumiu. O som passou e a terra parou de se debater em agonia, o silêncio voltou pesado e veloz depois de uma tempestade caótica.

- Mas o que diabo foi isso? – perguntou-se Samuel, o jovem da BMX.

Meia hora depois, Samuel encontrava-se numa cafeteria da avenida por onde passava, um bom número de pessoas se reunira lá, mas não para comprar café e sim para verem o noticiário local através da TV LED fixa acima da placa de preços. Todos muito curiosos, Samuel mexia o açúcar em seu cappuccino enquanto acompanhava a explicação da ancora sobre o ocorrido

- "... Às nove e onze da manhã de hoje, um forte terremoto de nível 3 na escala Richter foi detectado em todo o estado de Sergipe, durante mais ou menos um minuto o terror nos surpreendeu esta manhã. Apesar da situação, nenhuma notícia de desabamento foi notificada pelo corpo de bombeiros, os quais estão rondando o máximo de áreas possíveis por todo o Estado procurando efeitos colaterais. Até agora não se sabe as causas do misterioso evento, a comunidade científica fora alertada e ..."

Mais desconversas, assim como previu. Samuel terminou seu cappuccino e retornou à praça sobre a colina, estacionou a bike de qualquer jeito perto de uma árvore e foi até o parapeito com a vista mais ampla para a cidade. Fitou o horizonte que se ocultava cada vez mais numa misteriosa névoa avermelhada e assustadora que ninguém parecia notar. Quase que em seguida ao pensamento, o jovem avistou o helicóptero negro de antes voando a noroeste como que a procura de alguém no chão e com ele outros quatro que circulavam pelos prédios. E então o evento final começou.

O terremoto retornara, não especificamente o tremor, mas sim o som. O barulho ensurdecedor parecia surgir do nada e forçava a todos que tapassem os ouvidos e curvassem se sobre si mesmos. O jovem agarrou se ao parapeito o mais forte que pôde, pois algo enorme estava prestes a acontecer.

O misterioso som de tremor vinha de longe, e nos poucos instantes que durou, sua origem se revelou. Pontos negros e inchados subiam abrindo espaço através da terra pelo horizonte, e como plantas brotando foram crescendo até se tornarem enormes montanhas cinzentas. Elas eram centenas e cresciam sem parar de uma forma assustadora, cercando o estado como garras animalescas colossais e provocando o som caótico de terra se abrindo, seu grito de ascensão. Logo o silêncio esmagador atropelou todas as coisas, e as pessoas, com olhos cheios de medo, fitaram a grandiosa e terrível cadeia de montanhas que os prendiam contra o oceano.

Fique coração, Neste Mundo QuebradoOnde histórias criam vida. Descubra agora