Capítulo 4 - O Livro das Rosas

2 0 0
                                    

Era um belo dia, naquele solstício de verão. Da janela do último andar da torre, a vista da vasta floresta do norte era tocante, as copas verdes dançando com a brisa, as folhas carregadas pelo vento e o agradável aroma da vida, e além das planícies e morros que compõem o país inteiro, as montanhas milenares e seus picos esbranquiçados formavam o plano de fundo perfeito. No meio daquela paisagem fantástica, os pensamentos do arauto se perderam.

- Bário! – chama seu companheiro arauto. O primeiro arauto teve os pensamentos cortados e voltou a atenção para seu companheiro.

- Me desculpe, sim? – disse o senhor, constrangido.

O companheiro do arauto Bário estava plantado numa escrivaninha velha bem no meio da sala onde estavam. O homem se ocupava em organizar os papeis amontoados em cima da mesa e separar os documentos dos contratos, e os contratos das petições, porém, naquele momento, o segundo arauto retirou parte de seu tempo e colocou todo o esforço que lhe restava para continuar a escrever o livro grande e vazio com capa de couro, havia um símbolo de rosas na capa e o arauto escrevia as linhas com tinta e pena. Ele parecia um pouco chateado por seu companheiro se distrair bem no meio do trabalho, mas disfarça o quanto pode. A vista era realmente linda, que poderia fazer?

- Por favor, não se esqueça do livro Bário!

- Me desculpe de novo Kamil. Ando me distraindo fácil ultimamente. – Conta ele, o que em parte era verdade – Onde paramos?

- Deixe-me ver... – E inclinando-se para focar seus oculozinhos redondos, verificava o documento, muito já foi escrito, mas muito ainda faltava ser escrito. Há bastante tempo, as academias estão insatisfeitas, acusa os arautos de monopolizarem toda a informação do passado para eles. Se pelo menos este compilado chegasse a ser publicado como prometido, muito peso seria retirado das costas deles – iniciamos o Capítulo 108: demônios. Terminamos a introdução e agora, seria melhor começarmos com algo simples para depois nos aprofundarmos.

- É uma boa ideia. Sim, bem, vamos começar, a origem dos demônios. Quando as seis cidades de Saice finalmente se completaram e prosperaram, o país entrou em um estado de auto recuperação chamado de ira mágica. Durante este período, toda a energia acumulada nos guardiões que adormeciam estava sendo liberada lentamente no ar, esta energia era absorvida pela terra, pela água, pelo vento e por todos os seres viventes, entrando em sincronia com todos os elementos de Saice. Era uma forma de Saice regenerar sua essência. Mas em alguns casos, acontece de alguns elementos rejeitarem a energia absorvida, quando isto ocorre, esta energia retorna ao meio convertida em força negra. A força negra é como um tumor, e tende a se encontrar e somar com outras, transformando-se em correntes de energia, estas correntes, por si, se unem criando assim, os chamados vórtices negros, que nada mais são que nuvens tempestuosas de força negra, e ainda há o caso de vários vórtices se unido e criando ilhas de força negra, a única registrada é a ilha Inferno Negro...

- Não seria melhor ser mais direto quanto aos demônios?

- Melhor ter calma Kamil, de qualquer forma estou chegando lá. Há muito tempo, antes do despertar dos guardiões, um sábio teorizou que a origem dos demônios vinha de um local que denominou de Rosário de violetas. Os registros sobre o sábio ou sobre o hipotético local se perderam, mas muitos estudos feitos no passado convergiam na veracidade desta teoria. Estas criaturas atormentam a humanidade há milênios, causando guerras e se tornando lendas. Sua característica determinante é a alimentação por absolvição de força negra, por isto, em sua maioria, vivem juntas em vórtices e ilhas de força negra. Dado o fato, os encontros de demônios e humanos se tornaram cada vez mais raros. Atualmente, o demônio em destaque vive em Inferno Negro, é o mais poderoso dos últimos séculos e reina na ilha como imperador. Mas desde os primeiros registros, o demônio mais poderoso que ainda vive, é conhecido como Zera, o manto. Mas este ser continua selado nas raízes de uma montanha perdida...

- Hummm... Muito bem. A origem está razoável, porem faltam muitos detalhes, mas isso pode esperar. Melhor organizarmos as classificações de demônios.

- Aaaah! Existem classes demais com base em atribuições físicas: gigantes, anões, alados, aquáticos, terrestres, imateriais, altos, peludos, lisos, reptilianos...

- Tudo bem! Tudo bem! Vamos deixar esta parte para depois. Falaremos um pouco sobre os feiticeiros?

- Humm... Tem razão. Bruxos, magos, médiuns, encantadores e mágicos. Todas estas figuras englobam um único grupo conhecidos por feiticeiros. Eles são humanos que, em sua busca por interesses próprios, fazem alianças com os demônios, em geral, a de troca de favores. Os demônios cedem a estes humanos bastante de seu conhecimento e poderes, e em troca, estes humanos constroem para eles...

- Talvez fosse melhor dar um exemplo para explicar? Talvez a lenda da torre de Zera? Depois nós organizamos tudo...

- Boa ideia Kamil. Muitos dos historiadores das academias dariam a própria cabeça para conhecer os segredos da única lenda sobre demônios em Saice: No ápice de seu reinado, Zera convocou seus sete feiticeiros mais poderosos e os fez uma exigência, que juntos, construíssem uma torre negra, maior que qualquer coisa já visto sobre à terra. E assim se fez, os blocos que a constituíam eram feitos de força negra bruta, o objetivo era simples: quando o demônio se tornasse rei absoluto, a torre seria lançada no mundo dos homens e se desfaria em trevas, se tornando um portal para a dominação das criaturas em todo o mundo. Futuramente, esta torre veio a se tornar a grande ilha Inferno Negro.

- Certo Bário, este capítulo está me deixando excitado, vamos fazer uma pausa por enquanto... – e o arauto retira os óculos para se espreguiçar e admirar a vista da paisagem maravilhosa.

- Não Kamil, não tem mais nada necessário para o livro, os detalhes podem ser encontrados em alguns documentos antigos. – disse Bário, fitando novamente a vista de Saice.

- Está certo! Então continuaremos as pesquisas amanhã! - levantou-se da escrivaninha.

- Sabe Kamil, ando preocupado com Shot. Não acha que ele anda meio apático depois de descobrir que seu filho está vivo?

- Ha ha ha ha ha! Aquele crápula preocupado pelo filho? Acho que se ele perdesse uma moeda no esgoto estaria bem mais angustiado! E de qualquer jeito, realmente acredita naquele feiticeiro nojento? Eu não confiaria.

- Ele pode até ser um feiticeiro, mas sabemos muito bem o tipo de pessoa que ele é, o Goblin Corvo nunca mentiria sobre algo assim. Sinceridade é sua qualidade, e sem mencionar que ele nos ajudou várias vezes.

- É, eu sei. Mas a hibernação por força branca é impossível, e mesmo que desse certo, ou o garoto acordaria em modo vegetativo, ou as sequelas o matariam assim que acordasse, e se o impossível acontecesse, minha nossa! Seria devorado vivo pelos monstros assustadores em um mundo louco.

- Infelizmente sim. – Concordou Bário. Fitando a maravilhosa vista de seu mundo encantado, e pensando nos perigos mortais que sua beleza escondia. "Porque um mundo tão belo deveria ser tão perigoso?".


Fique coração, Neste Mundo QuebradoOnde histórias criam vida. Descubra agora