02. Só um resfriado

287 25 192
                                    

Chifuyu se arrependeu amargamente de ter mentido para Baji sobre estar se sentindo mal na noite anterior. Não era pela consciência pesada, remorso ou algo assim, era simplesmente porque a mentira tomou o caminho de volta e agora, ele estava suando frio em cima do seu colchão enquanto o sol invadia o quarto pela fresta da cortina.

Se já não bastasse o fato dele ter passado a noite toda em claro rendido às mil e uma paranóias da sua cabeça que rodeavam em torno de Baji e aquela desconhecida, agora Chifuyu também estava com dor de cabeça, tremendo da cabeça aos pés com uma possível febre de sabe Deus quantos graus e não queria levantar da cama por nada - na verdade, ele nem sabia se conseguiria.

Chifuyu respirou fundo e esticou a mão na direção da cômoda em busca do celular, mas ao invés de tentar pegá-lo, acabou empurrando-o para o chão. Assim que ele resmungou um palavrão, a mãe abriu a porta com uma expressão desconfiada e disse:

— Você está atrasado...

Meu Deus, só ela pra vir se preocupar com isso numa hora dessas, pensou Chifuyu rendido ao mal humor tremendo causado pelo seu mal estar.

— Eu não...

— Não disse que tinha prova de matemática hoje?— o interrompeu com calma.— Lembro de você ter comentado que...

— MEU DEUS!!!— gritou Chifuyu pulando pra fora da cama.

Mesmo suando, tremendo e com a cabeça explodindo, ele trocou de roupa; vestiu mais blusas do que o normal para tentar suprir o frio e mesmo assim seguia tremendo mas não tinha o que fazer, aquela era uma prova decisiva e a professora era tão compreensiva quanto Takemichi quando jogavam suas "memórias" de um lado pro outro - o que aconteceu apenas uma vez por culpa de Draken e Mikey, mas Takemichi lembrava disso como se fosse ontem e sentia a dor e irritação toda vez.

Chifuyu pegou os materiais espalhados na escrivaninha e enfiou tudo de uma vez na mochila, nem prestou atenção se estava colocando o caderno certo ou se tinha pegado o estojo, nada daquilo importava. Ele já estava atrasado, com o corpo todo desregulado e a mente pior ainda. Quando ele passou pela mãe na porta - quase a atropelando - ela murmurou um "boa sorte", mas Chifuyu nem respondeu.

Com a mochila pendurada no ombro, ele foi ao banheiro, escovou os dentes e passou água no rosto. Nos cinco segundos que perdeu encarando o rosto abatido, percebeu que nenhuma água, produto ou qualquer maquiagem - que Emma, Hinata, Yuzuha e Senju falavam tanto - resolveria a sua situação hoje.

Chifuyu se apressou para sair do apartamento, e se apressou ainda mais para sair do prédio. Sequer se importou com a cabeça latejando ou o corpo suando; de qualquer forma, ele estava com frio. Mas enquanto ignorava sua situação deplorável, ele se perguntou se Baji tinha faltado ou se já tinha ido para o colégio sem ele e...não que eles precisassem ir juntos todos os dias, era apenas algo que acontecia e...não que Chifuyu estivesse ficando de cabelo em pé por conta disso, era só que...aquilo estava o matando por dentro. Baji e sua mania de nunca se importar com coisas mínimas estavam o matando por dentro e Chifuyu tentou pensar com calma e não ficar com raiva disso enquanto andava - quase correndo - para o colégio, mas durante todo o caminho, foi só nisso que ele pensou.

Ele apenas parou de pensar em Baji e todo o resto que vinha com o rosto dele quando sentou na sua carteira um segundo antes do sinal tocar. A professora entrou na sala sorrindo de orelha a orelha enquanto carregava seus papéis nos braços e Chifuyu suspirou de alívio. Apesar de quase ter perdido a hora e morrido no caminho, estava ali - hiperventilando, com a testa fervendo e o coração batendo freneticamente, mas ali - para fazer aquela maldita prova.

— Boa sorte a todos.— anunciou a professora depois de entregar as provas para todos os alunos.

Chifuyu passou a mão pela testa suada e encarou a primeira questão. Agora sim, ele queria morrer.

MELHORES AMIGOS - Bajifuyu  Onde histórias criam vida. Descubra agora