CAPITULO 9

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Cindy

Os dias seguintes passam quase como um borrão de cenas repetidas, escola, festas vazias, sorrisos falsos, pessoas desconhecidas.
Eu e Ivan mal nos olhamos, ainda que continuemos sentando lado a lado nas aulas e na mesma mesa do refeitório, no fim de tarde, ainda nos encontramos nas rodas de amigos, ainda frequentamos as mesmas casas, ainda estamos junto.
Mas nunca estivemos mais distantes.
Afogo minha mágoa em festas, bebo mais do que deveria, beijo mais bocas do que sou capaz de lembrar embora nenhuma delas me encanta, nenhuma faz meu coração acelerar.
Acho que estou morta.
Eu realmente morri naquele dia.
Puxo a alça da bolsa que escorrega por meu braço enquanto caminho pelos corredores lotados da Santo Egídio,  sentindo minha cabeça pulsar com a ressaca da noite passada. Foi uma boa festa, conheci um cara mais velho, papo bom, bem inteligente,  viajado, não era muito bonito, mas tinha lindos olhos azuis... olhos azuis que me deixaram calma o suficiente para passar a noite inteira enchendo a cara enquanto ouvia ele falar.
E ele falou, e depois me beijou, e então ele me chamou para um lugar mais reservado e aqueles olhos azuis eram tão parecidos com outros olhos azuis que me assombram desde aquela madrugada em que ignorei sua dor e não segurei sua mão, que me deixei levar.
Mais uma vez.
O problema é que aqueles olhos azuis não eram dele, e quando tudo terminou me senti pior do que estava quando saí de casa.
Deus, eu devo ser algum tipo de doente compulsiva.
Alguém esbarra em mim, derrubando mais uma vez a porra da bolsa.
— Vê se olha por onde anda. — resmungo enquanto volto-a para o lugar, mas o grupinho de alunos sequer se dá conta, eles continuam andando, entretidos na conversa leve.
Paro na porta da sala e me dou conta que estou atrasada.
Muito atrasada.
O professor de química não tolera atrasos e sei que já era, perdi essa aula. Então me viro e caminho sem saber para onde quero ir, ando pelos corredores quase vazios da escola, as paredes enormes e antigas estão silenciosas e sinto um calafrio em minha espinha, odeio esse lugar, odeio as lembranças,  a forma como me sinto suja, pequena, usada...
Estremeço enquanto estou virando um corredor, prestes a começar a correr quando meu corpo se choca com o de outra pessoa.
Maravilha, talvez eu devesse ter ficado em casa hoje,  pouparia o mundo do meu mau humor.
— Opa! — Ivan me segura no lugar, seus dedos fortes apertam meus braços,  me impedindo de cair. E seus olhos, os mesmos que me fizeram encher a cara ontem a ponto de quase sentir que era ele comigo e não um estranho sem graça, me observam como se pudessem ver meus pecados.
— Desculpa eu não te vi. — Começo a falar, um pouco desconcertada ainda pela forma como ele me segura, com tanta firmeza e confiança.
— Sei como é. — Ele diz baixinho, enquanto um sorriso tímido deixa seus lábios e por um breve instante quase posso sentir como se ele estivesse magoado por isso.
Droga Cindy! Claro que ele está magoado, afinal de contas você foi uma cadela com ele.
— Desculpa, não foi isso que eu quis dizer. — digo no instante em que seus dedos se afastam da minha pele.
— Nunca é.
Ele passa a mão na nuca, completamente sem graça, e meu coração dispara no peito.
— Olha Ivan, eu queria... — começo a falar, mas ele me interrompe.
— Tá de ressaca baby?
Ele usa meu apelido porque sabe que ele me desestabiliza, mas sou boa em fingir que ele não me afeta  jogamos esse joguinho a quase três anos.
— Tá preocupado comigo? — ergo o rosto, atrevida, provocando-o porque sei que também o desestabilizo.
— Não,  nem um pouco, deveria?
— Você quem sabe. — ergo os ombros com desdém.
Dou um passo para o lado, mas ele se coloca na minha frente novamente, encarando-me.
— Vai ficar aqui me observando? — pergunto irritada, com seus olhos, com esse joguinho, com o fundo do poço onde nos encontramos nesse momento.
Ele inclina o rosto e move a sobrancelha em um desdém que me irrita.
— Tá perdendo a aula. — completo.
— Você também.
— Mas eu não ligo, já você... — Não termino a frase, mas todo mundo sabe que Ivan tem essa pinta de badboy, mas no fundo é todo certinho, odeia faltar aula e quase sempre tira as melhores notas da sala.
Ele tem uma família amorosa para surpreender.
— Não preciso me preocupar, minhas notas estão ótimas e sem agradar professor.
Ele tenta me provocar mas não permito, ele não sabe de nada e se depender de mim não vai saber.
— Sai da minha frente. — o repreendo quando ele faz de novo.
— Está com pressa Cindy? — Ele passa a língua pelo lábio inferior, uma provocação que causa um burburinho em meu estomago vazio.
Reviro os olhos, fingindo estar entediada.
— Ou está só fugindo de mim?
— Porque eu fugiria de você?
Ele ergue os ombros e desvio o olhar para uma parte rachada no teto.
— Como posso saber? Tédio? Medo? Vergonha na cara?
— O que?
Tento passar mais uma vez, mas ele diminui a distância,  ficando tão perto que mal consigo respirar sem trazer junto o cheiro do seu perfume favorito e café.
— Não vou entrar no seu joguinho infantil Ivan. — Coloco a mão em seu peito e o afasto um pouco, só um pouquinho para que eu consiga falar sem perder a cabeça.
— Sério? Qual o tipo de joguinho você prefere jogar então? Me fala aí.
— Do que você está falando afinal?
— Você era mais inteligente,  acho que o excesso de álcool está fritando seu cérebro loirinha. Ou talvez seja o sexo sujo com estranhos.
Ergo o rosto para encara-lo, ignorando o poder que suas palavras perversas tem sobre mim.
— Tá com inveja porque não é o seu pau na minha boca gatinho?  — Passo meus olhos por seu rosto  descendo por seu corpo até parar na frente do seu jeans e noto como ele se esforça para parecer inabalável.
— Nahhh, você sabe, já estive aí, sei bem como é. — Ele pisca para mim de um jeito que aquece minhas veias de um jeito ruim.
— Acredite em mim, você não sabe de nada.
— Não curto filme repetido.
— Ou talvez eu seja muito novinha para você.
— Pode ser, ou talvez seja muito usada.
O choque da minha mão em sua pele faz com que eu me surpreenda, Ivan não se move, apenas fecha os olhos e respira fundo, enquanto tento me controlar sentindo uma dor quase insuportável atingir todo meu corpo.
— Quem você pensa que é para falar assim de mim seu cuzão.
A marca dos meus dedos começa a se formar em sua pele branca e minha mão treme tanto que fecho-a em punho para que ele não note, embora seus olhos nunca tenham deixado meu rosto.
— Ninguém, eu não sou ninguém.
— Exatamente  você não é ninguém. — repito, completamente tomada pela emoção, pela mágoa, pela dor. E pela raiva.
Ivan respira fundo mais uma vez, como se estivesse absorvendo minhas palavras  e então ele sorri, um sorriso perverso que gela meu coração enquanto se afasta, caminhando para longe de mim.
— Ah, Cindy? — ele me chama e viro o rosto em sua direção. — Antes que eu me esqueça,  nunca mais ligue para meus irmãos, meta-se com a sua vida que pelo visto, está bem agitada e deixa a minha em paz.
— Foi você quem me procurou baby, esqueceu?
— Não, eu achei que podia confiar em você, mas me enganei, prometo não cometer mais esse erro.
Não consigo me mover, estou sob o choque do que aconteceu, quando foi que nos tornamos isso? Quando foi que meu garoto de olhos bondosos se transformou nesse monstro capa, de me fazer sentir pior do que sempre sou?
— Pode deixar, não vou me meter mais, se depender de mim, pode até mesmo morrer que não farei nada para impedir.
O sorriso aumenta em seu rosto me dando um vislumbre da covinha insuportável em sua bochecha marcada por minha raiva
— Certo, pode deixar, está anotado aqui.
E então ele se vai, caminhando cheio de arrogância pelo corredor vazio, e me deixando com um gosto amargo de que isso não foi como as provocações de sempre, isso foi pior, muito pior.

***

Ouço o som do fim da aula dar início a agitação nos corredores, eu deveria me levantar e voltar para a sala, deveria sentar ao seu lado erguer meu rosto e fingir que ele não me atingiu, mas não consigo, ao invés disso estou aqui, em uma parte escondida da escola que só os alunos mais rebeldes conhecem, fumando e desejando algo que pudesse entorpecer meus sentidos até que eu não me lembre porque meu coração está doendo tanto.
Não ouço seus passos até que ele esteja ao meu lado,  tão perto que noto respingos de tinta no seu all star surrado.
— O que você quer? — pergunto rispidamente.
— Desculpa, não quis te atrapalhar, mas já tem um tempo que você está aqui, então...
— Você veio garantir que eu ainda estou viva. — Dominic ergue os ombros sem responder. — Eu ainda estou. — dou uma batidinha no chão ao meu lado. — Senta ai vai.
Ele não se move.
— Relaxa, prometo não contar a ninguém que você fala.
Ele coloca uma mecha de cabelo solto do rabo de cavalo, atrás da orelha antes de olhar para a porta fechada atrás de nós e se sentar.
Seu corpo grande e desengonçado fica a uma distância suficiente para que não nos toquemos, mas ainda assim, é o mais perto que já estive dele em muito tempo.
Estico o cigarro em sua direção e ele o aceita.
— Tatuagens legais. — aponto para seus dedos e ele os observa por um instante antes de colocar o cigarro na boca sem falar nada.
Observo-o por um instante,  o sol ilumina os piercings em seu rosto e deixa alguns fios castanhos quase loiros e sua pele, as poucas partes sem tatuagem, parecem pálidas demais, quase sem vida.
Mesmo assim ele é bonito, bonito demais para alguém que não quer ser visto. Me recordo do papo sobre sua opção sexual outro dia e quase abro a boca para perguntar, mas desisto, não é da minha conta, e sinceramente,  tenho quase certeza que ele não diria.
— Acho que nunca te ouvi falar uma frase tão grande. — digo desviando o olhar quando noto que estou encarando-o.
Dom sorri, um breve sorriso que deixa seu rosto bonito ainda mais belo, e solta a fumaça no ar, empinando o queixo para que ela voe mais alto.
— Pois é.
— Você também estava fugindo da escola ou só está me perseguindo?
Ele me devolve o cigarro e coloca a mecha rebelde de cabelo atrás da orelha, ela não fica e ele desiste, deixando ela cair, escondendo seu rosto de mim.
— Eu sempre venho pra cá quando tô entediado e vi quando você chegou.
— Roubei teu lugar então.
Ele olha em volta, para o telhado antigo e caótico do colégio, depois olha para mim, seus olhos claros me analisam, mas ao contrário de Ivan, não há julgamento em seu olhar, só aceitação,  como se ele compreendesse minha dor, como se ele a conhecesse.
— Ele não é meu e você perecia estar precisando dele.
— Valeu.
O silencio se instala entre nós e ficamos assim, dividindo o cigarro sem precisar falar mais nada, e pela primeira vez na vida  me sinto confortável ao lado dele, como se o seu silêncio fosse o abraço que eu estava precisando.
— Porque você está me perseguindo?— pergunto sem olhar para ele.
— Não estou.
— Se você tá achando que vou transar com você,  já to avisando que não vou.
Dom ergue as sobrancelhas, surpreso com minha sinceridade.
— Não quero transar com você Cindy.
— Acredite, não seria legal. — justifico e ele ergue os ombros como se não se importasse.
— Na verdade nesse momento eu não quero saber de homens,  eu os odeio, cada um deles. Odeio os homens idiotas e burros, se pudesse eu os matariam com minhas próprias mãos.
Respiro fundo ao terminar de falar, sentindo a raiva encher minhas veias, acelerar meu coração,  me descontrolar.
— Eu sinto muito. — ele duz depois de um tempo.
— Dom — Eu o chamo e ele se vira para mim. — Você é legal.
Ele parece surpreso, como se ninguém nunca tivesse se dado conta disso, e me entristeço ao imaginar o quanto ele é solitário.
Ninguém nunca parou para olhar para ele de verdade, se parassem, veriam que ele é apenas um garoto esperando ser enxergado, nas sombras da vida.
Assim como eu.

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Olá pessoal!!!!

Eu já disse que amo amizades literárias? Pois é,  eu amo, amo tanto que sempre que posso, crio amizades assim, especiais.
Cindy e Dom roubaram meu coração,  eles se exergam, porque são iguais, e mesmo sem querer, vão se tornar "a pessoa" um do outro.
E você também curte um bromance?

Não deixem de curtir e comentar.
Beijos e até segunda!

IVAN (capa provisória)Onde histórias criam vida. Descubra agora