4. VOCÊ PODE CHORAR ATÉ A ÚLTIMA LÁGRIMA.

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A última chuva foi devastadora. Uma verdadeira tempestade; dizem que deixar as águas rolarem é essencial para processar os eventos ruins que acometem o ser humano, mas a última chuva veio como uma forte enxurrada para os Bridgertons, ao menos para um deles. Os dois viscondes inseparáveis estavam cavalgando pelo bosque da cidade quando tudo começou; o que se especula é que o visconde vindo do Brasil sofreu um grave acidente ao cair de seu cavalo. O animal havia assustando-se com o barulho dos trovões e arremessado o jovem visconde para dentro do rio, o mesmo tentou salvar-se, mas as correntezas dos rios eram tão fortes quanto as correntezas dos rumores de que ele e Anthony Bridgerton compartilhavam algo em comum que a alta sociedade não aprovava. O visconde Bridgerton foi avistado carregando com seu amigo em seus braços, cruzou o centro da cidade desesperado gritando por ajuda; um médico foi até a mansão do visconde e o último rumor é que o visconde brasileiro passa bem, porém, acamado.

Lady whistledown.

Anthony passou três dias de pura agonia, a contabilidade parecia um pesadelo, não parava de pensar em Gabriel e no seu bem estar, visitava-o todos os dias e lia algumas poesias. Quando o visconde acordou, Anthony finalmente sentiu a paz invadir seu coração; ele correu desesperadamente de seu escritório e foi ao encontro de seu amor, chegando lá não pôde conter suas lágrimas, debruçou-se sobre seu amado e chorou de felicidade, sem perceber que sua mãe os observava a distância.

— Anthony, querido, acredito que o visconde queira descansar. — ela disse.

— Estou bem, Sra. Bridgerton — Gabriel voltou o olhar para o visconde — mas creio que vossa graça tenha muito trabalho para tratar.

— Os trabalhos podem esperar um pouco. Mas lhe darei espaço para que descanse melhor. — Anthony sorriu, levantou-se da cama e saiu do quarto sem tirar os olhos do amado.

Anthony saiu em disparada pelo corredor e sua mãe o seguiu. — Anthony! Precisamos conversar.

— A contabilidade, mamãe. — respondeu vagamente.

— Se ela pode esperar pelo visconde, então, poderá esperar por mim também. — Anthony concordou e os dois seguiram juntos até uma sala reservada. — Anthony, precisamos conversar sobre você e o visconde, e sobre o que a alta sociedade diz por aí.

— Não me importo com a alta sociedade, mamãe. Gabriel é meu melhor amigo, é normal a forma como me sinto, é normal que andemos juntos, ele é um cara incrível.

— Eu sei meu amor, eu tenho uma admiração enorme pelo visconde, mas da mesma forma que em quase dez dias vocês se tornaram melhores amigos, outros sentimentos também podem chegar.

— Do que está falando? — Anthony ruborizou-se.

— Anthony eu não sou cega, muito menos tola. Eu sei que você não irá olhar nos meus olhos e mentir para mim.

— Mentir sobre o quê?

— Que está apaixonado pelo visconde. Que nos últimos dias vocês têm ficado juntos.

Anthony ficou sem reação, ele não esperava que sua mãe fosse tão direta, na verdade, ele imaginava que no fundo ela sabia, mas nunca diria nada. Como responder a isso? Como reagir a isso? Ele não sabia. Sua respiração começou a falhar, o suor frio escorria pela sua testa e seu corpo tremia por completo. Sua mãe percebeu todos os sinais e tentou acalmar o filho:

— Querido, está tudo bem! Eu não consigo entender como um homem pode amar outro homem da mesma forma que deveria amar uma mulher, juro, tentei entender, nunca havia conhecido algo assim. Mas Anthony, não controlamos o amor; o amor não é algo que eu posso chegar e escolher para quem vou dar, ou, quem irá despertá-lo. Você sempre viveu tão rígido e fechado, como se não merecesse ser feliz, privou-se disso. De repente o visconde chegou e eu comecei a pegar você sorrindo pelos cantos da casa, gargalhando, feliz! Parecia muito com o tempo em que seu pai estava vivo, então eu pensei, o que faria alguém voltar a vida tão depressa assim?! O amor! Somente o amor! E por mais que eu não entendesse, e sim eu tenho medo do que isso pode se tornar, eu fiquei muito feliz com a forma que o visconde te traz à vida.

Se minhas asas pudessem voarOnde histórias criam vida. Descubra agora