Capítulo 4 - Forte e Corajosa

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São exatamente 6 horas. O celular desperta e eu enrolo para levantar, hoje bateu a preguiça e o cansaço, tudo o que eu queria era apenas descansar mais e tirar o dia de folga, mas já no fim do semestre não seria possível.

Antes de levantar para escolher minha roupa e ir para o banho faço uma oração e medito em Josué 1:9, fixo na seguinte frase; ser forte e corajoso.

Suspiro com a bíblia em minhas mãos e começo a pensar em quando lemos essa passagem acaba que muitas vezes sendo um clichê, pois as pregações são quase sempre as mesmas, mas gosto de vê-la da seguinte maneira: ser forte no maior momento de fraqueza, no momento de maior dor, no momento em que nada vai como deveria ir, quando tudo esta por um fio, quando está chovendo e ao invés de olhar para o mar e ver o sol no horizonte, as ondas calmas, você vê o céu escuro, sem sol, trovões por todo o céu, chuva caindo como se fosse destruir a terra, o mar agitado, batendo sobre a costeira, derrubando arvores, invadindo ruas e mesmo assim ter a coragem de não abandonar o navio, ter a coragem de não pular da ponte achando que seria a solução, quando na verdade a solução é ser corajoso e esperar a tempestade findar para que no fim, você inspira e suspire dizendo "passou e eu venci".

Coloco a bíblia sobre a escrivaninha, arrumo a cama e abro uma das portas do guarda roupa, hoje teremos a apresentação de um seminário, coloco um vestido preto midi, mangas bufantes de tule, saia com um babado de pregas e meu clássico all star branco, coloco tudo em cima da cama e vou para o banho. Enquanto estou no banho começo a lembrar do Zen, e percebo que não é um bom sinal, estou pensando demais em alguém, isso era inédito pois nunca passei por isso, nunca me apaixonei, não sabia se esse era o jeito de começar a gostar de alguém, tenho um pouco de medo, a única coisa que tinha certeza é que sou extremamente apaixonada por Jesus.

Ao pentear os cabelos penso que já esteja na hora de voltar a ser morena, não consigo mais me olhar e ver todo esse loiro, talvez seja a hora de mudar, penso em mandar mensagem para Helena, para me ajudar na mudança, mas decido resolver isso depois da faculdade. Troco de roupa, coloco o tênis, pego minha mochila e a pasta para o seminário, me lembro que deixei a chave do carro encima da mesa da cozinha quando cheguei ontem a noite. Pego o celular que estava debaixo da almofada, quase esquecendo pois não peguei nele ontem desde que cheguei, vejo que tem a notificação e é do Zen, arrasto para baixo para ler.

(Zen Praia: Boa noite Raquel, espero que tenha chegado bem e que tenha um ótimo descanso, que Deus te abençoe e mais uma vez, muito obrigado por sua companhia.)

Uma mensagem sem emogi, até que achei normal, mas muito formal, decido seguir na mesma linha, ser formal, sem emogi, a pesar de que sou acostumada por conta da minha família e amigos, emogis representam muito quem somos em nossas expressões enquanto estamos escrevendo e conversar com alguém que não usa é realmente muito difícil de decifrá-la.

(Eu: Bom dia Zen, a paz do Senhor, eu que agradeço foi muito legal, eu adorei, tenha um ótimo dia, Deus te abençoe.)

Não penso demais se fui muito seca ou muito formal, apenas coloco o celular na bolsa e vou para a cozinha.

"Bom dia filha." – Daddy diz enquanto faz um café extra forte de capsula.

"Bom dia pai, o cheiro está bom ein." – Dou um beijo em sua bochecha direita antes de fazer um pão de forma.

"Quem é o amigo que você saiu ontem? Devo me preocupar?" – Ele pergunta sem ao menos respirar para falar.

"É claro que não pai, eu te conto se der tempo hoje no restaurante, eu vou sair mais cedo da faculdade porque tenho só uma apresentação do seminário."

"Tudo bem, sua mãe saiu mais cedo, ela teve que ir para Fored, não sei se chega para a janta."

Fored é uma cidade vizinha onde se localiza uma das editoras que minha mãe é responsável.

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