*** capítulo sem correção ortográfica ***
Ivan
Passo os próximos dias tentando ao máximo não abrir minha boca, estou mais mal humorado do que o normal e as palavras de Zach ecoam em minha mente vinte e quatro horas por dia.
A mágoa nos cega.
Eu amo o Nicolas, com todo o meu coração, trocaria a minha vida pela dele sem nem ao menos piscar, aguento seu mal humor e dirijo quarenta minutos três vezes por semana só para ouvir ele me mandar embora e perguntar se não tenho nada melhor para fazer, mas não quero ser como ele.
Nicolas carrega a tristeza em seu olhar, é um homem amargo e infeliz, dificil de lidar, mesmo assim luto diariamente para fazer ele encontrar seu caminho nessa vida, porque é isso que a gente faz para aqueles que amamos, a gente não desiste, mesmo quando a pessoa acha que não tem mais nada.
Principalmente quando eles desistem.
Nicolas desistiu, mas eu nunca vou desistir dele.
Isso não significa que concordo com seu jeito de ser, nem que quero por algum motivo, ser como ele e isso me deixa mais agoniado e irritado porque foi exatamente o que fiz com Cindy.
Eu deixei a mágoa me cegar.
Desde o momento em que as palavras saíram da minha boca e vi elas atingirem o alvo, me senti um cretino idiota, mesmo assim não consegui ir até ela e pedir desculpas, porque para isso eu precisaria dizer a verdade, e essa é uma verdade dolorosa de admitir até mesmo para mim.
Então sigo passando os dias me sentindo um bosta, rabugento e irritado, desviando dela sempre que possível, ignorando a pontada em meu coração toda vez que ela fala comigo como se não tivesse me esbofeteado.
É um joguinho que ela adora jogar, mas que está me consumindo dia após dia, ao logo dos últimos anos e sinto que minhas forças estão se esgotando.
Mesmo assim sigo jogando, até onde eu suportar, até um dos dois se entregar, e pelo meu histórico, com certeza serei eu.
Estaciono o carro na entrada da grande mansão onde está acontecendo a festa de hoje, não gosto do cara que mora aqui, mas é melhor do que ficar rolando na cama de um lado para o outro lutando contra a minha teimosia de não tomar remédios e aceitar mais uma noite em claro pensando merda.
Ao menos aqui posso silenciar os fantasmas da minha mente com musica alta e álcool.
Deus... que merda estou fazendo da minha vida?
Zach choraria se soubesse disso.
Assim que passo pela porta encontro um grupo de pessoas que conheço e passo um tempo com eles, conversas vazias, papos sem conteúdo, o mesmo de sempre, os caras tentando impressionar as garotas enquanto elas tentam fingir não serem impressionáveis.
Sinto falta do Nuno, mais do que deveria ser dignamente aceitável.
Se ele estivesse aqui, estaríamos todos rindo das suas idiotices, Nuno não precisa fingir nada para impressionar as garotas, ele abre aquela boca grande e começa a tagarelar e elas caem a seus pés.
Caiam...
Agora estou por minha conta e bom, não sou lá o cara mais comunicativo do mundo, o que sinceramente nunca foi problema no quesito garotas, mas também não sou o mais paciente, então logo me entedio e me afasto do grupo passeando por entre as pessoas em busca de uma bebida boa e de um lugar onde eu possa apenas observar.
Tá ai uma coisa na qual sou bom.
Mas no momento odeio meu poder de observação porque meus olhos idiotas caem em cima da única garota da face da terra que eu não queria ver.
Cindy está em uma roda de pessoas que não conheço, sorrindo e bebendo como se fosse a garota mais feliz do mundo e talvez ela seja.
Por algum motivo seus olhos se encontram com os meus e a raiva que tentei guardar dentro de mim todo esse tempo parece prestes a explodir.
Ela me encara como se eu estivesse completamente nu, seus olhos passeando por meu corpo como dedos invisíveis, odeio o olhar arrogante que ela tem, odeio a forma como o babaca ao seu lado sorri, odeio ainda mais o jeito que ele olha para ela.
Fecho meus punhos, respiro fundo e desvio o olhar. Não tenho nada a ver com isso, foda-se se ela gosta disso.
Caminho para o fundo da casa enquanto bebo um longo gole do uísque dezoito anos que o barman me entregou sem nem ao menos se importar em saber se posso ou não beber, decido que o tempo de terminar esse drink é o tempo que ficarei aqui, nem mais um minuto, na verdade nem sei o que caralho estou fazendo aqui, me arrependi no minuto em que a bi, não, no minutk em desliguei o carro.
— Ivan? — uma garota em um biquini bonito me chama, não me lembro dela, mas não sou muito bom em decorar nomes e não costumo me lembrar de quase ninguém, então coloco meu sorriso no rosto e paro de andar.
— Oi...
— Cibele. — ela diz, notando que não faço ideia de quem ela seja, acho que sou mais transparente do que gostaria, merda. — Da festa da Ana, a gente conversou um pouco lembra?
Franzo o cenho tentando lembrar alguma coisa que mantenha a dignidade da garota, ela é bonita, um pouco fora de forma para os alto padrões das garotas de Monte Mancante, mas eu gosto, aliás, eu gosto muito.
— Feira de Games, GTA... — ela começa a falar, o sorriso sem graça se esvaindo do seu rosto bonito e então me recordo.
— Claro! Ah Deus me desculpe eu sou um idiota. — estico o braço e toco seu ombro em uma tentativa idiota de me desculpar por ter esquecido completamente da garota.
— Tudo bem, não tem problema.
— Que coincidência, você conhece o Pedro? — aponto para a roda de imbecis que estão em volta do dono da festa e ela sequer olha na direção dele.
— É meu primo.
— Sério?
— Uhum, pois é, o popular Pedro é meu primo. — ela aponta para si como se fosse algum tipo de absurdo aquele idiota ser algo dela quando deveria ser o contrário. — Na verdade meus pais estão passando um tempo aqui, minha irmã vai começar na Santo Egidio ano que vem e estamos vendo umas casas para ela.
— Universidade?
— Sim, ela quer ficar nos edifícios estudantis, aquela coisa de experimentar de tudo, mas sabe como são pais superprotetores e tal.
Engatamos um papo legal, é fácil conversar com Cibele, ela tem gostos bem parecidos com os meus, principalmente no que diz respeito a games, somos fanáticos por eles e isso já é assunto para três vidas sem ficar entediados.
Nos sentamos em um canto mais isolado, os pés dentro da agua enquanto sorrio de algo engraçado que ela diz, estou quase me esquecendo do que me trouxe até aqui quando sinto um arrepio em meu pescoço, meus olhos percorrem o lugar, há mais pessoas do que quando cheguei e imagino que isso aqui vai ferver de gente antes das duas da manhã, mas mesmo assim eu a vejo, com seus cabelos loiros brilhantes em um rabo de cavalo alto, agora sem o vestidinho que ela tava usando lá dentro , o biquini minúsculo cobrindo absolutamente nada da sua bunda insuportavelmente bonita, e uma cordinha indicando o laço da parte de cima decorando suas costas elegantes.
Meu sangue esquenta, meu cérebro pausa, minha pulsação acelera.
É rápido, o tempo da batida de um coração, o que meu corpo precisa para reconhecer Cindy no meio de todas essas pessoas. Ela parece tão a vontade nessas festas, segurando um copo de Deus sabe o que na mão enquanto seu corpo alto e magro se move de um lado para o outro em uma dança sensual ao som de uma balada que o dj está tocando, como se esse fosse o seu lugar, sendo adorada e reverenciada por todos, inclusive o cuzão aqui.
— Está tudo bem. — Cibele pergunta e volto meu olhar para ela.
— Claro, está tudo bem, desculpa eu me distrai.
Cibele olha na direção de onde ela está, seus olhos passeiam pela garota que mais parece uma modelo da Vitória Secrets e volta para mim.
— Tem certeza?
— Tenho, juro. — me viro para ficar de frente para ela e passo um dedo na mexa de seu cabelo que cai sobre seu rosto. — Você estava falando do campeonato de jogos...
— Isso é tão idiota. — ela balança a cabeça e a abaixa parecendo de repente tão triste que me sinto mal.
— Do que você está falando?
— Estamos em uma festa e eu estou aqui, ao lado do carinha que passei a semana inteira pensando, e tudo o que consigo fazer é falar de vídeo game, que tipo de garota idiota eu sou?
Sou um filho da puta, da pior espécie, daqueles que sequer deveriam ser catalogados, porque no instante seguinte estou com a minha boca sobre a sua, beijando-a como se minha vida dependesse disso, como se ela também tivesse estado em minha mente essa semana toda, quando na verdade eu sequer me recordava do seu nome até uma hora atrás, eu a beijo porque nesse momento ela é tudo o que preciso, desesperadamente. E quando sinto seu corpo sobre o meu e seus braços se enroscarem em torno do meu pescoço eu relaxo, porque talvez esse beijo seja tudo o que ela queria e então não sou tão filho da puta assim.
Afinal de contas, um homem precisa se proteger, faz parte da natureza humana, a autopreservação está além de qualquer raciocínio lógico, e eu preciso disso porque nesse mesmo momento a alguns metros de distância, do outro lado da piscina, um par de mãos envolvem aquela bunda linda, e uma boca que não é a minha, cala aquela boca que eu queria calar, e então eu fecho meus olhos e respiro fundo, e penso em Nicolas e no que a mágoa fez com ele, e volto a pensar em Zach e em suas palavras sobre perder o controle.
Acho que é isso, eu perdi o controle.
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IVAN (capa provisória)
RomansCabelos perfeitos, roupas de grife, festas, música, dinheiro, poder... É fácil esconder quem você é de verdade, basta colocar um sorriso no rosto e fingir que está tudo bem, ninguém quer saber o que existe atrás de um belo sorriso, ao menos não a m...